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Crítica: ‘After Hours’ e a nostalgia psicodélica de The Weeknd

Com novo álbum, cantor entrega uma animada festa regada a arrependimentos, reflexões, drogas e qualidade musical

'Blinding Lights', do The Weeknd, se torna maior single da história da Billboard (Foto: reprodução -redes sociais)

No dia 20 de março, o cantor The Weeknd lançou o álbum After Hours. Em meio à pandemia do coronavírus, momento em que artistas, como Lady Gaga, por exemplo, preferiram adiar o lançamento de novos trabalhos, o artista apostou todas as fichas no novo disco. E deu certo.

Com a música Blinding Lights, The Weeknd atingiu o primeiro lugar na parada americana pela quarta vez na carreira. O álbum, como era de esperar, está no topo da lista dos 200 mais vendidos nos Estados Unidos e todas as 14 faixas entraram na Billboard Hot 100.

Antes de aprofundar um pouco mais em After Hours, vale ressaltar também que o lançamento tornou Abel Tesfaye (nome de batismo do cantor) o artista mais ouvido do Spotify, ultrapassando a marca de 62 milhões de ouvintes mensais.

Após o sucesso do aclamado Starboy (2016), era difícil imaginar um álbum superior na discografia de The Weeknd. Mas, mesmo sem ter algo para provar ao mercado fonográfico, o canadense entregou um disco já dado como certo na categoria ‘Álbum do Ano’ no próximo Grammy.

O já citado sucesso nos paradas vem acompanhado da aprovação da crítica: After Hours está com a nota 83 no site Metacritic. Para comparação, a nota de Starboy é “apenas” 67.

Em nenhuma das faixas, o cantor divide os vocais com outro artista. Além disso, ele assina todas as composições. A obra tem somente um sample de Your Song, de Elton John, na faixa Scared to Live e a ajuda de Kevin Parker, do Tame Impala em Repeat After Me (reforçando o aspecto psicodélico).

Aderindo à pegada oitentista, After Hours soa como algo que já ouvimos antes, mas sem deixar de lado a modernidade. Algo semelhante tem sido feito por Dua Lipa em Future Nostalgia, onde o próprio nome do álbum já diz tudo.

Contudo, The Weeknd foi um pouco além da britânica e lançou uma obra com uma sonoridade e identidade visual bem definidas e trabalhadas; músicas que casam entre si e um conceito pensado para contar uma história. Todo o trabalho é consumido como único, e a sequência das músicas não soam como uma playlist aleatória.

Crítica: 'After Hours' e a nostalgia psicodélica de The Weeknd
Em ‘After Hours’, The Weeknd aderindo à pegada oitentista, mas com um conceito bem trabalhado e definido (Foto: Reprodução/Youtube)

Sintetizadores, saxofone, melodias pop e batidas dançantes que remetem a passinhos de dança. Tudo da década de 1980 está presente e transportam o ouvinte direto para o passado. Em várias faixas temos até a impressão de se tratar da trilha sonora de um filme da Sessão da Tarde. Mas a animação e o clima de otimismo param por aí.

As letras de After Hours entregam uma obra confessional, com The Weeknd refletindo sobre o sucesso pós-Starboy e ainda se lamentando – e muito – sobre o fim de um relacionamento (os fãs apontam que seja sobre Selena Gomez, mesmo que ele tenha feito o EP My Dear Melancholy totalmente dedicado ao término com a cantora).

O contraste entre o melancólico e o dançante, além do uso dos sentimentos para a concepção das letras cheias de desilusões, resultam em um disco divertido e triste. É perceptível que esta é a obra mais madura do artista.

Crítica: 'After Hours' e a nostalgia psicodélica de The Weeknd
Juntos, os clipes de ‘After Hours’ foram um “filme”, conceito sempre trabalhado pelo cantor (Foto: Divulgação)

A produção visual bem trabalhada reflete em outro ponto primordial que já tornou After Hours marcante: os clipes. The Weeknd procura sempre contar narrativas através não só das músicas, mas também dos vídeos.

A junção dos clipes já lançados criam um “filme”. Primeiro Heartless, seguido de Blinding Lights, After Hours na sequência, concluindo com In Your Eyes. Controversos, os vídeos acompanham um Abel desesperado, autodestrutivo, drogado e, claro, triste.

A escolha estética dos videoclipes é ímpar. Muita psicodelia nas cores vermelho e verde que remetem, respectivamente, à violência e à loucura. Até a atuação de The Weeknd nas produções merece ser destacada.

Coincidentemente ou não, o cantor participou no ano passado do excelente filme Jóias Brutas, dos irmãos Safdie. No longa, o personagem vivido por Adam Sandler parece ter saído de um dos clipes de The Weeknd, enquanto em uma das cenas da produção vai ao show do próprio cantor.

Crítica: 'After Hours' e a nostalgia psicodélica de The Weeknd
A escolha estética dos videoclipes de After Hours possui muita psicodelia e a cor vermelha (Foto: Reprodução/Youtube)

Observando mais atentamente algumas das melhores músicas de After Hours, o canadense reflete sobre o término de um relacionamento em Hardest To Love. “O que tínhamos está morto por dentro/ É difícil me deixar ir e eu posso sentir isso/ Não se esqueça do tempo que passamos juntos”, canta.

Já em Heartless e Faith, The Weeknd se rende aos vícios tentando esquecer o passado.

“Voltei a ser como era porque sou insensível/ Tenho tantas opções de garotas e mochilas cheias de drogas que elas caem do meu bolso”, canta na primeira. “Quando estou sóbrio é que me sinto sozinho / Pensei que seria um homem melhor, mas agora é hora de voltar aos meus velhos hábitos”, lamenta em Faith.

No single Blinding Lights, Abel está sofrendo por ficar só em trechos como “Talvez você me mostre como amar / Estou passando por abstinências e sozinho há tempo demais” e arrependido em In Your Eyes. “Eu tentei encontrar o amor em outra pessoa / Espero que você saiba que eu falo sério quando digo que você é a única que estava em minha mente”.

Completando as melhores faixas do álbum, em Save Your Tears o cantor está ciente dos erros que cometeu e querendo voltar atrás.

“Me aceite de volta e guarde suas lágrimas para outro / Eu fiz você pensar que eu ficaria pra sempre / Eu disse coisas que não deveria ter dito, eu parti seu coração / E agora você não vai me amar uma segunda vez”.

Crítica: 'After Hours' e a nostalgia psicodélica de The Weeknd
Em After Hours, The Weeknd entrega o que, provavelmente, é o melhor álbum de sua carreira Foto: Reprodução/Youtube)

Por fim, After Hours é um álbum que já está fazendo história. Seja pelas circunstâncias do lançamento, as letras reflexivas ou os clipes caprichados, o disco promete não ser efêmero e terá uma longa e bem sucedida vida pela frente.

As faixas possuem um ar de fim de festa, mas com uma aura animada e uma sensação de melancolia irresistível. No final, a primeira coisa a se fazer quando a última música termina, é voltar para a primeira e viajar novamente.