Crítica: Bliss – Em Busca da Felicidade | Amazon Prime
Ficção estrelada por Owen Wilson e Salma Hayek soa como um derivado ruim de um episódio de "Black Mirror"
Obs: Texto com spoilers.
Me perdoe o palavreado, mas vou fazer uma analogia esdrúxula. “Bliss – Em Busca da Felicidade” é como se fosse aquela vontade fervorosa de fazer sexo, tudo já está organizado para o momento, mas na hora do ato você não consegue ficar excitado. Não tem ereção. Broxa. Isso é justamente a definição da experiência de assistir “Bliss”, este drama/ficção estrelado por Owen Wilson e Salma Hayek e que entrou recentemente no Amazon Prime Video.
Depois que a série “Black Mirror” ganhou o mundo com suas tramas de ficção futurísticas mas que serviam de análise, e crítica, para o nosso relacionamento com a tecnologia, atualmente é impossível não fazer comparação com filmes como este que parecem um episódio estendido do seriado. Mas se até “Black Mirror” perdeu o tato na última temporada, “Bliss” seria um desses episódios capengas, confusos e mal construídos que se implodem nas intenções e tudo soa um desperdício de potencial.
Na trama, Greg (Wilson) é um homem divorciado que tem sua vida transformada quando conhece uma mulher misteriosa chamada Isabel (Rayek). Ela afirma que o mundo onde vivem não passa de uma simulação tecnológica e que ninguém e nada ali é real.
Não quero entregar muito, mas a trama trabalha essa ideia de real e não real, ao mesmo tempo em que constrói uma crítica sobre o comportamento humano com o mundo ao seu redor, com a natureza e os recursos do planeta, enfatizando como somos destrutivos e precisamos, por causa disso, vivenciar o ruim para valorizar o que é bom. Partindo desta ideia foi que a personagem de Salma Hayek, uma doutora e pesquisadora científica, cria uma máquina capaz de colocar as pessoas em um mundo virtual, mas todo ele corroído por problemas sociais e desigualdade – ou seja, o nosso mundo – já que em seu “mundo real” as pessoas encontraram equilíbrio e todas vivem uma vida rica e próspera devido à exploração de meteoros. Mas para elas não estragarem a qualidade de vida em que vivem, seu plano é fazê-las vivenciar os problemas cotidianos da nossa humanidade nesta máquina chamada “Bliss” (cuja tradução é ‘felicidade’).
O potencial da história de “Bliss” é muito grande – apesar de sua inocência em achar que dar muito dinheiro para todos o mundo seria um lugar melhor (se você acredita nisso, me desculpa, mas você está errado). No mundo há bilhões de pessoas, cada uma com vivências, desejos e intenções distintas, e cada ser humano usa o dinheiro de um jeito completamente diferente do outro. Temos pessoas equilibradas, outras que gastam sem um mínimo de planejamento. Sem falar da ambição humana de sobrepor ao outro e tirar vantagem. Ou seja, encher a conta de todos com milhões só oferece uma ilusão de melhora porque, mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social prevalece novamente.
Mas o roteiro tem direito em imaginar essa utopia e criar uma história cuja mensagem seja valorizar o que temos e saber cuidar do nosso mundo. Mas o texto de Mike Cahil (também diretor do filme) é tão sem foco, e direção, de até onde quer chegar que temos uma obra confusa, ligeira em construir suas relações emocionais e que se perde em um final sem eira nem beira. A maneira como Cahil estabelece os dois mundos é frágil e desorganizado.
Infelizmente, “Bliss” é uma oportunidade perdida de um bom material. Especialmente com dois atores carismáticos que gosto bastante. Owen Wilson não sai mundo daquele seu estilo vida boa, mas aqui seu personagem traz uma dramaticidade maior do que outros de sua carreira. E Hayek é linda e talentosa e carecia de um filme melhor.
Bliss/EUA – 2021
Dirigido por: Mike Cahil
Com: Owen Wilson, Salma Hayek, Nesta Cooper…
Sinopse: Greg (Owen Wilson) é um homem divorciado que vê sua vida toda mudar quando conhece Isabel (Salma Hayek). Ela afirma que o mundo onde vivem não passa de uma simulação tecnológica e que ninguém além deles é real. Aos poucos, Greg passa a acreditar em Isabel.