Crítica: Blonde (2022) – Netflix
Baseado no livro de Joyce Carol Oates, “Blonde” é menos um biografia fiel e mais…
Baseado no livro de Joyce Carol Oates, “Blonde” é menos um biografia fiel e mais uma peça de especulação e estudo sobre a vida de uma atriz atraente na Hollywood dos anos 40 e 50. “Blonde” é a Via Crucis de Marilyn Monroe e está causando polêmica justamente por colocar esta persona símbolo da antiga Hollywood em um cenário totalmente conturbado, desgastante e monstruoso dos bastidores não apenas da indústria, mas de uma vida cheia de luta e dor.
Marilyn, ou Norma Jeane como era seu nome real, de fato, foi uma pessoa que sofreu bastante desde a infância. A mãe era esquizofrênica e foi internada, ela não tinha pai e passou por inúmeros orfanatos durante a infância, e quando ingressou no cinema sua beleza foi um chamariz para muitos donos de estúdio tirarem vantagem com testes de sofá e abuso de poder. Ela morreu apenas com 36 anos por overdose de medicamentos. Era uma mulher linda em plenos anos 40 e 50 e vista como um pedaço de carne na vitrine para uma indústria machista comandada sem piedade ou preocupação moral por poderosos produtores, diretores e donos de estúdio.
Portanto, “Blonde” é um estudo sobre como era ser mulher nesta época da Era de Ouro de Hollywood, e traz uma abordagem, sim, nada glamourosa da fama e da vida de atrizes nos bastidores do cinema, e Marilyn, sem duvida, é a melhor personagem para explanar este mundo. Não há felicidade para o diretor Andrew Dominiki em “Blonde” e sua obra é uma constante reprovação da imagem popular que temos de Marilyn, e mais um atestamento da infelicidade de um ser humano perante a fama, a família problemática e os poderosos homens dos estúdios. Ainda que eu goste de uma abordagem que quebre o clichê da ‘Marilyn sexy e sorridente”, o filme poderia ter dosado melhor o sofrimento excessivo do roteiro e tê-lo tornado menos sensacionalista.
“Blonde” são quase três horas excrucientes de dor e angústia, e ainda que possua debates pertinentes sobre este mundo das celebridades hollywoodiano, é um filme que a partir de certo momento fica repetitivo e não mais impactante. É uma perda de oportunidade em também celebrar a carreira de Marilyn e o ícone ‘maior do que a vida’ que ela se tornou. Não sou contra explorar os meandros de uma indústria, sim, machista e nojenta, ou também as infelicidades que tanto atormentaram Marilyn, mas ela não foi só isso e o longa pouco ajuda a mudar a imagem da ‘loira burra e inocente’ que tanto a indústria propaga. Se a intenção era apresentar nuances diferentes de uma figura pública tão influente, que não fizesse apenas com os aspectos negativos de sua vida, mas também com suas conquistas e qualidades profissionais, e como ser humano, que Norma Jeane (a.k.a Marilyn) também possuía.
Mas “Blonde” não é uma porcaria como muitos estão falando. Não é um filme para todos porque justamente quebra nossas expectativas de um filme sobre Marilyn Monroe, mas é, sem dúvida, uma obra instigante e cinematograficamente criativa e linda de assistir. Andrew Dominiki cria estilos diferentes de enquadramento e filmagem dentro do próprio longa e ressalta os diferentes estados de espírito da protagonista, e sua jornada conturbada. E Ana de Armas é um estrondo e merece todos os elogios. Não apenas parecida com Marilyn, mas a atriz se entrega sem pudor ou ressalvas em um papel difícil dentro de um filme também difícil.
Para o bem ou para o mal, “Blonde” é um filme que entrega além de uma experiência previsível e clichê. Uma experiência difícil e com falhas, sem dúvida, mas não menos instigante.
Blonde/EUA – 2022
Dirigido por: Andrew Dominiki
Com: Ana de Armas, Julianne Nicholson, Ryan Vincent, Lily Fisher…
Sinopse: Após uma infância traumática, Norma Jeane Mortenson (Ana de Armas) tornou-se atriz, na Hollywood dos anos 1950 e início dos anos 1960. Ela se transformou em uma figura mundialmente famosa, sob o nome artístico de Marilyn Monroe. Todavia, por trás dos holofotes da fama, a atriz vivia guerras pessoais, e suas aparições na tela contrastam fortemente com os problemas de amor, exploração, abuso de poder e dependência de drogas que ela enfrentava em sua vida privada. Blonde reimagina corajosamente a vida de um dos símbolos mais duradouros de Hollywood, de sua infância volátil como Norma Jeane, até sua ascensão ao estrelato e envolvimentos românticos, o longa se apresenta como uma especulação da vida da sex symbol, atriz e modelo. Uma história reimaginada da vida privada de Monroe, o filme é um retrato fictício da vida do ícone da década de 1950 e 60, contado através das lentes modernas da cultura das celebridades. Baseado no livro homônimo de Joyce Carol Oates.