Crítica: Cinderela (2021) com Camila Cabello – Amazon Prime
Um filme que quer ser moderninho, mas que não sai da sombra da Disney e se repete constantemente
Eu ainda quero assistir uma versão de “Cinderela” que seja fiel ao conto original dos irmãos Grimm. Nas mãos de gente talentosa como James Wan ou Robert Eggers, por exemplo, tem potencial para ser um filme de suspense ou terror gore formidável. Desde que Walt Disney começou a criar sua própria versão dos contos antigos, a indústria não sai de sua sombra. “Cinderela”, diga-se, é um desses exemplos que já foi adaptado incontáveis vezes e em 99% dos casos (se não 100%), o resultado é sempre focado em uma história mágica de aprendizado que termina com um final feliz, ou seja, pura influência Disney. Nada contra, eu amo o desenho clássico e a versão live-action do estúdio do Mickey, gosto de outras adaptações que se passam na atualidade (“Para Sempre Cinderela”), mas, confesso, quero ver algo diferente um dia. Algo que seja, de fato, inspirado na essência macabra da história original.
Mas, enfim, eis que a Sony decidiu produzir este “Cinderela” estrelado pela cantora Camila Cabello, e vendido como uma versão musical mais agitada e com músicas modernas – a presença de “Queen” e Madonna entre as canções encenadas não me deixa mentir. A ideia de usar músicas contemporâneas em uma história de época, e ainda conto de fadas, não é original, mas é sempre bem-vinda. “Shrek” é o melhor exemplo disso, “Moulin Rouge” é apaixonante e o recente “O Rei do Show” renovou mais ainda esta ideia. O problema é que esta versão de “Cinderela” nunca se encontra, e se repete incessantemente a todo momento sem nunca encontrar personalidade própria. Além de ser um musical pessimamente coreografado e nada empolgante.
Não vou entrar em detalhes da história pois ela é a mesma coisa das outras centenas de adaptações do conto de Cinderela. Isso não seria problema caso a jornada não fosse tão arrastada, sem graça e cansativa. O filme quer ter a cara da Disney com força, e ainda flerta com uma pitada de rap – algo que Lin-Manuel Miranda tornou moda após o sucesso de “Hamilton”. Mas nada funciona. O filme quer ser moderninho, mas cai no lugar comum das adaptações antigas da história. As coreografias são padronizadas e sem criatividade, e a construção das cenas musicais (principalmente), não foge do lugar comum. Não tem beleza, não tem empolgação e eles conseguiram fazer “Somebody To Love”, do Queen, ser chato pra caramba.
Confesso que não conhecida o trabalho de Camila Cabello, já tinha ouvido sobre ela, mas nunca fui atrás para conhecer o seu trabalho. Depois de escutá-la aqui em “Cinderela”, Cabello é o tipo de cantora que, particularmente, não me agrada, com uma típica voz anasalada como a grande maioria das cantoras pop criadas pela indústria. É comum e nada demais. Mas já como atriz, ao menos dentro daquilo que lhe foi exigido aqui, Cabello possui uma personalidade divertida que torna sua Cinderela menos cansativa. E tem uma belo sorriso (ressalto!).
Já o restante do elenco é desencontro total. O príncipe interpretado por Nicholas Galitzine é péssimo, Idina Menzel até tenta como a madrasta mas ela e suas filhas não empolgam, Billy Porter possui muita personalidade e ele como a Fada Madrinha é divertido, mas é desperdiçado em uma número musical pobremente criativo.
Saldo geral? Entre um Disney original e um Disney genérico, prefiro o material original do que este pastiche sem graça produzido pela Sony e que foi vendido para o Amazon Prime por causa da pandemia. Se quiser, o filme já está disponível para ser visto no streaming.
Cinderella/EUA – 2021
Dirigido por:
Com: Camila Cabello, Billy Porter, Idina Menzel, Pierce Brosnan…
Sinopse: Na nova e ousada abordagem musical da história tradicional que o público conhece, Cinderela (Camila Cabello) é uma jovem ambiciosa cujos sonhos são maiores do que o seu mundo permite. Entretanto, com a ajuda de seu Fado Madrinho (Billy Porter) ela é capaz de perseverar e realizar seus sonhos.