Crítica: Quanto Vale? – Netflix
Alguns dias após o atentado nas Torres Gêmeas em 2001, na cidade de Nova York,…
Alguns dias após o atentado nas Torres Gêmeas em 2001, na cidade de Nova York, o advogado Kenneth Feinberg aceitou uma tarefa difícil: ele ficou responsável pelo Fundo de Compensação às vítimas do 11 de Setembro, aprovado pelo governo Federal que por sua vez estava sendo pressionado pelas companhias aéreas. Para isto, Feinberg criou um código que calculava a média de ganho de cada vítima baseado em sua renda anual como empregado, e a partir disso designava um valor compensatório a ser doado para a família do falecido. Em troca, os familiares que recebessem o dinheiro não poderiam processar as companhias aéreas.
Mas como cada ser humano possui uma vida diferente um do outro, a medida se tornou polêmica por oferecer valores discrepantes entre, por exemplo, uma faxineira e um executivo de renome. Para os poderosos que faleceram na tragédia, suas partes representantes passaram a pressionar Feinberg lhe exigindo uma compensação maior, e caso não fosse aceito, eles recusariam o fundo e levariam a luta para os tribunais. O governo Federal, naquele momento presidido pelo então presidente George W. Bush, determinou um prazo e exigiu que Feinberg conseguisse, ao menos, 80% das assinaturas das famílias a serem recompensadas pelo fundo.
“Quanto Vale?” é um filme sobre empatia. Feinberg, de inicio, é um sujeito frio que procura deixar as emoções de lado para seguir um planejamento e entregar o que está sendo exigido pelo governo. Caso não atingisse a meta das assinaturas, o fundo mediador voltaria ao Senado e poderia não ser aprovado, e neste caso, ninguém receberia dinheiro algum. Para evitar isso, Feinberg passa a trabalhar mais de perto com as famílias das vítimas, e vai buscar recompensar, de maneira mais justa, cada um deles.
O filme dirigido por Sara Colangelo e escrito por Max Borenstein (que se inspirou no livro do próprio Feinberg) é um drama correto, segurado por ótimas atuações (destaque para Michael Keaton e Amy Ryan) e com um lado emocional forte que retrata de maneira honesta a dor daqueles que foram atingidos por uma das maiores tragédias do novo século.
Mas o filme carece de pulso firme e olhar mais clínico para lidar com a parte polêmica, e o roteiro é conveniente ao apostar no típico ‘arco da redenção’ bem comum a Hollywood. Nas mãos de um diretor como Adam McKay, ou Oliver Stone em seus tempos bons, “Quanto Vale?” seria um álcool na ferida. O roteiro possui excelentes possibilidades para criar uma obra critica que procure destrinchar as hipocrisias do poder. Temos aqui as grandes empresas de aviação, o governo Federal e própria parte pessoal de Feinberg que precisa lidar com os problemas reais de pessoas reais, e que não podem ser resumidas por um simples código. Ainda que o filme não abuse do melodrama e tenha uma condução sóbria, o texto perde oportunidades de criar algo mais ousado e perspicaz.
Worth/EUA – 2021
Dirigido por: Sara Colangelo
Com: Michael Keaton, Amy Ryan, Stanley Tucci, Tate Donovan, Chris Tardio…
Sinopse: Em Quanto Vale?, Ken Feinberg (Michael Keaton) é um advogado que precisa aprender o verdadeiro significado de empatia quando se depara com uma tarefa quase impossível: determinar como compensar as famílias que sofreram perdas incalculáveis como resultado dos atentados de 11 de setembro de 2001. Baseado em uma história real.