Cinema

Crítica: Boa Sorte, Leo Grande (2022)

Um filme sobre se valorizar, sobre se conhecer e sobre o quão importante é o prazer sexual para o ser humano - seja jovem ou na terceira idade

(Foto: Divulgação)

E uma das mais melhores surpresas deste ano é esta dramédia estrelada por Emma Thompson chamada “Boa Sorte, Leo Grande”. No filme, Thompson interpreta uma professora viúva aposentada de 55 anos chamada Nancy Stokes, que decide sair da rotina e viver um tipo de aventura que nunca teve em sua vida: ela contrata os serviços de um acompanhante de luxo chamado Leo Grande (Daryl McCormack). O encontro é marcado por momentos de nervosismo, ansiedade e muita conversa. Uma conversa que passeia sobre diversos assuntos, desde os motivos para Leo fazer o que faz, desabafos sobre o porque dela chamar um acompanhante, sobre a vida sem graça que tinha com o marido e o fato de nunca ter tido um orgasmo na vida (nem mesmo através da masturbação).

Dirigido por Sophie Hyde, “Boa Sorte, Leo Grande” é um filme tão sensível e honesto em suas abordagens que é impossível não sentir uma conexão imediata. Primeiro porque o longa trabalha temas comuns a qualquer pessoa, e temas estes que em grande parte dos casos o indivíduo não tem coragem de expor, e muito menos de desabafar com alguém – principalmente em casamentos onde ambos vivem algo sem tesão, mecânico e sem atrativos, e o fato disto incomodar mas sempre ser um tabu para conversas sinceras.

“Boa Sorte, Leo Grande” é um filme sobre a necessidade de todos terem prazer sexual na vida, e de que este é uma necessidade humana tão importante, e linda de se almejar, quanto tomar um banho – principalmente em um mundo puritano (e hipócrita, diga-se) onde a religião distorceu o prazer sexual para algo mecânico onde deve-se apenar ter a relação para procriação, e onde as mulheres são as mais prejudicadas nesta equação. E o fato de Nancy ter sido uma professora de ensino religioso torna tudo ainda mais paradoxal.

O filme é um grito de socorro em favor do sexo, em favor do se conhecer, do se abrir para novas aventuras, do se amar incondicionalmente e valorizar o seu corpo e cada aspecto dele. Uma obra que atesta a importância de se conhecer o corpo e proporcionar a ele prazer. E principalmente: um filme que explora a importância do prazer quando se é mais velho, e quando já não é mais jovem. Não importa quando, o gozo sexual é parte fundamental do bem estar de qualquer ser humano, independente da idade, e aqui temos uma obra que explora magnificamente esta questão através de diálogos sutis, sensíveis e carregados de emoção. A última cena com Thompson completamente nua em frente um espelho é um desses momentos antológicos do cinema não por ser uma atriz renomada se expondo desta maneira, mas pelo simbolismo do que aquilo representa no mundo real, e o que isto representa para a jornada pessoal daquela personagem. É sublime!

Emma Thompson entrega sem amarras uma atuação carregada de nuances, de uma personagem que vai crescendo com o desenrolar da história e cuja retração inicial vai se transformando em regozijo e em um autoconhecimento inspirador. O mesmo vale para Daryl McCormack, que mostra um carisma e talento dramático pouco trabalhado até então na carreira, e sua química com Thompson são essenciais para fazer toda a engrenagem da história funcionar. Impecável!

Good Luck To You, Leo Grande/EUA

Ano: 2022

Dirigido por: Sophie Hyde

Com: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland…

Sinopse: Nancy Stokes, uma viúva de 55 anos, anseia por alguma aventura, conexão humana e um pouco de sexo, um bom sexo.

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