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Crítica: Não Olhe Para Cima (2021) – Netflix

Entre o filme e o mundo real, o mundo real é mais engraçado e assustador - infelizmente

(Foto: Reprodução/Netflix)

Adam McKay era um diretor conhecido pela parceria com Will Farrell e comédias pastelões como “Quase Irmãos”, “Os Outros Caras”, “Ricky Bobby – A Toda Velocidade” e as fenomenais “O Âncora” e “Tudo Por Um Furo” (continuação de “O Âncora”) – aliás, todos filmes estrelados pelo próprio Farrell. Mas em 2015, McKay conquistou a crítica ao escrever e dirigir “A Grande Aposta”, um filme sobre a crise financeira de 2008 e um grupo de pessoas que faturou milhões apostando contra a crise, enquanto a maioria perdia empregos, etc. É um filme dramático mas ao mesmo tempo comicamente trágico, e carregado de uma originalidade na maneira como o roteiro explica ao público a funcionalidade e termos deste universo financeiro. O trabalho rendeu a McKay o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e colocou o diretor em uma nova fase em Hollywood.

Depois de “A Grande Aposta”, McKay escreveu e dirigiu “Vice”, sobre a trajetória do polêmico e controverso ex-presidente de George W. Bush, Dick Channey, e sua forte influência na política norte-americana. O filme carrega o estilo de filmagem documental de McKay e possui também a mescla de drama com sátira e crítica social que se tornaram a marca registrado do diretor. O resultado não foi tão arrebatador quanto a “A Grande Aposta”, e muito do assombro do filme deve-se à atuação excelente de Christian Bale.

Agora em parceria com a Netflix, McKay lança este “Não Olhe Para Cima”, que também carrega as assinaturas habituais do diretor: a câmera documental, a mescla de drama com sátira e a crítica social. E nada mais oportuno do que lançar um filme nos dias de hoje que busca mostrar a incredulidade de uma sociedade diante da ciência, e como o negacionismo é motivado por ambições particulares, financeiras, política, religiosas ou simplesmente acreditar cegamente em um líder populista que, na realidade, só pensa no próprio umbigo.

O filme assume um lado, sem dúvida, e por isto é natural que irá dividir opiniões. Mas ainda que a obra seja superficial nos temas abordados, o óbvio é por si só assustador. Assistir a esta recriação de como o mundo e seus líderes, e cidadãos, se comportam atualmente – principalmente com redes sociais em mãos – é desacreditar totalmente na raça humana. E o efeito é devastador não por méritos do filme em si, mas por causa da própria realidade que vivenciamos todos os dias, e saber de que tudo apresentado no longa é, de fato, real e apenas a ponta do iceberg.

Na trama, Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence interpretam cientistas que descobrem um cometa gigante que está vindo em direção à Terra e com capacidade de destruição total da raça humana. O tempo até o impacto? Seis meses! Diante disso, a dupla se encontra com a presidente dos EUA (Meryl Streep) e a notícia é recebida sem muito alarde, já que o pânico a ser gerado pode prejudicar o resultado nas futuras eleições. Então, a dupla tenta a mídia e são entrevistados por uma dupla de jornalistas (Cate Blanchett e Tyler Perry) interessados apenas na audiência e em entregar um show divertido para os telespectadores. Com o passar do tempo, surgem grupos que acreditam na informação, outros que negam o fato e até um CEO de uma empresa bilionária de tecnologia (Mark Rylance – muito parecido com o Tim Cook da Apple) também entra na história com intenções de explodir o cometa, e posteriormente minerá-lo para utilizar seus minerais em futuros projetos tecnológicos.

“Não Olhe Para Cima” é um filme pessimista e sem uma visão esperançosa da humanidade (particularmente, é uma visão que compartilho), e portanto, vai de cada um concordar ou não com a obra. Como cinema, acredito que o enredo se contenta com o óbvio e perde a oportunidade de ser ainda mais satírico e cínico com os temas trabalhados. Nada surpreende, nada diverte e tudo acontece de acordo com o previsto. Ainda que a obviedade fosse presente, o desenvolvimento da história poderia ser mais cômico e estilístico como McKay fez em “A Grande Aposta”. Para um filme que se vende como uma comédia, a sátira é boba e nada engraçada. Neste caso, a realidade vale muito mais a pena pois rende risos mais calorosos. Infelizmente.

Don’t Look Up/EUA – 2021

Dirigido por: Adam McKay 

Com: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Jonah Hill, Mark Rylance, Cate Blanchett, Ariana Grande, Tyler Perry, Ron Perlman, Timotheé Chalamet…

Sinopse: Não Olhe Para Cima conta a história de Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), dois astrônomos que fazem uma descoberta surpreendente de um cometa orbitando dentro do sistema solar que está em rota de colisão direta com a Terra. Com a ajuda do doutor Oglethorpe (Rob Morgan), Kate e Randall embarcam em um tour pela mídia que os leva ao escritório da Presidente Orlean (Meryl Streep) e de seu filho, Jason (Jonah Hill). Com apenas seis meses até o cometa fazer o impacto, gerenciar o ciclo de notícias de 24 horas e ganhar a atenção do público obcecado pelas mídias sociais antes que seja tarde demais se mostra chocantemente cômico.

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