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Crítica: A Tragédia de Macbeth (2021) – Apple TV+

Lançado em alguns cinemas selecionados em dezembro do ano passado nos EUA, “A Tragédia de…

Lançado em alguns cinemas selecionados em dezembro do ano passado nos EUA, “A Tragédia de Macbeth” foi disponibilizado no Apple TV+ em 14 de janeiro, e chega cheio de pedigree com direção de Joel Coen (“Onde os Fracos Não Tem Vez”), estrelado pelos veteranos oscarizados Denzel Washington e Frances McDormand, em uma nova adaptação para filme de uma das peças mais populares de William Shakespeare.

William Shakespeare é o dramaturgo mais adaptado da história das mídias. Ao longo dos séculos, suas obras como “Romeu e Julieta”, “Hamlet”, “Macbeth”, “Otelo”, “Rei Lear”, “O Mercador de Veneza”, “Ricardo III” e tantas outras já ganharam centenas de adaptações no teatro (obviamente), cinema e televisão, e continuam sendo o tipo de material visto como “nobre” pelos atores, e o ápice da atuação para quem trabalha neste mercado. Conhecido por comédias sociais e tragédias repletas de vingança, luxúria e sede pelo poder, as obras de Shakespeare continuam influenciando a criação de outras tantas histórias, marcadas pelos temas recorrentes de ambição e amores não correspondidos – “O Rei Leão” e “Amor, Sublime Amor” são dois ótimos exemplos.

Shakespeare é um caso de “amor e ódio”. Ou você ama e abraça o texto rústico e poético do autor (característico de sua época), ou você considera rebuscado demais, confuso e chato, e nem chega perto. É uma divisão constante entre o público. Não sou fã incondicional do autor e suas histórias, para mim, funcionam melhor no lúdico do palco. Quando resolvem adaptar fielmente o texto para o cinema, ou televisão, eles tendem a soar teatrais demais, beirando o artificial, e isto me incomoda.

Mas a trama é tão repleta de tensão e pequenas críticas ao poder e aos poderosos, além de um estudo voraz sobre a natureza humana, que por fim, há projetos que soam teatrais no audiovisual, mas conseguem concentrar a impetuosidade e urgência da história de maneira hipnotizante na tela, e este é o caso de “A Tragédia de Macbeth”.

Graças ao poder de seu elenco, principalmente Denzel Washington em um personagem carregado de fúria e conflitos, e ao elenco coadjuvante, o filme ganha muito mais vida e empolgação. É uma masterclass de atuação teatral e de como se deve proclamar os textos de Shakespeare.

Joel Coen (agora trabalhando sem o seu irmão Ethan Coen), busca inspiração no gênero noir e no expressionismo alemão para compôr o visual do longa – e trazer algo distinto das outras tantas adaptações já feitas para a tela. Em uma fotografia linda em preto e branco, o diretor juntamente com o fotógrafo Bruno Delbonnel compõem cenários grandiosos, com tetos altos, salas grandes, mas com o mínimo de objetos possíveis, e todos estes locais carregados de claustrofobia (até nos ambientes abertos), frieza e angústia. A decisão de usar o formato de tela em 4:3 só colabora para esta ideia.

O uso da luz, e das sombras, é outro personagem fundamental no filme e são responsáveis pela concepção deste mundo de reis e guerreiros, mas construído em deslealdades, mentiras e traições. Coen cria algumas ideias visuais bastante criativas, como, por exemplo, a sequência em que Macbeth proclama um monólogo sobre o plano de matar o rei, e na peça ele tem a visão de uma faca. No filme, acontece o mesmo, mas a visão de Macbeth é, na realidade, a maçaneta de uma porta que lembra uma adaga. Além das referências a clássicos como “O Sétimo Selo” (o visual das bruxas), de Ingmar Bergman, ou a realizadores como Carl Dreyer, Robert Mitchum, FW Murnau, Fritz Lang, Alfred Hitchcock e DW Griffith.

Sem esconder a teatralidade de seu material original (o que, repito, me incomoda um pouco), “A Tragédia de Macbeth” se sobressai com atuações soberbas e escolhas visuais que tornam a experiência diferente e memorável. É um filme extremamente fiel ao texto de Shakespeare, e para quem gosta muito do conteúdo fonte, é um prato cheio e bem servido. Posso não ser este fã, mas reconheço a força da história e me deleito quando conseguem trazer elementos novos em algo frequentemente adaptado. E nunca é demais assistir Denzel Washington brilhando em cena.

The Tragedy of Macbeth/EUA – 2021

Dirigido por: Joel Coen

Com: Denzel Washington, Frances McDormand, Alex Hassell, Brendan Gleeson, Corey Hawkins…

Sinopse: Baseado na peça trágica de William Shakespeare, a nova adaptação de A Tragédia de Macbeth segue a história do lorde Macbeth ao voltar de uma guerra. No meio do caminho, três bruxas o abordam e falam sobre sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Ao contar a notícia para sua esposa, eles planejam o assassinato do rei atual do país e assim garantir o reinado de Macbeth. Porém, como o prórpio nome diz, Macbeth é uma tragédia, em uma adaptação feroz e que, além de ser uma história de assassinato, envolve loucura, ambição e astúcia furiosa.