Streaming

Crítica: A Lenda do Cavaleiro Verde (2021) – Amazon Prime

O novo filme de David Lowery é inspirado no poema “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde”, escrito no…

O novo filme de David Lowery é inspirado no poema “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde”, escrito no século XIV, e é um dos textos arturianos que mais ganharam força ao longo dos anos pela temática memorável sobre honra, nobreza e morte – temas estes que sempre fizeram parte dos textos arcaicos de lendas sobre grandes homens que venceram o ímpeto do mundo e conseguiram o reconhecimento tão almejado – o próprio Rei Arthur é o maior expoente disto.

Na trama acompanhamos a história de Gawain (Dev Patel), um membro da corte do Rei Arthur (Sean Harris), além de sobrinho do mesmo, porém jovem e sem responsabilidades – com uma vida regada a mulheres e prazer. No filme (diferente no conto original), Gawain ainda não é um cavaleiro e precisa se provar digno para receber do rei tal honra. Esta mudança feita pelo diretor é importantíssima para agregar urgência e maior profundidade aos conflitos internos do personagem, alguém que sonha em ser um cavaleiro mas está dividido entre o medo e a coragem, o dever e os sentimentos e a necessidade constante em ter uma história sua para contar ao mundo (em se tornar uma lenda!).

“A Lenda do Cavaleiro Verde” é um desses filmes marcantes que surgem de vez em quando e não somente entrega visuais acachapantes e inesquecíveis, como subverte temas e o próprio material original para construir algo novo, surpreendente e fora do cinema padrão de aventuras medievais. Aliás, o longa não adota a trajetória convencional da jornada do herói, mas vai trabalhar noções de uma sociedade antiga cuja honra era medida pela força, por uma ato de bravura, para destrinchar os sentimentos mais íntimos de um sujeito que na busca para pertencer e usufruir da glória e do poder de um grupo, vai precisar entender que a verdadeira honra e virtuosismo de uma vida é ter empatia, reciprocidade e bondade para consigo e com todos.

Morrer com honra e dignidade ou continuar vivo, mas sem a virtude da honra? A honra, hoje, pode não ser algo tão almejado e importante como na literatura arcaica de cavalaria. Mas o que é ter honra? Até onde ela se estende? É não ter medo da morte? É matar centenas em nome de uma causa? Um rei? O longa é incisivo ao questionar tais valores, ao colocar em pauta as lendas em contraste com os feitos ‘reais’ de seus protagonistas.

“A Lenda do Cavaleiro Verde” é um filme menos didático e verborrágico em sua narrativa, e mais sensorial. Lowery não entrega explicações minuciosas da fantasia daquele mundo, mas apresenta através da imagem e simbolismos conceitos que forçam o público a pensar, repensar, entender e ir além do superficial. Não é um filme de ação com lutas épicas medievais como “Coração Valente” ou outros grandes exemplos do cinema, pelo contrário, é um drama meditativo, por vezes contemplativo, sobre o homem versus a natureza, e também sobre o homem contra a si mesmo (sendo este o seu maior inimigo). Mas tudo aqui tem propósito e objetivo.

Definitivamente é uma obra que não se entende, e não se extrai todas as nuances de sua trama, apenas com uma assistida. É um filme que requer revisitas e uma dedicação maior do expectador (assistir mexendo no celular é, sem dúvida alguma, um erro terrível).

Com a melhor fotografia de 2021, em minha opinião, e uma das produções mais lindas dos últimos anos (infelizmente, não foi lançada nos cinemas brasileiros), Lowery não entrega um filme fácil, mas repleto de nuances e arbitrariedades que tornam a experiência de assistir “A Lenda do Cavaleiro Verde” um colosso emocional intimista e, por vezes, incômodo (no bom sentido).

The Green Knight/EUA – 2021

Dirigido por: David Lowery

Com: Dev Patel, Sean Harris, Alicia Vikander, Joel Edgerton, Barry Keoghan…

Sinopse: The Green Knight é um filme de fantasia baseado no universo de Camelot. Na história, Sir Gawain (Dev Patel), sobrinho do Rei Arthur (Sean Harris), embarca em uma aventura épica para confrontar um perverso inimigo, o Caveleiro Verde.