Cinema

Crítica: Bela Vingança | Oscar 2021

Longa-metragem foi indicado a 5 Oscars e ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Original

(Foto: Reprodução/Focus Feature)

Cassie (Carrey Mulligan) está desnorteada procurando o seu celular. Sentada, bêbada, em um banco de bar, um rapaz aparece oferecendo ajuda. Ele pergunta como ela está, o que está fazendo, e por fim, chama um carro no aplicativo para acompanhá-la até em casa. No meio do caminho pergunta se Cassie gostaria de passar em sua casa – afinal, é perto. Quase desacordada, Cassie já está no sofá do sujeito que lhe tece elogios de como é linda e atraente. Ele entrega um copo cheio de bebida, a leva para a cama e começa a beijar seu corpo até descer e tirar sua calcinha. Sem forças, Cassie pergunta “o que você está fazendo?”. Pergunta de novo, e de novo, até que Carrey Mulligan olha abruptamente para a câmera e mostra um sorriso de canto. Ela não está bêbada. Pelo contrário, está bem ciente de suas faculdades mentais. Levanta, olha fixamente para o sujeito e pergunta desta vez com ênfase: “O que você está fazendo?”. Ele olha surpreso. A tela fica preta. E depois temos Cassie andando descalça na rua com o braço sujo de vermelho. Não é sangue. É ketchup. Ela está comendo um hot dog.

Dirigido pela estreante atrás das câmeras Emerald Fennell, que ganhou por este trabalho o Oscar de Melhor Roteiro Original e foi indicada pela direção, “Bela Vingança” é um filme que começa magistralmente. Fennell constrói o suspense em torno da protagonista, e do perigo que ela pode ser. Por que Cassie se finge de bêbada para atrair homens escrotos, interesseiros e que não se importam em levar uma mulher para a cama, ainda que esta esteja desacordada e sem condições de agir por conta própria? A mensagem é pertinente e tem potencial, principalmente, após o genial começo que me lembrou bastante Tarantino.

Mas daí Fennell coloca Cassie em outro encontro e mostra o que de fato acontece quando ela revela que não está bêbada. Que decepção! Fennell utiliza elementos narrativos para nos passar uma ideia de quem é Cassie, cria certa expectativa no público para depois apresentar que a personagem não faz nada de muito impactante, além de dar uma lição de moral verbal no sujeito. É uma quebra de expectativas muito grande pois Fennell não estava indo por este caminho. Não precisava abraçar totalmente a catarse como Tarantino, mas a revelação só coloca Cassie como uma mulher franzina, e pouco convincente, diante de homens fisicamente mais fortes do que ela.

Entendo as intenções da história, e gosto da ambientação criada por Fennell que, aliás, se mostra uma roteirista de humor voraz, cínico e delicioso. Cassie possui traumas e motivos pessoais para ser quem é, e motivos estes que serão importantes para o grande plano da personagem da metade para o final. Mas não é um roteiro perfeito, muito menos uma direção que acerta nas mudanças de tom e intenções.

A alma do filme é, sem dúvida, Carrey Mulligan como Cassie. Indicada ao Oscar de Melhor Atriz, Mulligan está totalmente diferente dos habituais personagens que interpreta – geralmente mulheres mais delicadas e fofas. Aqui não! A atriz é uma força da natureza e é ela quem faz de “Bela Vingança” muito mais interessante, e divertido, do que realmente é.

Promising Young Woman/EUA – 2020

Dirigido por: Emerald Fennell

Com: Carey Mulligan, Bo Burnham, Alison Brie…

Sinopse: Em Bela Vingança, Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com muitos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada. Quando homens mal-intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, Cassie entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la.

Crítica | Promising Young Woman — Outra Hora