Música

Com ‘Azul Anil’, Nila Branco se afasta ainda mais do pop-rock e abraça sua aura ‘cool’

A cantora, tradicional na cena musical de Goiânia, faz o lançamento do disco nesta terça-feira (26) em show no Teatro Sesi

Nesta terça-feira (26), no Teatro Sesi, às 20h, Nila Branco lança oficialmente seu oitavo disco, Azul Anil. Um projeto que se assemelha ao seu antecessor, Sete Mil Vezes, em sonoridade. Mais uma vez, a cantora abraçou sua veia mais MPB e se afastou do pop-rock que a lançou no cenário nacional como a garota que “esta noite quer ir mais além” em 2002.

Os dois trabalhos, entretanto, se divergem em alguns pontos. “O Sete Mil Vezes tinha referências regionais. Usei muito bandolim e baixo acústico. Neste CD, introduzi um pouco a guitarra, que estava meio sumida dos meus últimos trabalhos”, explica Nila. O instrumento roqueiro tinha sido abolido dos discos, mas saiu do limbo e foi resgatado. De maneira ponderada, “para que não soasse tão diferente dos outros álbuns”.

“São fases, né? Eu não sou roqueira. Sou uma pessoa que gosta de variados estilos de música”, sublinha Nila Branco. Ela explica que sua influência do rock veio de seus irmãos mais velhos. Entretanto, relembra que na época do lançamento de Diversão, havia ainda um forte movimento pop-rock nas cenas nacional e internacional, que destacava mulheres com guitarra: Alanis Morrissette, Sheryl Crow, e Avril Lavigne.

Fim do primeiro flashback.

“Eu sou a pura cor”

Azul Anil tem a ver com uma fase que eu estou passando”, disse ela, que, no dia da entrevista, estava azul até nos cabelos. “Apesar de trabalhando muito, tento ficar zen. É um disco calmo. Busquei isso internamente e isso acabou se refletindo no repertório que escolhi pra cantar”, completa.

E, aliás, não há nenhuma música da tracklist que faz uma referência direta ao nome do disco, que veio da preferência de Nila pela cor. “Pesquisei sobre e na busca apareceu um texto que contava a história azul. O autor contou que o nome “azul” vem do sânscrito e significa Nila”, diz ela. “Eu sou a pura cor”.

Apesar de ser um disco que tem tudo da cantora, em Azul Anil Nila assina apenas umas das 11 faixas: Com Açúcar, Sem Engano. Ela explica que não se vê tanto como uma compositora, e sim como uma intérprete. “Acho que meu papel mais importante é achar músicas boas para eu cantar, que vão dizer alguma coisa e que minha voz possa acrescentar”, diz. “Tenho planos de um dia lançar um CD autoral, mas também não é uma obrigação que eu tenho”, completa.

Nila reforça que recebe muitas composições de artistas do país todo. E foi futricando nos arquivos de “recebidos” que ela encontrou o repertório do disco. “Eu sempre ouço, presto atenção e vou fazendo uma seleção no meu computador”, afirma. Depois de tudo devidamente marcado, ela e o seu produtor, Leandro Carvalho, escolhem as favoritas, veem como as faixas ficam na sua voz, e partem para a gravação.

Não tem Conga, mas tem rap

Em Sete Mil Vezes, Nila ousou ao trazer para o repertório um cover de Conga Conga Conga, hit da cantora Gretchen. Branco desconstruiu toda a lambada o brega (no melhor sentido da palavra) da faixa e a transformou em uma canção cool, com uma pitadinha de jazz e de MPB.

Em Azul Anil não tem nada parecido. Entretanto, a ousadia veio com Cuidado, o primeiro rap de sua carreira. “Eu gosto de experimentar. Quando levei a música para ensaiar com a banda no estúdio todos ficaram em dúvida, mas eu insisti: ‘vamos tentar’”, conta.

