Crítica: 007 Contra Spectre (2015) – Especial James Bond
Longa-metragem foi novamente dirigido por Sam Mendes
Com “007 – Operação Skyfall”, o diretor Sam Mendes e o ator Daniel Craig alcançaram um nível de qualidade memorável ao entregar um filme de James Bond perfeito, com um vilão marcante, uma trama emocional intrínseca na trajetória do personagem, e também um equilíbrio notável entre o atual Bond com elementos que o tornaram o agente tão aclamado ao longo dos anos. Superar isto seria complicado e “007 Contra Spectre” passa longe de tal feito.
Falei em minha crítica de “Cassino Royale” que após o lançamento de “A Identidade Bourne” o cinema de ação hollywoodiano ganhou nova vida. O próprio 007 abraçou a ideia e se desvencilhou dos apetrechos exagerados e do tom lúdico, e infantil, das aventuras anteriores. Já “Skyfall” resgatou os apetrechos e outros personagens clássicos do passado como o Agente Q e Moneypenny, mas ainda assim, se mantém um filme coeso em seriedade e urgência, e completamente equilibrado entre as pontes do antigo com o novo.
Já “Spectre” é o mais ‘James Bond antigo’ dos atuais filmes da franquia. Ele resgata o arqui-inimigo clássico do personagem, o vilão Blofeld (Christoph Waltz), e também a organização que dá nome ao filme – que é responsável por muitos dos problemas vivenciados por Bond. O enredo já coloca uma única pessoa como a responsável por todos os vilões e artimanhas das obras anteriores – alguém que estava nas sombras articulando as amarras. Também temos a base do vilão isolada no deserto e construída no local de queda de um meteorito (que, aliás, ganha uma sala exclusiva para exibição), e outras pequenas resoluções que estabelece Blofeld como o líder que domina governos, tecnologia, etc.
Apesar do filme abraçar com muito mais força esta pieguice clássica dos filmes antigos, e forçar a barra em muitos momentos para conectar “Spectre” com os outros três longas, ainda assim, a condução de Sam Mendes é importante por manter a sobriedade e impedir que a obra caia totalmente na galhofa. Muitas cenas de ação são competentes e bem filmadas e, como de costume, Daniel Craig não faz feio como Bond.
Desta vez, o roteiro quer levar adiante o legado de Bond, que sempre foi um sujeito violento e que perdeu todas as pessoas com quem criou laços, e “Spectre” quer humanizar esta imagem tornando-o complacente e empático. Em minha opinião, o Bond de Craig sempre teve estas características, mas seu trabalho exigia alguém voraz e desprovido muitas vezes de coração para agir com a razão. Entendo a intenção do enredo em buscar diminuir a violência do personagem, mas após passar duas horas e meia tentando matar o vilão para no ato final lhe acometer uma ‘crise de humanidade’ é diminuir muito a imagem deste James Bond interpretado por Craig – principalmente quando minutos antes ele não hesitou em mirar bem na cara do indivíduo que estaria morto se não fosse por um vidro blindado. Enfim…
“007 Contra Spectre” não é ruim e possui muitos momentos visualmente lindos e algumas sequências de ação empolgantes. Pode não ser o mais memorável da safra Daniel Craig, mas pieguice por pieguice, prefiro esta do que a caricatura exagerada dos filmes antigos.
Spectre/EUA, REINO UNIDO – 2015
Dirigido por: Sam Mendes
Com: Daniel Craig, Christoph Waltz, Ralph Fiennes, Léa Seydoux, Naomie Harris…
Sinopse: James Bond (Daniel Craig) vai à Cidade do México com a tarefa de eliminar Marco Sciarra (Alessandro Cremona), sem que seu chefe, M (Ralph Fiennes), tenha conhecimento. Isto faz com que Bond seja suspenso temporariamente de suas atividades e que Q (Ben Whishaw) instale em seu sangue um localizador, que permite que o governo britânico saiba sempre em que parte do planeta ele está. Apesar disto, Bond conta com a ajuda de seus colegas na organização para que possa prosseguir em sua investigação pessoal sobre a misteriosa organização chamada Spectre.