CALIFORNIA DREAMIN

Crítica: ‘Era Uma Vez Em Hollywood’ é homenagem de Quentin Tarantino ao cinema

Com Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie no elenco, Tarantino fez um filme engraçado, maduro, sensível e, claro, vingativo

'Era Uma Vez em Hollywood': dirigido por Quentin Tarantino sem parecer Tarantino (Foto: Divulgação)

Quentin Tarantino sempre tem uma responsabilidade enorme nas mãos. Qualquer produção dirigida por ele, independente do gênero ou história, será sempre aguardada com ansiedade por cinéfilos e pela crítica. O diretor tem em seu currículo obras que ditam regras no mundo do cinema. Do clássico ‘Pulp Fiction‘, ao divertido e pop ‘Kill Bill vol.1 e vol.2‘ e os cultuados e premiados ‘Django Livre‘ e ‘Bastardos Inglórios‘. Quando “A film by quentin tarantino” aparece no início do filme, podemos esperar algo no mínimo ótimo. E não, não é puxa-saquismo. Isso fica evidente em ‘Era Uma Vez Em Hollywood‘. O mais novo longa do diretor é deliciosamente engraçado, agradável e leve (pelo menos o máximo que um filme dele consegue ser).

Era Uma Vez Em Hollywood‘ é um filme de Tarantino, sem parecer muito Tarantino. Explico: toda aquela narrativa muitas vezes não linear, violência gráfica, muito sangue e um ritmo mais frenético, são deixados de lado. O que temos são diálogos longos e mais coloridos, muito silêncio e tempo morto, com personagens dirigindo ou apenas andando. O que  aparentemente não vai agregar ao filme, pode estranhar o espectador mais desavisado, mas tudo cria uma experiência meditativa.

Quentin Tarantino dirigindo cena com Brad Pitt e Leonardo DiCaprio (Foto: Reprodução)

Tributo ao cinema

A produção é uma clara homenagem do diretor ao cinema e Tarantino dirige vários filmes dentro de um mesmo longa. Ele deixa claro seu amor e devoção ao faroeste, usa sua veia sanguinolenta em uma sequência de tirar o fôlego e homenageia Sharon Tate. Ao mesmo tempo, “se vinga” do grupo de Charles Manson, como se vingou dos nazistas em ‘Bastardos Inglórios’.

O cinema do diretor sempre se pautou no resgate de referências. Porém, em ‘Era Uma Vez Em Hollywood‘, ele usa das alusões como uma oportunidade de falar sobre cinema fazendo cinema, tornando o filme uma experiência cinematográfica ímpar. Contudo, com cenas que usam diferentes linguagens e mudanças de tom repentinos (do engraçado para o melancólico), o filme às vezes soa desconexo e desconjuntado, podendo fazer que o expectador ame ou odeie.

Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie em ‘Era Uma Vez Em Hollywood) (Foto: Divulgação)

Personagens e atores

Aqui, o diretor novamente mantém ilesa sua capacidade de criar personagens memoráveis. Assim como Beatrix Kiddo com sua roupa amarela em ‘Kill Bill’, Calvin Candie com seu perigoso martelo em ‘Django Livre’ e Mia Wallace com sua franja em ‘Pulp Fiction’, os personagens de ‘Era Uma Vez Em Hollywood‘ conseguem ser marcantes e impressionantes.

Leonardo DiCaprio, sem surpresas, mostra seu talento em um interpretação de camadas. Ao mesmo tempo que é DiCaprio interpretando Rick Dalton, é Rick Dalton interpretando outro personagem. Leonardo consegue ir de um para o outro apenas com um olhar ou um gesto hipnotizante que faz qualquer um não querer piscar. Junto com a iniciante Julia Butters, de apenas 10 anos de idade, protagonizam duas das melhores cenas do filme.

Brad Pitt tem um amontoado de cenas que provavelmente farão seu lado como ator ser merecidamente reconhecido (mesmo com um ar de “eu já vi isso antes”). Para ele é reservada a sequência mais tarantinesca do filme, com muito sangue e violência. Margot Robbie interpretando Sharon Tate é de encher os olhos. Sempre que aparece, a tela se ilumina, mesmo com uma sutil melancolia permeada por sabermos qual foi o fim da atriz.

The end

Com cores absurdamente vivas, uma ótima trilha sonora já costumeira em obras do Tarantino (claro que não poderia faltar California Dreamin) e um ritmo lento para uns e certeiro para outros, ‘Era Uma Vez Em Hollywood‘ agradou a crítica (85% de aprovação no Rotten Tomatoes e 81% no IMDB), e é um filme que não termina quando acaba. Quem assistir, entenderá.

*Fabrício Moretti é integrante do programa de estágio do convênio entre o Ciee e o Mais Goiás, sob orientação de Hugo Oliveira.