Cinema

Crítica: Silenciadas | Netflix

O longa utiliza uma época de opressão e dominação da igreja, e do homem branco, para criar uma trama de protesto e poder feminino

(Foto: Reprodução/Netflix)

“Silenciadas” é ambientado na Espanha no ano de 1609. Uma época onde a igreja católica dominava e se sentia ameaçada por lendas pagãs e antigas tradições. Acusavam mulheres que exercessem qualquer comportamento ‘diferente’ de bruxas, e muitas eram queimadas em fogueiras como punição.

Na trama, um juiz da Inquisição Espanhola, chamado Rostegui, é escolhido pelo rei Felipe III para purificar as cidades. Obcecado em revelar os segredos da festa do Sabbath – supostamente um ritual de louvor ao diabo – Rostegui prende em um vilarejo um grupo de cinco meninas acusadas de bruxaria. Ana, Olaia, María, Maider e Katalin são submetidas à tortura até confessarem o ‘crime’ e revelarem como é realizado o Sabbath. Mas tudo muda quando elas decidem agir ousadamente dando razão e ênfase às acusações do juiz para conseguir uma oportunidade de escape.

Dirigido por Pablo Agüero e distribuído pela Netflix, “Silenciadas” é adaptado do livro “A Feiticeira”, de Jules Michelet, e baseado ligeiramente em acontecimentos reais. O longa utiliza uma época de opressão e dominação da igreja, e do homem branco, para criar uma trama de protesto e poder feminino. As meninas não ficam paradas esperando o destino, mas usam o poder astuto do discurso, e da narrativa reversa, para fomentarem uma história que só revela o imenso machismo, domínio cego e opressor da religião.

“Silenciadas” é um filme visualmente belíssimo. O final simbólico é uma pintura singular, e um momento marcante como só o cinema é capaz de proporcionar. As atuações são excepcionais e o roteiro nos coloca imersos neste mundo angustiante e desesperador de uma época onde a igreja ditava as regras.

Minha ressalva fica para com a péssima edição que estraga muitos momentos com cortes exageradamente rápidos e frenéticos sem necessidade. Temos cenas onde personagens estão apenas conversando e cada take dura um segundo com saltos ligeiros para cada ator em cena. Fica exaustivo e desgastante.

Mas em sua soma geral, “Silenciadas” é um drama poderoso que nos faz refletir como a humanidade já passou por um período tão opressor e desumano. E como estamos hoje passando por uma época parecida – ainda que em um contexto social moderno e bem diferente de séculos atrás -, porém, também com poderosos e religiosos e suas tentativas de diminuir a voz de grupos menos favorecidos. Recomendado!

Akelarre/ESPANHA, ARGENTINA – 2021

Dirigido por: Pablo Agüero

Com: Amaia Aberasturi, Alex Brandemühl, Daniel Fanego…

Sinopse: Em meio à vida simples de pescadores e os ritos bascos das mulheres em suas celebrações, a chegada de um emissário do rei com a acusação de bruxaria irá sentenciar o destino de um grupo de mulheres.