Crítica: A Chorona – É Impossível Fugir do Passado
Escolhido pela Guatemala para o Oscar deste ano, “A Chorona” demorou mas, enfim, chegou aos…
Escolhido pela Guatemala para o Oscar deste ano, “A Chorona” demorou mas, enfim, chegou aos cinemas brasileiros. O elogiado filme guatemalense dirigido por Jayro Bustamante mistura elementos clássicos de filmes de terror em uma história sobre as feridas da guerra civil que assolou a Guatemala e cujas consequências ainda são perceptíveis em uma região marcada pelo racismo e desigualdade social.
Na história, o general Enrique Monteverde (Julio Diaz) é um ex-ditador que vai a julgamento pelo crimes cometidos durante a guerra civil do país entre 1960 e 1966. O julgamento é acompanhado por mulheres e outros manifestantes fervorosos (muitos de etnia maia-ixil, que foram perseguidos e massacrados durante a guerra) que não recuam ao rotular Monteverde de “genocida”. O general é, enfim, condenado, mas por questões técnicas do sistema judiciário (ou corrupção, por assim dizer), ele é solto e retorna para a sua mansão. O local é cercado por manifestantes, quase todos os seus funcionários se demitem e Monteverde começa a ouvir a voz de uma mulher chorando na casa. A situação se agrava e afeta não somente Monteverde, mas sua esposa (a ótima Margarita Kenéfic), que começa a ter sonhos em que vive na pele de uma mulher que foi perseguida durante a guerra.
Para fugir da narrativa comum de mostrar a corrupção política que favorece genocidas, e como muitos são protegidos pelo sistema e retornam sem grandes consequências às suas vidas normais, Bustamente pega inspiração em uma lenda famosa e injeta o terror na narrativa para gerar imprevisibilidade e fazer justiça. A justiça dos homens pode falhar, mas a justiça da vida sempre chega, e o uso do fantástico aqui é uma alegoria que ressalta tal pensamento.
Mas falta ao filme maior ousadia e impacto ao desenvolver não somente o terror, como em desenvolver os seus personagens. O filme se passa quase todo dentro da mansão do general Monteverde, e temos clichês batidos e que pouco acrescentam às intenções nobres do roteiro de fazer justiça aos tantos mortos pela guerra. No fim das contas, a personagem mais interessante da obra, Carmem, a esposa do general, ganha uma abordagem muito mais angustiante e triste mas que rapidamente é explorada.
“A Chorona” é um grito de protesto. É um clamor pela justiça e pelas vidas dos centenas de inocentes que foram assassinados. Monteverde não é uma figura real, mas é inspirado em outros tantos nomes que realizaram as mesmas atrocidades. As intenções do filme são excelentes, e a história é um aglomerado de angústia e revolta. Mas ao menos para mim, o filme deixa a desejar em sua execução pouca criativa e que passa longe de nos fazer sentir a dor da guerra.
La Llorona/GUATEMALA, FRANÇA – 2019
Dirigido por: Jayro Bustamante
Com: Julio Diaz, María Mercedez Coroy, Sabrina De La Hoz, Margarita Kenéfic, María Telóm…
Sinopse: Em A Chorona, Alma (María Mercedes Coroy) e seus filhos são assassinados no conflito armado da Guatemala. Trinta anos depois, é instaurado um processo criminal contra Enrique (Julio Diaz), um general aposentado que supervisionou o genocídio. Mas ele é absolvido através de um julgamento e o espírito de La Llorona é desencadeado para vagar pelo mundo como uma alma perdida entre os vivos. À noite, Enrique começa a ouvi-la lamentar. Sua esposa e filha acreditam que ele está tendo crises de demência relacionada ao Alzheimer. Mal poderiam suspeitar que sua nova governanta, Alma, está lá para cumprir a vingança que o julgamento não foi capaz de fazer.