Crítica: Benedetta (2021)
“Benedetta” carrega as características habituais da carreira do diretor Paul Verhoeven. É provocador, é polêmico…
“Benedetta” carrega as características habituais da carreira do diretor Paul Verhoeven. É provocador, é polêmico e não tem medo de usar o profano como entretenimento. O filme é inspirado por uma história real que se passa no século XVII, e é uma interpretação livre de “Atos Imodestos”, escrito por Judith C. Brown.
Na trama, Benedetta Carlini (Virginie Efira) é uma freira italiana que faz parte de um convento na cidade de Toscana desde sua infância, quando foi entregue por sua rica família à instituição. Desde então ela sofre de um distúrbio e tem perturbações e visões religiosas sobre a Virgem Maria, além de clamar que consegue se comunicar com ela e ter visões eróticas com Jesus Cristo. E Benedetta vai enfrentar um dilema ainda maior quando uma nova moça chega ao convento, despertando desejos sexuais nunca antes vivenciados. Benedetta foi onsiderada uma mulher mística e venerada por muitos por causa de sua fé, mas foi presa e condenada pela igreja por ser sáfica.
Sei que muitos irão amar “Benedetta” pelo tom provocativo e humor esnobe com relação às doutrinas religiosas, e principalmente com a hipocrisia dos religiosos. O texto investe na construção de uma personagem ambígua, gerando no expectador questionamentos sobre sua real natureza. Será que Benedetta está falando a verdade? Será que a personagem é agraciada por Deus? Ou tudo não passa de encenação causada pela mesma para alcançar poder dentro da igreja?
Verehoeven nunca foi um diretor sútil e seu cinema é incisivo e direto, sem rodeios ou amenidades. Por um lado, tal caracterísitca me soa bem, já que evita obras existenciais e contemplativas em demasia como muitos diretores intitulados “de arte” fazem hoje em dia. Já por outro, o roteiro de “Benedetta” é uma bagunça que atira para todos os lados e não sabe muito bem o que quer ser. Um drama sobre a fé de uma mulher incompreendida? Uma sátira às doutrinas e pessoas interesseiras dentro da igreja? A ascenção pelo poder? A repressão do prazer carnal pela religião? Os motivos se entrelaçam e se dissipam em vários momentos, mas tudo soa falso e engessado (me lembrou daquele ‘trailer não verdadeiro’ do filme de um padre que se apaixona por outro na ótima comédia “Trovão Tropical” – interpretados por Robert Downey Jr. e Tobey Maguire).
“Benedetta” lida com temas pertinentes e entrega críticas válidas à uma intstituição religiosa que cresceu disseminando medo e o valor comercial da alma para seus próprios interesses. Mas é um filme perdido, de resoluções fáceis e mal construídas. Há violência e profanidades, mas só isto não basta.
Benedetta/FRANÇA, BÉLGICA, PAÍSES BAIXOS – 2021
Dirigido por: Paul Verhoeven
Com: Virginie Efira, Charlotte Rampling, Daphne Patakia…
Sinopse: Benedetta é uma biografia dramática que se passa no século XVII e uma interpretação solta do livro Atos Imodestos, de Judith C. Brown. Benedetta Carlini (Virginie Efira) é uma freira italiana que faz parte de um convento na Toscana desde sua infância, quando foi dada por sua rica família ao convento. Desde então ela sofre de um distúrbio e tem perturbações e visões religiosas sobre a Virgem Maria, além de clamar que consegue se comunicar com ela, e visões eróticas com Jesus Cristo. Assistida por uma companheira, Carlini se verá ameaçada quando sua relação com sua rebelde ajudante se transformar em um conturbado romance amoroso. Ela foi considerada mística e venerada por sua comitiva religiosa por conta de sua fé, mas foi presa e condenada por ser sáfica.