“A letra tem a ver comigo, com o que eu penso da vida. E com o momento atual da nossa sociedade. Achei que a música poderia quebrar o romantismo do CD e trazer uma Nila cidadã”, disse. A cantora salienta ainda que pode não falar muito sobre política, mas está observando e fazendo no que ela chama de “atitudes políticas”, como discutir propostas e assinar petições.

“No Brasil, somos incentivados não fazer aquilo que gostamos”

Alguns anos antes de ser a mulher que “esta noite quer ir mais além”, Nila já havia traçado seus primeiros passos na cena musical independente de Goiânia. Foi aqui que ela lançou seu primeiro disco, autointitulado, em 1998. Quatro anos depois, veio o sucessor, Parte II, também lançado de forma independente, com os sucessos Chama e Diversão. Posteriormente, a Abril Music comprou o disco e fez toda a sua distribuição.

Foi só no quarto disco, Tudo Que Eu Quis, que Nila assinou com uma gravadora, a EMI. A parceria corporativa que ficou apenas neste trabalho e logo a cantora voltou a lançar música de forma independente, apesar de reconhecer que cuidar do seu próprio disco tem lá suas vantagens criativas e exige muito mais suor, viver de arte no Brasil não é tarefa fácil.

“Arte no Brasil, em geral, é muito complicada. Não é fácil viver de música e os espaços são poucos para muita gente talentosa”, salienta. “Goiânia, por exemplo, é cheia de excelentes compositores, gente com personalidade. Sempre penso que vou ter que ‘rebolar’ muito para manter um nível com essa galera que está chegando”, brinca.

Segundo ela, a trajetória toda só fica mais fácil para artistas que já estão no mainstream e tem suporte e “leis de incentivo”. “No geral, tem muita gente boa lutando por pequenos espaços. No Brasil, a gente é incentivado a não fazer aquilo que gostamos. Mas eu envergo, mas não quebro”, brada.

Em 20 anos de carreira, Nila conta que muitas vezes já pensou em parar de cantar pelos obstáculos (como os citados acima) que enfrentou no meio do caminho. “Eu percebia depois que não deveria parar de fazer algo que gosto tanto de fazer. Qualquer profissão tem suas intempéries e dificuldades, as fases boas e não tão boas. O sucesso é sazonal e interior. Você deve ficar feliz e satisfeito com o que faz”, reflete.

Fim do segundo flashback.

Inicia-se a era Azul Anil

Para o novo disco, claro, Nila Branco preparou um novo show, com cenário do arquiteto e designer goiano Léo Romano, direção artística de Ana Christina da Rocha Lima e figurino de Su Martins. Assim como na turnê do Sete Mil Vezes, o concerto será voltado para teatros, então deverá ser bem mais contido.

“Não será um show movimentado”, reforça Nila. Entretanto, salienta ela, não será muito similar com a turnê anterior. A diferença se dará principalmente pela volta da guitarra e a mudança de alguns instrumentos, o que construirá uma nova atmosfera.

Um show que refletirá a nova Nila. A cantora, porém, não descarta voltar a ser a pop-roqueira do início dos anos 2000. “Depende de como eu esteja por dentro. Se me der vontade, não tem nada que vá me impedir de fazer isso”, brinca.

O disco Azul Anil está disponível em todas as plataformas digitais, ao lado do Sete Mil Vezes e os outros dois registros ao vivo da cantora. Segundo ela, a falta de disponibilidade dos outros trabalhos no streaming é “uma falha que eu preciso corrigir”. “Cada CD está em um lugar, uma gravadora, uma distribuidora. E nem todos aderiram ao digital”, explica. Vamos aguardar.

Serviço

Lançamento do álbum ‘Azul Anil’, de Nila Branco

Data: 26/06
Local: Teatro Sesi (Avenida João Leite, 1013 – Setor Santa Genoveva)
Horário: 20h
Ingressos: Doação de 2kg de alimentos não perecíveis ou um livro
Classificação etária: 10 anos
Capacidade: 600 lugares