Crítica: Um Príncipe em Nova York 2 | Amazon Prime
Volto a repetir: comédia é o gênero mais relativo que existe. Particularmente, amo humor físico…
Volto a repetir: comédia é o gênero mais relativo que existe. Particularmente, amo humor físico e besteirol, mas com sagacidade e inteligência, como aquele feito por Jim Carrey, Chaplin e Rowan Atkinson, por exemplo. Mas também amo humor pesado, ácido e provocativo, como o realizado por Sacha Baron Cohen, Ricky Gervais e o próprio Eddie Murphy em seus tempos de ouro na década de 80.
“Um Príncipe em Nova York”, lançado em 1988, se tornou um dos maiores sucesso da carreira de Murphy e continua até hoje como um dos filmes mais queridos do ator. E com razão. Ao colocar um príncipe africano bilionário em meio à uma Nova York suja, agitada e problemática, o longa é um deleite e pura diversão com o protagonista no papel de um “estranho no ninho”. O contraste de culturas favorece um roteiro habilidoso e singelo, com momentos sutis e cheios de coração.
Obviamente, “Um Príncipe em Nova York” é um representação fantástica e exagerada da cultura africana. Não pode ser tido como documento fidedigno, e a criação de um país fictício, o reino de Zamunda, serve justamente para reforçar tal ideia. Ser exagerado é algo essencial em comédias, e comum para fortalecer não apenas pontos de vista, estereótipos e comportamentos humanos, mas utilizar isto justamente para enxergar o mundo à partir de um olhar mais cínico, crítico, mas não menos analítico. Além, claro, de servir para divertir.
Portanto, como fazer uma comédia 33 anos depois do original sem ofender o mundo atual tão possuído pelo politicamente correto? “Um Príncipe em Nova York 2” se rende ao correto, e se mostra mais cuidadoso com onde pisar. No entanto, particularmente, continua sendo um filme que respeita o antecessor e utiliza a nostalgia para trabalhar à seu favor.
No primeiro longa, Eddie Murphy era um sujeito que enfrentava as políticas de casamento e culturais de seu país para viver um verdadeiro amor, e não algo arranjado. Já neste segundo, ele se torna rei e acaba sobreposto pelas imposições culturais. Se torna igual ao pai (James Earl Jones) e é vencido por rotinas e dogmas culturais retrógrados. Achei a abordagem interessante por mostrar que, sim, infelizmente, estamos sujeitos a repetir erros do passado e ser vencidos pelo sistema, e o tempo.
Mas daí entro em minhas ressalvas. Não entendo a necessidade de continuações tardias como esta focar em filhos do personagem principal, sendo que o público está interessado em assistir o protagonista original, e não suas crias desinteressantes. “Um Príncipe em Nova York 2” perde tempo demais com o personagem Lavelle, o filho bastardo de rei Akeem (Murphy), que mora em Nova York. Jermaine Fowler é um ator carismático, é simpático, mas não tem talento cômico para segurar momentos de comédia. O que tira um pouco da graça e do foco em Eddie Murphy, que cá entre nós, é o motivo pelo qual estamos vendo o filme.
Apesar das ressalvas, “Um Príncipe em Nova York 2” é uma deliciosa revisita à um mundo divertido e gratificante. Rever Murphy em seus diferentes papéis é engraçado e pura nostalgia. Não supera o primeiro, mas consegue, sim, manter a graça do original. Disponível no Amazon Prime Video.
Coming 2 America/EUA – 2021
Dirigido por: Craig Brewer, John Landis
Com: Eddie Murphy, Arsenio Hall, Leslie Jones, Jermaine Fowler…
Sinopse: Em Um Príncipe em Nova York 2, no luxuoso país da realeza de Zamunda, o recém-coroado Rei Akeem (Eddie Murphy) descobre que tem um filho que ele não conhece e que pode ser herdeiro do trono — apesar do nobre já uma filha preparada para assumir o governo. Na produção do Amazon Prime Video, Akeem e seu confidente Semmi (Arsenio Hall) embarcam em uma hilária jornada que os levará ao redor do mundo: de sua grande nação africana, de volta ao Queens, bairro de Nova York.