Crítica: Jogador Nº 01 (2018) – Especial de Férias
Ernest Cline tem 45 anos e é um desses sujeitos que cresceu moldado pela cultura…
Ernest Cline tem 45 anos e é um desses sujeitos que cresceu moldado pela cultura dos anos 80. Jogava todas as novidades do momento, assistia aos filmes sensações que eram lançados e, como tantos outros de seu tempo, e posteriormente, que cresceram com as obras oitentistas – principalmente -, não é de se espantar que seu primeiro livro, “Jogador Nº 1”, tenha sido um sucesso de vendas. Toda a história é moldada em cima de referências – os chamados easter eggs -, tanto de filmes quanto de jogos do período, integrados em uma realidade futurista onde toda a sociedade vive suas vidas numa realidade virtual chamada Oasis. A morte do seu criador, James Halliday, sucede com a divulgação de um vídeo do mesmo apresentando uma caça a um easter egg, e quem o encontrar herdará toda sua fortuna, incluindo o domínio total de sua maior criação, o Oasis.
Diversos diretores poderiam ter dirigido “Jogador Nº 1” e o filme continuaria com grandes possibilidades de ser um entretenimento delicioso. Diretores como J. J Abrams, Robert Zemeckis, Joe Johnston e vários outros – que obtiveram nos anos 80 toda sua formação cultural – com o material de Cline em mãos, iriam entrar em êxtase para inserir toda a nerdice que consumiram na vida. Mas foi Steven Spielberg quem aceitou dirigir o projeto. Justamente a pessoa que remodelou os anos 80 com filmes que revolucionaram o cinema – tanto em linguagem quanto visualmente. Spielberg é o mentor de todos esses diretores que seriam também de grande serventia a este filme, mas com o mestre assumindo o comando de “Jogador Nº 1”, aos 71 anos de idade (quando dirigiu ao filme) ele prova que continua com sua criatividade intacta, e mostra o porque detém a honra de ser o diretor mais influente do cinema.
Ao assistir “Jogador Nº 1” me senti como se estivesse voltando novamente ao livro. As adaptações realizadas para tornar a trama mais dinâmica, e frenética ao público atual, são bem vindas e respeitam o texto de Cline. Toda a essência, e as principais passagens da obra literária, são tratadas com carinho e desenvolvidas com sensibilidade, fluidez e vivacidade visual – característica que nas mãos de Spielberg ganha ainda mais contorno, estética e estofo.
“Jogador Nº 1” possui uma trama bastante simplória que recicla o velho clichê de vilão e mocinho tão costumeiros nos filmes da década de 80. Faz parte do pacote! No entanto, é justamente no desenvolvimento deste universo virtual, na ação e interação dos personagens que reside toda a capacidade do filme de nos entreter a um nível surpreendente. Nunca fui fã de vídeo games, mas me senti dentro de um, participando de um jogo em tempo real. E como amante do cinema, as diversas referências a filmes clássicos são a cereja do bolo que tornam a experiência de assistir “Jogador Nº 1” ainda mais identificável, imersiva e extasiante.
Aliás, as referências, como no livro, são o grande chamariz da obra. Os dois materiais são fundamentados em cima da nostalgia, mas mais ainda no filme, o impacto consegue ser muito maior por justamente existir a possibilidade de visualizar os personagens e jogos que fizeram parte da nossa vida. Outro ponto positivo do longa, e requerido por Spielberg, é nunca tornar as referências como prioridades. Elas existem aos montes mas nunca roubam o interesse do público pelo desenvolvimento da história – e muitas até se tornam parte fundamental da mesma.
Uma das minhas poucas ressalvas que tenho é com a trilha sonora. John Williams estava trabalhar aqui. Quem assumiu o lugar do frequente colaborador de Spielberg foi Alan Silvestre – conhecido pela música de clássicos como “De Volta Para o Futuro” e “Forrest Gump”, e também o tema principal da Marvel Studios no cinema. É outro grande compositor responsável por trilhas sonoras memoráveis, mas que aqui, infelizmente, não cria nenhum tema instigante ou que dure após o término da obra. Exemplo: assista ao primeiro trailer de “Jogador Nº 1” exibido na Comic Con San Diego do ano passado. A trilha é espetacular! Quando Silvestre inova a melodia de “Pure Imagination”, música de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” de 1971, injetando grave e tornando o ritmo lento da melodia original em uma composição épica, confesso, que fiquei bastante arrepiado. Já no filme, o resultado é competente e colabora com as cenas, mas longe do memorável.
“Jogador Nº 1” é uma diversão garantida com um Steven Spielberg em plena disposição, criatividade e empolgação. Uma ficção científica/aventura/fantasia que merece uma revisita e que promete deixar um sorriso grande no rosto. É um entretenimento de alto nível, e muitíssimo empolgante. Um filme pipoca da melhor qualidade realizado pelo mestre do gênero. Recomendado!
Ready Player One-EUA
Ano: 2018 – Dirigido por: Steven Spielberg
Elenco: Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, Simon Pegg, Mark Rylance…
Sinopse: Num futuro distópico, em 2044, Wade Watts (Tye Sheridan), como o resto da humanidade, prefere a realidade virtual do jogo OASIS ao mundo real. Quando o criador do jogo, o excêntrico James Halliday (Mark Rylance) morre, os jogadores devem descobrir a chave de um quebra-cabeça diabólico para conquistar sua fortuna inestimável. Para vencer, porém, Watts terá de abandonar a existência virtual e ceder a uma vida de amor e realidade da qual sempre tentou fugir.