CULTURA

Coronavírus: séries e novelas se planejam para levar pandemia às tramas

O movimento do “Saturday Night Live” não é isolado: Jimmy Fallon e Stephen Colbert estão…

O movimento do “Saturday Night Live” não é isolado: Jimmy Fallon e Stephen Colbert estão entre os que levaram seus programas para dentro de casa — o último, com direito a uma entrada triunfal de sua banheira.

Outros dois populares apresentadores de talk show, Seth Meyers e John Oliver, ambos sem terno e de casa, desabafaram em uma videoconferência sobre o alívio de ter filhos pequenos demais para entenderem a gravidade do que estava acontecendo.

Também em quarentena, de moletom e sentada em posição de lótus em sua espaçosa sala, Ellen DeGeneres discutiu ações contra o vírus com convidados à distância, como o governador da Califórnia, Gavin Newsom. E, enquanto revíamos o Penta, a TV alemã transmitia aquilo que nenhum brasileiro quer ver de novo: a Copa do Brasil em 2014.

Nos Estados Unidos, a pandemia chegou enquanto empresas tradicionais de TV se preparavam para a “guerra do streaming”, lançando suas próprias plataformas de conteúdo.

A NBC esperava estrear o seu serviço, Peacock, junto com a Olimpíada de Tóquio, cancelada diante da pandemia. Infectado pelo coronavírus em março, o CEO da NBCUniversal, Jeff Shell, anunciou que a estreia da plataforma está confirmada para 15 de julho no país, mesmo sem o chamariz da programação esportiva.

“Nós estamos trabalhando para retomar as atividades assim que possível, mas claro que não enquanto não for seguro”, afirmou Shell em um e-mail a funcionários obtido pelo “Los Angeles Times”.

Além de produções de TV e cinema paradas, o conglomerado de mídia também precisou fechar seus parques temáticos.

Do limão, a limonada

Por aqui, Gregório Duvivier apresenta o “Greg News”, na HBO, da casa de sua mãe. E Fábio Porchat, que teve que pausar as gravações do programa do GNT “Que história é essa, Porchat?”, lançou no Instagram a live “Que história é essa, vovó?”, numa iniciativa para motivar idosos confinados em casa, com participações que incluem Mauricio de Sousa, de 84 anos, Aracy Balabanian, 80, e Gilberto Gil, 77.

— O que as pessoas estão fazendo é: já que não temos a superprodução, vamos fazer propositalmente de forma tosca para mostrar que estamos tentando. Como não posso fazer com a produção mega, faço com nada de produção e brinco com isso — afirma Porchat.

O quadro dele faz parte das iniciativas do Porta dos Fundos. Até agora, a produtora de humor contabiliza 8 milhões de visualizações em seus conteúdos on-line sobre a quarentena. Somente no Instagram, o crescimento é de 285% em relação ao período anterior ao isolamento social.

Já Marcelo Adnet recorreu ao streaming. Integrante do “Fora de hora”, outra atração pausada da Globo, o comediante estreou no Globoplay o miniprograma “Sinta-se em casa”, espécie de diário da quarentena no qual, com vídeos curtos, ele comenta os acontecimentos do dia anterior.

— O humor passa por uma reinvenção, e sobrevive bem, porque não precisa de muita produção, como o drama. — considera Adnet. — Já que o humor é exagero, a gente embarca mesmo quando ele é feito fora de um ambiente controlado.

De fato, apostar no improviso não é o ideal para séries e novelas, que pararam gravações por tempo indeterminado. Por ora, autores seguem escrevendo de casa e refletindo sobre o impacto da Covid-19.

Na série médica da TV Globo “Sob pressão”, há a intenção de incluir o coronavírus na trama. Já Manuela Dias, autora da novela das 21h, “Amor de mãe”, pretende comentar o assunto através de Davi, o ambientalista vivido por Vladimir Brichta, que falará sobre uma “possibilidade de pandemia”.

— Pensei muito sobre se deixaria a Covid-19 entrar na novela. Por um lado, existe uma curiosidade de como os personagens se virariam na quarentena, mas acho que o vírus iria sequestrar a novela. Em vez de procurar Domênico, Lurdes estaria trancada tentando não pegar o coronavírus — pondera Manuela.

Para o professor de Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) João Martins Ladeira, o coronavírus acelerou mudanças que já atravessavam as mídias, como a maior atenção ao streaming e a necessidade de repensar modelos de negócio.

— É curioso observar programas de televisão adotarem uma estética que mais se assemelha às produções de canais do YouTube. Mas essa é uma transformação pontual, que pode ser revertida assim que as limitações de convívio social forem suspensas. O que talvez importe é a transformação em curso no audiovisual, que passa pela proliferação das plataformas de streaming como alternativa indispensável.

A avaliação do diretor de Criação e Produção de Conteúdo da Globo, Carlos Henrique Schroder, é semelhante:

— Não acreditamos que seja a TV se aproximando da linguagem da internet. Até porque a própria internet tem se profissionalizado ao longo dos anos. O que acreditamos é que a linguagem audiovisual se complementa em várias plataformas e esse é um caminho sem volta.