Cinema

Crítica: Duna (2021)

É visualmente lindo, acachapante e com um elenco estelar, mas ao mesmo tempo é desnecessariamente arrastado e longo

(Foto: Reprodução/Warner Bros.)

“Duna” é, sem dúvida, uma adaptação fiel do livro escrito pelo autor norte-americano Frank Herbert e é infinitamente superior à versão cinematográfica de 1984 dirigida por David Lynch (que também odeia o próprio filme). Dirigido por Denis Villeneuve, o filme logo nos apresenta em seus créditos iniciais que esta é a Parte Um da história, portanto, logo deve ser entendido que a trama não terá fim e que apenas em uma continuação teremos o desfecho da narrativa.

Considerado um dos pilares da ficção científica, o livro de Herbert foi influência para milhares de autores e criadores de conteúdo ao longo dos anos. Um deles, diga-se, é um sujeito chamado George Lucas que se inspirou em muitas ideias da obra literária para modelar o seu Star Wars. A ideia de um Império galáctico opressor com exército mascarado, poderes de manipulação da vontade alheia, um planeta formado por um imenso deserto são apenas algumas idealizações utilizadas por Lucas em sua ópera espacial que mudou o cinema em 1977.

Com roteiro de Eric Roth, Jon Spaihts e do próprio diretor Villeneuve, a trama nos apresenta às Casas Atreides e Harkonnen, que no ano de 10.191 possui uma  rivalidade fervorosa quando o Imperador Shaddam IV remove esta última do controle do planeta Arrakis e o transfere à primeira. Arrakis é o planeta mais importante da galáxia já que ele é a única fonte de extração de uma substância cujo utilidade é essencial para viagens interplanetárias, portanto, seu valor é inestimável.

Contudo, a decisão do Imperador é movida por interesses muito mais sórdidos, e não favoritismo pelos Atreides. Ele teme a popularidade do Duque Leto Atreides (Oscar Isaac) e transferi-lo para o novo planeta é uma tentativa de deixar o duque vulnerável a um ataque de seu inimigo, o Barão Harkonnen (Stellan Skarsgård). Enquanto isso, o filho do duque, o jovem Paul (Timothée Chalamet) vem tendo visões que resultam dos poderes herdados da mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), integrante de uma antiga ordem formada por mulheres e que influenciam secretamente os acontecimentos no Império. E tudo isso serve para revelar que Paul talvez seja o escolhido de uma profecia, e está destinado a salvar o galáxia do Império maligno (Luke Skywalker, alguém?).

Tudo pode parecer um tanto quanto clichê para os padrões atuais, já que hoje temos aos montes histórias assim, mas “Duna” surgiu bem antes de tudo isso virar moda. E Villeneuve é um apaixonado pelo livro e mostra cada parte deste amor em tela. Sua adaptação é grandiosa, é densa e carregada de uma instabilidade que nos coloca parte de uma trama que a cada momento se torna mais e mais pesada emocionalmente – um peso dramático e claustrofobia emocional que são características habituais na carreira de Villeneuve. Ao mesmo tempo em que o diretor ama cenários grandiosos e exaltar a insignificância da raça humana diante deles, o que resulta em cenas visualmente memoráveis e inesquecíveis.

Entendo a ousadia de Villeneuve ao dividir o livro em dois filmes (e digo ousadia porque a segunda parte nem filmada foi, tudo vai depender do desempenho nas bilheterias deste aqui) e seu desejo em dar tempo e desenvolvimento, sem pressa, a cada situação do livro. Mas como adaptação cinematográfica, “Duna” precisa de mais ritmo e aventura, já que toda a guerra e as partes mais empolgantes foram deixadas para a continuação. São duas horas e meia que poderiam ser mais objetivas e diretas e menos repetitivas, o que torna a experiência cansativa em muitos momentos (um pecado que Villeneuve também cometeu em “Blade Runner 2049”, que amo, mas precisava ser tão longo?).

Ao fim, “Duna” é uma adaptação extremamente fiel e respeitosa ao livro, mas que carece de mais alma e ritmo em uma época onde sua história já não é mais novidade. Não tenho problemas com o final abrupto, já que lá no início é deixado claro ser esta a Parte Um. Meu problema é com onde Villeneuve escolhe encerrar a história, fazendo de “Duna – Parte Um” uma introdução looooooonga da formação do protagonista como o Escolhido. Mas confesso, independente de tudo isso, estou interessado em assistir ao desfecho desta narrativa. Talvez depois que a Parte Dois for lançada e a obra ser avaliada como um tudo, “Duna” seja bem mais completo e prazeroso.

Dune/EUA – 2021

Dirigido por: Denis Villeneuve

Com: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Jason Momoa, Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Zendaya, Dave Bautista, Stephen McKinley Henderson, Sharon Duncan-Brewster, Chang Chen, David Dastmalchian, Babs Olusanmokun, Benjamin Clémentine, Golda Rosheuvel, Javier Bardem e Charlotte Rampling.

Dune (2021) - IMDb