Crítica: Matrix Ressurrections (2021)
Acredito que “Matrix” dispensa apresentações pois é uma das franquias – principalmente o primeiro filme…
Acredito que “Matrix” dispensa apresentações pois é uma das franquias – principalmente o primeiro filme – mais influentes do cinema, e que reformulou o gênero de ação e ficção científica na virada do século XX para o XXI. Quase 20 anos após o lançamento do terceiro longa em 2003, eis que retornamos ao mundo criado pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski (agora somente Lana está na direção, Lilly não quis participar) em um projeto ambicioso cheio de metalinguagem e comentários sociais à um mundo cada vez mais conectado – um cenário amplo e excelente para a franquia se atualizar.
Após o final de “Matrix Revolutions”, onde aparentemente Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie Anne-Moss) haviam morrido, agora estamos novamente com os personagens conectados à Matrix em um reboot que reformulou completamente a vida dos personagens, com Neo se tornando um programador de vídeo games e em constante observação pela Matrix. O mundo agora é outro, mas ameaças antigas retornam e novas surgem colocando o futuro de Neo, mais uma vez, em debate. Os acontecimentos dos filmes anteriores são inseridos dentro da história em uma metalinguagem que utiliza o antigo para tecer paralelos ao novo, e mostrar que o mundo se repete – só mudam os cenários e personagens mas a história, em sua essência, permanece a mesma. E “Ressurrections” é um filme de romance, uma obra de amor sobre amor e como este é importante na vivência, e convivência, em sociedade.
“Matrix Ressurections” ainda não supera o original, mas consegue ser intrigante em alguns momentos. Não é perfeito, e o longa perde a oportunidade de se aprofundar com mais ênfase nos debates sociais e psicológicos apresentados pela própria história, se contentando no superficial clichê e previsível. O roteiro escrito por Lana, David Mitchell e Aleksandar Hemon tenta ser tudo ao mesmo tendo, seja fazer do filme uma continuação cronologicamente coerente da trilogia, ou ser um reboot com novos atores que encarnam novos personagens ou um projeto de metalinguagem para criticar a própria indústria do entretenimento no geral – como algo repleto de projetos desenvolvidos sem originalidade ou competência apenas para vender e agradar os grandes estúdios e seus executivos (o paradoxo é que a própria franquia Matrix abraçou este pensamento industrial).
Meu maior problema com “Ressurrections”, no entanto, está longe de ser com a história, mas sim, com a direção de Lana Wachowski. O filme é que o menos possui a identidade Matrix de toda a franquia, e ainda que se justifique dizendo que ‘é um reboot, é uma nova realidade criada pelas máquinas’, o filme visualmente é genérico e sem personalidade. A fotografia de Daniele Massaccesi e John Toll é competente, agora com cores mais vivas e alegres, mas pouco se assemelha ao visual esverdeado icônico dos longas anteriores (e quando os personagens estão fora da Matrix, os tons de azul são os mesmos e continuam fieis à trilogia original).
E não somente o visual é genérico, como a ação é também decepcionante e nada empolgante. Ação sempre foi o forte da franquia com suas câmeras lentas e coreografias inspiradas nas artes marciais – e tudo isso mesclado com bastante tiroteios e saltos inimagináveis (afinal, estamos dentro de um computador). Já aqui, não temos uma cena memorável de ação! Os cortes são bruscos e frenéticos prejudicando nosso entendimento da cena. O que antes era visível e estiloso, agora se transformou em um filme de ação qualquer, um genérico sem personalidade e criatividade.
Outra característica péssima do filme é o excesso de diálogos expositivos. Os filmes anteriores sempre tiveram momentos minuciosamente explicativos, mas aqui o roteiro exagera na dose. Todo novo personagem que aparece a primeira coisa que ele faz é explicar ao público quem é ele, o que ele faz, qual o seu objetivo, onde estamos na história, o que Neo precisa fazer, e etc, etc, etc. É chamar o público de idiota! Eu gosto de receber explicações em filmes, mas quando pertinentes e não em demasia. Em “Ressurrections” chega a ser engraçado o quantidade de vezes que este recurso é utilizado.
“Matrix Ressurrections” vai ser divisivo e isto é bom, pois agrega debates e análises mais profundas sobre o filme. Por um lado admiro a ousadia de Lana em voltar à franquia e buscar respeitar o legado dos filmes anteriores mas tentar entregar, ao mesmo tempo, algo novo para o público. É uma tarefa difícil. Particularmente, o filme não me conquistou e perde muitas oportunidade tanto em roteiro quanto em diversão. Para mim, o melhor Matrix deste ano se chama “Free Guy – Assumindo o Controle”.
Matrix Ressurrections/EUA – 2021
Dirigido por: Lana Wachowski
Com: Keanu Reeves, Carrie Anne-Moss, Neil Patrick Harris, Yahya Abdul-Mateen II , Jonathan Groff, Jessica Henwick…
Sinospe: Se passando 20 anos após os acontecimentos de de Matrix Revolutions, Neo vive uma vida aparentemente comum sob sua identidade original como Thomas A. Anderson em São Francisco, Califórnia, com um terapeuta que lhe prescreve pílulas azuis para neutralizar as coisas estranhas e não naturais que ele ocasionalmente vislumbra em sua mente. Ele também conhece uma mulher que parece ser Trinity (Carrie Anne-Moss), mas nenhum deles se reconhece. No entanto, quando uma nova versão de Morpheus oferece a ele a pílula vermelha e reabre sua mente para o mundo da Matrix, que se tornou mais seguro e perigoso nos anos desde a infecção de Smith, Neo volta a se juntar a um grupo de rebeldes para lutar contra um novo e maois perigoso inimigo e livrar todos da Matrix novamente.