Crítica: Loki – 1ª temporada – Disney+
Quando Loki pegou o Tesseract e conseguiu escapar dos Vingadores durante os acontecimentos de “Vingadores:…
Quando Loki pegou o Tesseract e conseguiu escapar dos Vingadores durante os acontecimentos de “Vingadores: Ultimato”, era questão de tempo até a Marvel anunciar algum projeto relacionado ao personagem. E já que a Disney estava prestes a lançar o seu serviço de streaming, nada mais lógico do que colocar a Marvel e as demais empresas da casa para trabalhar e criar conteúdo para o serviço.
De todas as séries até o momento lançadas pela Marvel Studios, “Loki” é que mais se destaca pela originalidade de mundo e pela importância em estabelecer definitivamente a existência do Multiverso na Marvel. Após a Saga do Infinito, agora os planos é construir histórias que continuarão a se relacionar entre si, mas também que irão abrir espaço para trabalhar com outras propriedades intelectuais do passado como, por exemplo: trazer novamente Tobey Maguire e Andrew Garfield como Homem-Aranha, ou Hugh Jackman como Wolverine, ou Alfred Molina como Doutor Octopus (está confirmado no novo filme do Homem-Aranha), ou Jamie Foxx como Electro (também confirmado no próximo filme do Homem-Aranha), ou ressuscitar personagens aclamados que foram mortos ao longo dos filmes (Homem de Ferro, Viúva Negra, Thanos…), afinal, se existe centenas de realidades e variantes do Loki, também existem centenas de variantes de todos os demais personagens do MCU (Tom Cruise fazendo participação como Homem de Ferro, já que o ator era a primeira escolha para o papel, não é impossível). A graça está em juntar todas as possibilidades e criar uma salada deliciosa que supere os dez anos iniciais da Marvel Studios no cinema.
Mas se tem algo que o presidente da Marvel, Kevin Feige, tem é: paciência. Ele entende a importância de se criar algo coeso e bem estruturado, e não cede ao desespero dos fãs de receber o que desejam tão abruptamente. Tudo a seu tempo com muita calma e planejamento. E “Loki” é somente um chute inicial em uma ideia de Multiverso que já tinha sido inicializada em “Vingadores: Ultimato”, foi trabalhada sutilmente na série “WandaVision”, e agora com “Loki” recebe o green pass de confirmação: Estamos, sim, diante de um Multiverso!
Criado por Michael Waldron e com direção de Kate Herron, “Loki” nos reapresenta a um personagem tão querido que foi se tornando, ao longo dos anos, um anti-herói com uma trajetória de redenção que culminou em um final trágico em “Vingadores: Ultimato”. Este Loki da série é o Loki pós-primeiro filme do “Vingadores”, quando este tinha acabado de invadir New York com um exército alienígena e não passou pela perda de entes queridos ou de Asgard. Mas com uma sacada inteligente do roteiro, ele terá contato com o seu futuro após ser preso pela AVT (Autoridade de Variação Temporal), um órgão acima de qualquer realidade responsável por manter a ‘linha do tempo sagrada’ intacta e impedir ramificações indesejadas. Portanto, quando Loki foge com o Tesseract, ele quebra essa linha sagrada, foge de seu destino e se torna uma Variante Temporal.
Os conceitos de viagem no tempo sempre são problemáticos em qualquer intenção de buscar entendê-los com minúcia. Nenhum filme ou série que trabalhe o assunto será 100% coesa. A série é uma justificativa para estabelecer o Multiverso da Marvel a partir de um personagem também cheio de camadas, e sentimentos e de pura imprevisibilidade. Os dois primeiros capítulos são magistrais ao nos transportar para um mundo que mescla o antigo com o moderno de maneira original, convincente e sutilmente estranha – mas que combina com as ambições do seriado.
Já do terceiro episódio em diante temos um mergulho maior na natureza do personagem título, e em sua constante busca por aprovação, poder e domínio. Ao introduzir suas variantes, temos um vislumbre que coloca o personagem em um contraponto divertido com ele mesmo, mas não menos intrigante e dramaticamente poderoso.
“Loki”, como já dito antes, é um seriado com ambições maiores de estabelecer o Multiverso na Marvel. O roteiro do show insere elementos essenciais como os Guardiões do Tempo e trabalha com competência o suspense em torno de suas identidades. Os fãs mais apaixonados teorizam aos montes sobre possibilidades diversas, e a Marvel mantém assim a chama acesa por sua marca.
Mas “Loki” não é uma série perfeita. A começar por algumas justificativas preguiçosas que pouco explicam e geram ainda mais perguntas. Se mexer na linha do tempo é considerado impróprio pela AVT, a ida ao passado pelos Vingadores e pelo próprio Capitão América (que escolheu ficar no passado com a Peggy) também são inaceitáveis, mas a série simplesmente não se dá ao trabalho de criar uma justificava melhor trabalhada e só joga : “O que aconteceu com os Vingadores estava previsto! Tinha que acontecer!” e pronto. Temos que aceitar e ponto final.
Além de algumas atitudes que pouco colaboram para a imagem de O Rei da Trapaça do próprio personagem. Vendido como alguém sagaz, imprevisível e bastante inteligente, algumas atitudes do Loki passam longe das características citadas e o personagem soa besta, bobão e em nada inteligente (como ficar bêbado e estragar um plano essencial. À priori, até pensamos ser tudo parte de um plano maior, mas, na verdade, era só bobeira mesmo). E se Loki tem o poder de se transformar em outras pessoas, porque não usar isto para ajudar a entrar escondido nos lugares? Facilitaria muita coisa.
Mas, enfim, apesar dos deslizes e ressalvas que são comuns em qualquer projeto, principalmente de super-herói, “Loki” é uma série com uma direção de arte e construção de mundo impecáveis Os atores são formidáveis e o maior destaque vai, claro, para o sempre excelente Tom Hiddleston, que melhora até o mais cafona dos diálogos. Além de engatar uma química memorável com o Agente Mobius, interpretado pelo também ótimo Owen Wilson.
Objetiva, sem muita enrolação desnecessária ou cansativa, “Loki” mantém um ritmo envolvente e divertido que nada impede depois uma maratona rápida e envolvente.
Loki-SEASON 1 -EUA / 2021
Total de episódios: 08
Para assistir: DISNEY+
Criado por: Michael Waldron
Direção de: Kate Herron
Com: Tom Hiddleston, Owen Wilson, Gugu Mbatha -Raw, Sophia Di Martino…