Streaming

Crítica: Os Olhos de Tammy Faye (2021) – Star+

Tammy Faye e Jimmy Bakker eram um casal evangelista cristão nos EUA que se tornaram…

Tammy Faye e Jimmy Bakker eram um casal evangelista cristão nos EUA que se tornaram celebridades após o lançamento do programa televisivo The PTL Club em 1974. Mas o império foi por água abaixo quando Bakker foi indiciado, condenado e preso por diversas acusações de fraude e conspiração em 1989, o que resultou no fim do programa televisivo, e de todas as propriedades ligadas ao nome do casal – até então, queridinho da televisão.

Desde o título, o diretor Michael Showalter e os roteiristas Fenton Bailey e Randy Barbato deixam evidentes a intenção do projeto de contar a história através da personagem Tammy Faye (Jessica Chastain), que se tornou um desses símbolos midiáticos curiosos, e que com o passar dos anos foi ganhando uma imagem cada vez mais cafona, visualmente exagerada e um prato cheio para os programas de humor.

“Os Olhos de Tammy Faye” abraça uma narrativa clássica de cinebiografia, e apresenta quase quatro décadas da vida da protagonista em duas horas de filme, explorando um pouco da infância de Tammy e seu relacionamento difícil com a mãe (Cherry Jones), quando ela conheceu Bakker (Andrew Garfield) quando estava na universidade e depois durante a ascensão e queda de todo o império evangelístico criado pelo casal.

Cheio de ritmo e ancorado pela atuação soberba de Chastain, que capta cada nuance do falar, andar e agir de Faye, o filme é um retrato competente, mas superficial de um casal polêmico e conturbado. Torna-se até repetitivo pois o longa assume que Faye não sabia das ilegalidades do marido, portanto, ela não sabe de nada e se torna vítima e reatora aos problemas (mas não polpava gastar milhões em roupas caríssimas, o que levanta questionamentos sobre sua honestidade diante dos fatos).

Mas o filme nunca mexe na ferida e se contenta em um retrato básico do casal Jim e Tammy. Questões como o envolvimento de ambos na política, ou o desconforto que eles causavam dentro do próprio meio evangélico ao abraçar um estilo de programa extremamente popular, ou até mesmo as relações homossexuais de Jim Bakker. Muito é apenas citado, sugerido, ou superficialmente trabalhado, mas nada que torne o projeto interessante o suficiente para fugir do óbvio.

Além de ser um desperdício de oportunidade por não explorar com mais afinco este universo industrial, e corrupto, que se tornaram as igrejas evangélicas e suas empresas de rádio, TV e etc – tudo em nome do “Senhor”. Bakker, por exemplo, saiu da prisão, está vivo, mas continua o mesmo impostor de sempre vendendo remédio contra COVID aos ansiosos por soluções mágicas. É lamentável!

E não posso deixar de falar da maquiagem extremamente incômoda. Entendo as intenções de tornar os protagonistas mais próximos aos personagens reais, mas a maquiagem de Andrew Garfield nunca o deixa parecido com Jim Bakker, e nem precisava. Mas fizeram questão e o resultado distraí muito. O mesmo para Jessica Chastain, que quando jovem causa estranheza pela obviedade da maquiagem, mas quando envelhece é, ao menos, favorecida pela plasticidade e cafonice da verdadeira Tammy Faye (busque fotos na internet e você vai entender).

Envolvente como filme, mas decepcionante por desperdiçar temas e situações pertinentes e relevantes ao casal central, “Os Olhos de Tammy Faye” vale muito mais pelo ótimo elenco – destaque, mais uma vez, para a excepcional Jessica Chastain.

The Eyes of Tammy Faye/EUA – 2021

Dirigido por: Michael Showalter

Com: Jessica Chastain, Andrew Garfield, Cherry Jones, Vincent D’Onofrio…

Sinopse: Os Olhos de Tammy Faye é uma ficção que acompanha a ascenção e queda da televangelista norte-americana Tammy Faye Bakker (Jessica Chastain) e de seu marido, Jim Bakker (Andrew Garfield) nas décadas de 1970 e 1980, que vieram de origens humildes e conseguiram criar a maior rede de radiodifusão religiosa do mundo. Conseguindo reverência por sua mensagem de amor, aceitação e prosperidade, Tammy Faye era lendária por sua beleza, seus olhos de maquiagem bem marcada, seu canto e seu jeito com as pessoas. No entanto, os escândalos e seus rivais procuraram alguma forma de derrubar seu império – e ela tentará superar os ataques e retomar tudo o que construiu.