Crítica: Maigret e Seu Morto (2016)
Já faz tempo que estou querendo falar sobre esta nova versão de Jules Maigret, personagem fictício…
Já faz tempo que estou querendo falar sobre esta nova versão de Jules Maigret, personagem fictício de novelas policiais criado pelo escritor belga Georges Simenon, e que já apareceu em mais de 75 novelas, 28 contos e já foi adaptado diversas vezes em séries e filmes para a TV. É um desses personagens de obras policiais que de tanto ser levado para o público, entra em definitivo para a cultura, mas aqui no Brasil, e até nos EUA, é pouquíssimo conhecido. Maigret é mais aclamado na Europa, especialmente na Inglaterra, onde sempre foi seu berço midiático, mas ao longo das décadas tanto atores ingleses quanto francesas já encarnaram o personagem.
Curiosamente, o último ator a assumir o papel de Maigret é o inglês totalmente inesperado: Rowan Atkinson. Para quem não lembra do nome, vai reconhecer ao saber que Atkinson é mais conhecido por comédias e ficou mundialmente famoso por ter criado o Mr. Bean. Isso mesmo! Atkinson, um dos ícones da comédia inglesa e mundial, abandona totalmente sua zona de conforto para assumir não apenas um personagem dramático, como um dos mais conhecidos, e adaptados, da literatura e televisão. O ator estreou em 2016 com o primeiro de dois filmes da primeira temporada, composta, respectivamente, por “Maigret Prepara Uma Armadilha” e “Maigret e Seu Morto” – ambos lançados no mesmo ano e ambos disponíveis no catálogo do streaming Belas Artes à La Carte.
Maigret é um personagem curioso. Ele não possui características fortes como um Sherlock Holmes, por exemplo. Seu atributo visual mais memorável talvez seja o cachimbo sempre presente, e que rende cenas de perfil super charmosas. Maigret é um policial astuto, inteligente, e possui um estilo recluso, analítico e com menos ação. Em suas histórias as reviravoltas surgem com calma, sem alarde e com paciência. Mas o roteiro é competente ao não desviar o foco com tramas paralelas, mas concentrar toda sua força no caso principal. A direção firme junto com a linda direção de arte e a competente trilha sonora só colaboram para um filme fluido e instigante.
Rowan Atkinson não precisa provar mais nada na comédia, mas aqui, o ator surpreende no drama com uma sutileza e serenidade que fazem seu Maigret hipnotizante e instantaneamente carismático. Atkinson só conseguiria um efeito tão positivo, na pele do detetive, apenas hoje em sua velhice, já que o rosto mais enrrugado, os cabelos brancos e o ar maduro colaboram para desassociá-lo mais facilmente de seus personagens cômicos (ainda que tenha seu grau de dificuldade).
Maigret’s Dead Man/REINO UNIDO – 2016
Dirigido por: Jon East
Com: Rowan Atkinson, Dorottya Hais, Mark Hadfield, Leo Staar…
Sinopse: Maigret mergulha no obscuro submundo parisiense. “Maigret e seu Morto” adapta o livro “Maigret et Son Mort”, de Georges Simenon. Na história, quando três ricos fazendeiros são mortos por uma gangue, a polícia começa a investigar o crime. Mas Maigret está mais interessado em solucionar o assassinato de um desconhecido, que no fim de contas, será a chave para a solução de todos os crimes.