Crítica: O Último Duelo (2021)
Baseado no livro escrito por Eric Jager, “O Último Duelo” se passa no século XVI…
Baseado no livro escrito por Eric Jager, “O Último Duelo” se passa no século XVI e mostra o cavaleiro Jean de Carrouges (Matt Damon), um devoto soldado à França e ao rei Carlos VI, acusar o também servo da corte Jaques Le Gris (Adam Driver) de ter estuprado a sua esposa Marguerite Carrouges (Jodie Comer). O caso é levado para diante do rei que aceita a decisão de julgamento por combate. Se Carrouges vencer a luta, ele ganha a causa e mantém a honra de seu nome. Se o vencedor for Le Gris, Marguerite será condenada à fogueira por perjúrio.
Não há problema algum em abordar temas relevantes no cinema, principalmente temas atuais e quando este assunto é estupro e são as mulheres as maiores vítimas de tal ato desde que a humanidade é humanidade. O roteiro de Nicole Holofcener e Matt Damon é interessante ao dividir o longa em três capítulos e cada um deles ser a versão dos personagens sobre um determinado acontecimento. Mas, acima de tudo, “O Último Duelo” mostra o machismo inserido na sociedade, em tempos onde a mulher era propriedade do homem e era constantemente calada e pouco relevante.
Ainda que tenhamos, de fato, um estuprador na história, Marguerite é casada com um homem insensível que só pensa em sua imagem e conquistas. Na hora do sexo não lhe preocupa em proporcionar prazer, e apenas a usa para gozar e ponto final (ainda que com o consentimento da esposa, o filme faz paralelos sobre este tipo de atitude egoísta não ser muito diferente das intenções de uma pessoa que estupra: gozar e fim). E até mesmo as personagens mulheres de seu convívio são influenciadas pelo peso das consequências sociais: sua sogra lhe diz para ficar calada, levantar a cabeça e seguir em frente pois de nada vai adiantar, e sua melhor amiga, ao descobrir sobre o estupro, não acredita em suas palavras. O próprio ato de resolver uma situação tão emocionalmente séria para a mulher em uma disputa de força entre dois homens só ressalta o absurdo de um problema que já existia desde séculos atrás.
Aliás, “O Último Duelo” é um filme justamente criado para mostrar que nada mudou e como o homem continua a não entender a gravidade de suas atitudes. Tanto a versão de Jean de Carrouges quanto a de Jaques Le Gris são marcadas por situações amenizadas da versão da vítima, e observadas através de uma olhar satisfatório para o narrador. Mas falta a este filme dirigido por Ridley Scott maior sagacidade e tensão ao desenvolver sua narrativa. O filme se contenta em estabelecer suas peças no tabuleiro, com seu próprio julgamento (válido) da situação, mas como cinema carece de imprevisibilidade e dramas menos óbvios que deixam tudo previsível e em nada instigante.
Mas o elenco de “O Último Duelo” é excelente. Matt Damon é um bruto ignorante que convence de sua força indomável enquanto Adam Driver até engana com certo charme, antes de se transformar em um ser desprezível que utiliza a religião, e a falsa desculpa do ‘amor’, para justificar suas atitudes. Ben Affleck é outro cuja ‘canastrice’ se encaixa perfeitamente com um personagem mulherengo e desonesto. Mas a grande atuação é a de Jodie Cormer, que encarna a personagem mais difícil e cheia de nuances do longa.
“O Último Duelo” pode não ser perfeito, mas é um filme muitíssimo competente ao mostrar a dificuldade da vítima e o papel da mulher em um cenário controlado por homens. Possui um clímax empolgante, com o aguardado duelo do título, e um elenco tão competente que, ao fim, é um cinemão que compensa bastante.
The Last Duel/EUA – 2021
Dirigido por: Ridley Scott
Com: Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer, Ben Affleck…
Sinopse: O Último Duelo é uma história sobre o duelo entre o cavaleiro Jean de Carrouges e o escudeiro Jaques Le Gris, acusado de ter violado a esposa do cavaleiro. A luta, estabelecida pelo próprio rei da França, Carlos VI, marca o grande drama de vingança e crime do século XIV, que tem a esperança de ser resolvido somente após o combate. Baseado no romance homônimo de Eric Jager.