Opinião

Crítica: Oscar 2022

Particularmente, não gosto de escrever críticas de premiações. Em sua essência, premiações não saem de…

Particularmente, não gosto de escrever críticas de premiações. Em sua essência, premiações não saem de um molde engessado cujo padrão é apresentar categorias e entregar prêmios. Ponto. Ou seja: em sua essência, é naturalmente algo chato de ver.

Claro, uma premiação pode ter momentos mais criativos do que em outras edições e tudo isso vale muito de seus artistas envolvidos, e claro, da imprevisibilidade da televisão ao vivo. E são nessas escolhas que vou martelar e aproveitar para falar do Oscar deste ano. Porque? Por que ele merece.

Então vamos direto ao momento mais lembrado: Will Smith batendo na cara de Chris Rock ao vivo após uma piada que não gostou. A piada foi fora de tom e desnecessária? Sim. Mas Smith também é comediante e deveria saber lidar com piadas pesadas. E caso não gostasse (como se provou), que usasse seu tempo de palco, e influência como artista, para criticar pacificamente. Nada justifica agressão ao vivo em uma festa para celebrar o cinema, e com milhões de pessoas assistindo. Principalmente vindo de um ator que prega amor e proteger as pessoas – algo que ele ressaltou em seu discurso de vitória quando ganhou o prêmio de Melhor Ator por “King Richard”. Parabéns pela intenção de proteger a esposa com alopecia (doença que causa perda de cabelo e tema da piada de Rock), mas repito: sair do lugar e agredir publicamente na televisão outra pessoa não é o caminho. Diante de tudo que Smith prega, tal atitude é no mínimo hipocrisia. Defender alguém não, necessariamente, requer violência e ali, naquele momento, não era necessário. Podia até ter subido no palco e interrompido o discurso de Rock, mas bater? Não precisava!

Outra escolha equivocada e desrespeitosa foi a decisão de premiar oito categorias antes do início da festa, e mostrar a gravação durante a transmissão ao vivo. A intenção era diminuir a duração da festa e criar um show mais objetivo, mas isto não faz sentido quando você, ao mesmo tempo, chama três comediantes para apresentar e até coloca um número musical que sequer foi indicado ao prêmio de Melhor Canção. A essência do Oscar é homenagear os melhores profissionais da indústria do cinema, e quando você tira isso e seu plano inicial não dá certo, é no mínimo falta de respeito.

E que homenagens mal escritas ao longo da festa. Decidiram homenagear “O Poderoso Chefão” e colocaram Al Pacino, Robert De Niro e o diretor Francis Ford Coppola no palco! Algo maravilhoso e que faz sentido, mas ao fim, Pacino e De Niro não falam nem um oi? Duas lendas do cinema! Seria melhor ter colocado os dois atores para introduzir Coppola ao palco (muito mais oportuno).

E o que falar de três atletas que foram chamados para apresentar a homenagem dos 60 anos de 007? Será que Pierce Brosnan, Daniel Craig ou qualquer outro ator envolvido no legado do personagem não estava disponível? Bem, Javier Bardem foi o melhor vilão da franquia Bond e estava presente. Não faz sentido!

Daí chegamos ao desconfortável In Memorian, parte da festa onde se homenageia os profissionais do cinema que morreram no ano anterior. Esta parte é para prestigiar os falecidos, mas tiraram o foco totalmente deles para dar mais evidência à um coral animado demais e muito chamativo. Mas gostei das inserções de outros atores para falar de alguns artistas específicos.

Confesso que o trio de apresentadoras, ainda que continue considerando desnecessário três comediantes juntas para a função, foi de longe o menor dos problemas. Pelo contrário, Amy Schumer (uma comediante que não sou muito fã) foi responsável por algumas das melhores piadas da noite, e o mesmo para Wanda Sykes e Regina Hall toda assanhada. Teve seus momentos e não prejudicou.

Mas ao fim, temos mais um Oscar onde a sensação é uma celebração cheia de oportunidades perdidas. Perderam a chance de colocar três atores do Homem-Aranha no palco, em um ano onde “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”, de fato, salvou os cinemas e é a maior bilheteria de 2021. Sem falar que ter novamente um encontro dos três astros no palco do Oscar seria inesquecível.

E tudo que vamos lembrar é do tapa do Will Smith. Um equívoco que tirou a ênfase de discursos emocionantes e fez a festa terminar com um gostinho azedo na boca. Algo que era para ser positivo, terminou desconfortável. A própria Amy Schumer fez piada com isso. Enfim, vida segue. Que venha 2023!