Crítica: Ludmilla mostra talento e versatilidade em EP de pagode, ‘Numanice’
Quando Ludmilla prometeu um EP de pagode caso ganhasse o Prêmio Multishow de 2019, criou-se…
Quando Ludmilla prometeu um EP de pagode caso ganhasse o Prêmio Multishow de 2019, criou-se uma grande expectativa. Demorou seis meses, mas o projeto chegou. Numanice estreou nas plataformas digitais na última sexta-feira (24) – aniversário de 25 anos da artista! – e mostra talento, versatilidade e talvez o melhor momento da carreira da cantora.
O EP tem apenas seis faixas. Destas, quatro são composições originais de Ludmilla (!) e duas são regravações – Te Amar Demais é do cantor Sodré; Pôr Do Sol na Praia é um dueto do cantor Silva com Lud, lançada anteriormente como uma batida voz e violão cool.
Logo na faixa de abertura, Amor Difícil, Ludmilla mostra a que veio. A voz da cantora casa-se perfeitamente com o pagode e, por alguns momentos, nem parece que ela, em outrora, ficou conhecida pelo trabalho com faixas mais pop.
Transitar entre um gênero e outro com tanta naturalidade é raro. Sobretudo em um trabalho como o de Lud, cuja imagem está muito atrelada ao funk – desde os tempos de Mc Beyoncé. Vale lembrar que, inclusive, no ano passado a cantora investiu pesado em um projeto audiovisual que enaltece o funk.
Paixão antiga
Não é de hoje, entretanto, que Ludmilla mostrou que tem aptidão para o gênero musical. A aposta para o lançamento deste EP, na verdade, começou quando a cantora postou um vídeo cantando pagode de forma despretensiosa em uma festa em casa.
E, antes mesmo de a funkeira ter de pagar a promessa, lançou uma versão pagode da faixa A Boba Fui Eu – originalmente uma parceria com o cantor Jão para o DVD Hello Mundo – e um cover de Faz Uma Loucura Pra Mim, de Alcione.
As faixas foram um aperitivo do que estava por vir. E a boa aceitação do público e da crítica deu ainda mais gás para o nascimento do Numanice.
Cantora, compositora E produtora
O projeto, além de mostrar versatilidade na voz da cantora, explora outros talentos dela enquanto artista. Como dito, ela compôs mais da metade do EP, mostrando que tem mais profundidade, maturidade e criatividade.
Quem lê as estrofes de Amor Difícil ou Cheiro Bom do Seu Cabelo e as compara com Verdinha e Fala Mal de Mim não imagina que foram escritas pela mesma pessoa.
Os dotes de Ludmilla como compositora, entretanto, não são contestáveis. A funkeira tem uma boa relação com a caneta e o papel na hora de escrever hits, sempre o faz de forma rápida e decente, e tem orgulho do produto final.
Tanto que os direitos autorais de uma música rendeu uma rusga com Anitta. As duas entraram em uma briga judicial pelos direitos da composição de Onda Diferente, presente no último disco da cantora de Honório Gurgel, Kisses.
Numanice também tem os créditos de Ludmilla como produtora, ao lado de Rafael Castilhol. Este nome também está por trás de grandes nomes do pagode, como Alexandre Pires e Belo. Recentemente, ele fez parte da banda de Anitta e assina um dos maiores hits da funkeira, Movimento da Sanfoninha (aquele do “vocês pensaram que eu não ia rebolar a minha bunda hoje, né?”).
Por fim…
É uma pena que Numanice tenha sido lançada em um momento de isolamento social. Cada faixa é um convite para tomar uma cerveja gelada com os amigos, assando um churrasco, com muito abraço e muita aglomeração.
Este EP, com certeza, é um divisor de águas na carreira de Ludmilla, muito mais do que A Danada Sou Eu e, talvez, Hello Mundo. Caso a cantora decida tornar este projeto paralelo em algo ainda maior, ela com certeza não terá qualquer resistência da equipe, da gravadora ou mesmo do público.
