Crítica: Capitão Fantástico (2016) – Especial de Férias
Longa-metragem pode ser assistido na NETFLIX ou AMAZON PRIME VÍDEO
Primeiro trabalho como diretor de Matt Ross, mais conhecido por atuar em séries como “Sillicon Valley”, “Big Love” e “American Horror Story”, “Capitão Fantástico” é um excelente começo de carreira atrás das câmeras e uma mistura perfeita de melodrama, road movie, comédia, lições de vida e originalidade.
Na trama, Ben (Viggo Mortensen) é pai de seis crianças e decide, ao lado da esposa, fugir da civilização e morar com os filhos na floresta vivendo do básico. As crianças são ensinadas a caçar, praticar esportes, combater inimigos, produzir o próprio alimento e estudar desde cedo política, ciência, gramática e por aí vai. Ao ler isto parece que Ben é um monstro de pai. Nada disso! Valores como família, obediência, amor e cuidado são passados adiante e ajudam a tornar aquele lugar tão surpreendente aos nossos olhos que gradativamente vai nos conquistando. Porém, a família terá que voltar para a cidade, confrontar familiares conservadores e encarar desafios em um mundo completamente diferente.
Uma das visões mais interessantes de “Capitão Fantástico” é justamente este contraste de realidade e crítica ao mundo consumista, que aos poucos perde os valores e os princípios mais básicos. Claro que não é necessário se mudar para o mato e viver recluso. Isto foi uma decisão feita pelo protagonista, mas a questão é enxergar a sociedade ocidental como um conjunto de pessoas que priorizam os bens materiais, o ócio e o desleixo com saúde e família, e investem em atividades que só colaboram para a alienação e falta de conhecimento das pessoas.
Uma das minhas partes favoritas do filme é quando, na casa da irmã Harper (Kathryn Hahn), Ben é confrontado sobre o estilo de vida que oferece aos filhos, que é perigoso e irresponsável, já que as crianças tinham que ir para uma escola e receber educação “adequada”. Em seguida, Ben chama os dois filhos de Harper e pergunta o que foi a Declaração de Direito de 1689 (ou Bill of Rights). Nenhum dos dois sabe responder e só tem olhos para o vídeo game. Após isso, Ben chama a filha de oito anos que responde a pergunta detalhadamente, com as próprias palavras.
A sequência acima é um de muitos contrastes apresentados no filme. Claro, talvez haja certa radicalidade no ponto de vista de Ben, mas também não deixa de ser verdadeiro. Jogar vídeo game não torna ninguém preguiçoso ou desinteressado, o que torna uma pessoa assim é a falta de equilíbrio e disciplina com o lazer, as obrigações e deveres. E realmente a facilidade das coisas hoje em dia tem colaborado para formar pessoas desleixadas e desprovidas de interesse em aprender e aperfeiçoar os conhecimentos. Daí vem a crítica mais incisiva do longa: a culpa muitas vezes são dos pais.
“Capitão Fantástico” é um tapa na cara do público em muitos aspectos. Mas é ao mesmo tempo uma delícia de filme onde as críticas e lições nunca são passadas de um jeito seco e grotesco. É um road movie glamoroso, leve, sutil e tocante. A cena onde a família canta “Sweet Child of Mine” no final é memorável e as resoluções só reforçam os ensinamentos sobre união, carinho e família.
Reservo este parágrafo para elogiar o elenco. Desde os ótimos atores jovens, o excelente time de apoio até chegar em Viggo Mortensen, em uma das melhores atuações da carreira. Viggo é um ator de presença inquestionável, cheio de carisma e um olhar compenetrado mas que transmite carisma, segurança e afeto. Ben nunca se torna um pai chato e desprezível, pelo contrário, é visível a dedicação e amor pela família. Nos momentos onde a emoção atinge o clímax, Viggo é arrebatador. Sem dúvida é uma das melhores atuações do ano de 2017 – tanto que foi merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Ator.
Imperdível, “Capitão Fantástico” é um filmaço com lugar cativo no coração. Merece ser visto!
Captain Fantastic-EUA
Ano: 2016 – Dirigido por: Matt Ross
Elenco: Viggo Mortensen, Frank Langella, George Mackay, Samantha Isler
Sinopse: Ben é o pai de seis crianças pequenas, que decide fugir da civilização e criar os filhos nas florestas selvagens do Pacífico Norte. Ele passa os seus dias dando lições às crianças, ensinando-os a praticar esportes e a combater inimigos. Um dia, no entanto, Ben é forçado a deixar o local e retornar à vida na cidade. Começa o aprendizado do pai, que deve se acostumar à vida moderna.