Cinema

Crítica: Drive My Car (2021)

Disponível em alguns cinemas e em abril na plataforma de streaming MUBI, “Drive My Car”…

Disponível em alguns cinemas e em abril na plataforma de streaming MUBI, “Drive My Car” é o filme internacional sensação do Oscar 2022. Favorito absoluto ao prêmio de filme estrangeiro, o longa também foi indicado às categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado – outro grande exemplo de como a Academia de Hollywood está buscando expandir seu leque cultural, ainda que continue derrapando em outras frentes.

Longa japonês dirigido e roteirizado por Ryusuke Hamaguchi a partir de um conto escrito por Haruki Murakami, “Drive My Car” é um drama de três horas de duração e um desses projetos tão cheio de nuances e intimidade, que tudo de maior tensão e desenvolvimento narrativo acontece através de poucas palavras. O silêncio é presente e responsável por um mar de emoções e sensações transmitidas através de olhares, gestos e o não reagir. “Drive My Car” é um filme sobre luto. Sobre ressentimentos. Sobre lidar com o passado e mexer com emoções complicadas e problemáticas. É um filme lento, sim, mas na lentidão e nas mínimas palavras o diretor Hamaguchi alcança profundidades emocionais, e humanas, monumentais.

A história de “Drive My Car” é cercada por tragédias. O ator e diretor Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) perde a esposa, a roteirista Oto (Reika Kirishima), semanas depois que descobre uma traição da mesma. O roteiro salta dois anos quando Kafuku se muda para Hiroshima (uma cidade com a própria história trágica), onde foi chamado para dirigir uma nova versão da peça “Tio Vanya”, de Anton Chekhov. Esta é a mesma peça em que estava atuando no ano em que Oto morreu, e um dos atores que aparecem para o teste de elenco é justamente o jovem ator que descobriu ser o amante da ex-esposa. Além disso, Kafuku também foi impedido de dirigir o próprio carro por conta de regras da produtora, e uma motorista, Misak (Tôko Miura), é designada para a função exclusiva de dirigi-lo pela cidade.

Ainda que o roteiro pareça convencional, o filme passa longe das convenções imagináveis. É um cinema diferente do que o público atual está acostumado, mas é um cinema de minúcias, detalhes e situações. Cada momento agrega e conta, e a lentidão é o permear da solidão que se mantém com o protagonista e nos leva à uma jornada catártica, porém, uma catarse íntima, desesperadora, pulsante e amarga.

“Drive My Car” é um filme belo e tocante pela naturalidade e imensidão de seus dizeres, sejam estes sobre o homem, o coração, a vida, o passado, o presente ou o futuro. É uma experiência que exige disposição e entrega, e quando já dependentes, a imersão é sublime. Amo dramas melosos e intencionalmente manipuladores para nos encantar e emocionar (quando bem feitos, claro), mas é sempre bom diversificar o cardápio e conhecer obras diferentes do padrão norte-americano tão consumido pela nossa cultura brasileira. Fica a dica!

Doraibu mai kā/JAPÃO – 2021

Dirigido por: Ryusuke Hamaguchi 

Com: Hidetoshi Nishijima, Reika Kirishima, Tôko Miura, Park Yu-rim…

Sinopse: Em Drive My Car, adaptado de um conto de Haruki Murakami, o filme segue duas pessoas solitárias que encontram coragem para enfrentar o seu passado. Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) é um ator e diretor de sucesso no teatro, casado com Oto (Reika Kirishima), uma mulher muito bonita, porém também uma roteirista com muitos segredos, com que divide sua vida, seu passado e colaboração artística. Quando Oto morre repentinamente, Kafuku é deixado com muitas perguntas sem respostas de seu relacionamento com ela e arrependimento de nunca conseguir compreendê-la completamente. Dois anos depois, ainda sem conseguir sair do luto, ele aceita dirigir uma peça no teatro de Hiroshima, embarcando em seu precioso carro Saab 900. Lá, ele conhece e tem que lidar com Misaki Watari (Toko Miura), uma jovem chauffeur, com que tem que deixar o carro. Apesar de suas dúvidas iniciais, uma relação muito especial se desenvolve entre os dois.