Crítica: Ataque dos Cães (2021) – Netflix
Aquele tipo de filme cuja história é contada magistralmente pelos olhares, gesticulação e silêncio dos personagens. Um trabalho marcante e surpreendente!
“Ataque dos Cães” (The Power of the Dog), dirigido e escrito por Jane Campion, é um desses que encontra em suas sutilezas, olhares e pequenos gestos de personagens o grande trunfo de sua história. Confesso, que de início, estava sentindo o filme um pouco engessado e o personagem de Benedict Cumberbatch um tanto quanto estereotipado demais como o sujeito frio, ofensivo e rude. Mas à partir do momento em que você entende o subtexto ali presente e os motivos que o fazem assim, tudo ganha vida e um significado emocionalmente memorável.
O longa conta a história de Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), dois irmãos ricos e proprietários da maior fazenda de Montana. Phil é um sujeito brilhante nas tarefas relacionadas à fazenda, mas é frio e cruel. Já George é o oposto com atitude sempre equilibrada, paciente e atenciosa. A relação dos irmãos muda radicalmente quando George se casa secretamente com uma viúva local chamada Rose (Kirsten Dunst).
Campion filmou o longa na Nova Zelândia e utiliza com maestria as lindas paisagens para desenvolver sua trama localizada em Montana, EUA. E Champion é uma diretora econômica em diálogos e aproveita muito bem cada situação, cada andar de personagem, cada olhar e cada mexer de cabeça para transmitir as emoções e contar sua história. Amo quando filmes conseguem fazer isto sem soarem ‘estilísticos demais’, ou ‘conceitos demais’ como se usa atualmente. Há diretores que optam pela contemplação, ou a falta de diálogos, mas pouco conseguem criar coesão narrativa ou profundidade emocional. Tudo soa cansativo, chato e esquecível. Aqui em “Ataque dos Cães” as nuances são os maiores trunfos do enredo, e a imagem é a maior força narrativa.
O enredo também vai por caminhos surpreendentes e não se rende a catarse habitual de obras de faroeste. Não há tiroteios, ação ou grandes quantidades de sangue no filme, pelo contrário, é uma história que trilha a intimidade e a pessoalidade de cada personagem, principalmente quando chegamos ao desfecho e cenas anteriores, aparentemente sem objetivo, se complementam e ganham muito sentido – até mesmo o título do filme no original (The Power of the Dog: O Poder do Cachorro). Mas Campion também não faz questão de entregar explicações, e requer a atenção incondicional do público (a geração ‘redes sociais’ vai precisar se esforçar).
O elenco também é excelente. Benedict Cumberbatch começa como este sujeito arrogante e detestável que é difícil se associar. E sua natureza não é redimida pela história, mas há emoções, desejos e intenções tão sutis à medida que o filme se desenvolve, que Cumberbatch transmite cada sentimento reprimido de maneira primorosa. É um trabalho digno de, no mínimo, uma indicação ao Oscar.
O mesmo vale para Kirsten Dunst como a esposa tirada de uma vida ativa e que precisa encarar uma nova realidade, além do próprio desprezo de Phil. Um dos melhores trabalhos da atriz, carregado de tensão, angústia e ansiedade. E Kodi Smit-McPhee é uma surpresa daquelas que só cresce ao longo do filme.
“Ataque dos Cães” é um filmaço carregado de sutilezas e emoções e, sem dúvida, um dos melhores filmes de 2021.
The Power of the Dog/REINO UNIDO, CANADÁ, AUSTRÁLIA, NOVA ZELÂNDIA, EUA – 2021
Dirigido por: Jane Campion
Com: Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Kodi Smit-McPhee…
Sinopse: Ataque dos Cães conta a história de Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), dois irmãos ricos e proprietários da maior fazenda de Montana. Enquanto o primeiro é brilhante, mas cruel, o segundo é a gentileza em pessoa. A relação dos dois vai do céu ao inferno quando George se casa secretamente com a viúva local Rose (Kirsten Dunst). O invejoso Phil fará de tudo para atrapalhá-los.