Adeus

Corpo de Jô Soares será cremado em Mauá, cidade na região metropolitana de São Paulo

Apresentador, que morreu nesta sexta-feira, foi velado em cerimônia restrita a amigos e familiares; ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde o fim do mês passado

Foto: Divulgação - Globo

O corpo do ator, escritor e diretor Jô Soares, que morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 84 anos, será cremado em Mauá, cidade da região metropolitana de São Paulo. O humorista foi velado em uma cerimônia para familiares e amigos. O apresentador estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde 28 de julho deste ano para tratar uma pneumonia. Ex-esposa do artista, Flavia Pedra Soares disse que ele estava “cercado de amor e cuidados” e informou que o funeral será restrito para família e amigos próximos.

Compareceram ao velório, entre outros, o apresentador Serginnho Groismann, o médico Drauzio Varella, atriz Regina Braga, o jornalista Tiago Leitert, o historiador Leandro Karnal, o filósofo Mário Sério Cortella, o editor Luiz Schwarcz e a antropóloga Lilia Moritz Schwarz. Com lágrimas nos olhos, o ator Dan Stulbach disse que “Jô foi o mais próximo que eu conheci de um gênio”.

“Aqueles que através dos seus mais de 60 anos de carreira tenham se divertido com seus personagens, repetido seus bordões, sorrido com a inteligência afiada desse vocacionado comediante, celebrem, façam um brinde à sua vida. A vida de um cara apaixonado pelo país aonde nasceu e escolheu viver, para tentar transformar, através do riso, num lugar melhor”, escreveu Flavia.

E continuou: “Viva você meu Bitiko, Bolota, Miudeza, Bichinho, Porcaria, Gorducho. Você é orgulho pra todo mundo que compartilhou de alguma forma a vida com você. Agradeço aos senhores Tempo e Espaço, por terem me dado a sorte de deixar nossas vidas se cruzarem. Obrigada pelas risadas de dar asma, por nossas casas do meu jeito, pelas viagens aos lugares mais chiques e mais mequetrefes, pela quantidade de filmes, que você achava uma sorte eu não lembrar pra ver de novo, e pela quantidade indecente de sorvete que a gente tomou assistindo. Obrigada para sempre, pelas alegrias e também pelos sofrimentos que nos causamos. Até esses nos fizeram mais e melhores. Amor eterno, sua, Bitika”.

Nascido José Eugênio Soares, Jô nasceu em 16 de janeiro de 1938, no Rio de Janeiro. Começou a carreira artística em 1958, no filme “O Homem do Sputinik”, dirigido por Carlos Manga e estrelado por Oscarito. No mesmo ano, atuou no roteiro de “TV Mistério”, programa da TV Continental com Paulo Autran e Tônia Carrero no elenco. Concomitantemente à Continental, trabalhou na TV Rio e TV Tupi, as principais emissoras cariocas da época. Bateu ponto também como produtor da TV Excelsior e TV Record.

Chegou às casas de todos os brasileiros como humorista em “A família trapo”, programa exibido em 1966 pela TV Record. Daí em diante, começou uma sucessão de programas de comédia de sucesso. Em 1970, foi para a Globo e estrelou “Faça Humor, Não Faça a Guerra”, com quadros curtos e piadas rápidas. Foi neste programa que apareceram os personagens Lelé & Dakuca, de Jô e Renato Corte Real, dois homens que cavalgavam em cavalinhos de pau e falavam coisas nonsenses. O programa ficou cerca de quatro anos no ar.

Logo depois, Jô foi fazer história em “Planeta dos homens”, no ar de 1976 e 1982, com Jô no grupo de redatores e atores até 1981. O programa fazia troça com os costumes da sociedade da época e debochava da TV e do rádio. É neste programa que aparecem Evaristo, o funcionário público que não se responsabilizava por nada e dizia “não me comprometa!”, Dr. Sardinha, sátira do economista e ministro Delfim Netto.

Em 1981, já no panteão dos maiores humoristas do Brasil, Jô ganha um programa para chamar de seu: “Viva o gordo”. Na lista de personagens inesquecíveis, entra o Capitão Gay, que salvava os fracos e oprimidos e escondia sob o disfarce de um homem de negocios, o Reizinho, o monarco egocêntrico e indeciso, e o Zé da Galera, torcedor fanático da Seleção Brasileira, que dava pitacos no esquema tático de do técnico Telê Santana com o berro “Bota ponta, Telê!”. É no “Viva o gordo” que também surge a Vovó Naná, a senhorinha que tentava de tudo para conseguir um emprego na TV, e o mafioso Dom Casqueta, que sente dificuldades de cometer crimes no Brasil por causa da desorganização nacional.

“O meu humor tem sempre um fundo político, sempre tem uma observação do cotidiano do Brasil. Os meus personagens são muito mais baseados no lado psicológico e no social do que na caricatura pura e simples”, disse o artista ao projeto Memória Globo.

Depois de tantos anos na comédia, ele iniciou a carreira como apresentador no SBT, com o programa “Jô Soares Onze e Meia”, que foi ao ar entre 1988 e 1999. Logo em seguida, em 2000, estreou, na TV Globo, o talk-show “Programa do Jô”, que ficou no ar por 16 anos.

Paralelamente ao trabalho na TV, Jô atuou em mais de 20 filmes, dirigiu inúmeras peças de teatro e escreveu oito livros, tornando-se um celebrado autor de romances policiais. Dentre os mais famosos estão “Xangô de Baker Street” e “O homem que matou Getúlio Vargas” (Companhia das Letras). Em 2017 e 2018, publicou, com Matinas Suzuki Jr os dois volumes de “Autobiografia Desautorizada: O livro de Jô”.

Em 2017, venceu o prêmio Faz Diferença, do GLOBO, na categoria Segundo Caderno/TV. Na época, disse:

—São anos e anos de trabalho, são 58 anos de profissão, tanto em TV como em teatro, cinema e artes plásticas. E o conjunto da obra me deixa muito satisfeito.

Jô preparava seu retorno aos palcos para o dia 9 de setembro com a peça “À Meia Luz” (“Gas light”), escrita pelo inglês Patrick Hamilton e adaptada para o cinema em 1940. A apresentação aconteceria no Teatro Procópio Ferreira. A história gira em torno de um homem que controla uma mulher fazendo com que ela duvide de suas faculdades mentais ao abaixar as luzes da casa.