Cinema

Crítica: Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021)

Não é um filme que vai fugir da 'fórmula Marvel', mas consegue ser respeitoso com a cultura oriental e entregar ótimas cenas de ação

(Foto: Reprodução/Marvel)

A Marvel se tornou hoje uma espécie de ‘gênero próprio’ em meio aos outros filmes de super-herói de Hollywood. A famigerada ‘fórmula Marvel’ se tornou DNA da empresa e é responsável tanto por proporcionar diversão despretensiosa e engajamento em massa do público, como também por padronizar projetos cujo resultado são repetecos nada criativos (como, por exemplo, “Thor e o Mundo Sombrio”, “Capitã Marvel”, “Viúva Negra” e os dois longas do Homem-Aranha com Tom Holland). São filmes divertidos? Sim. Mas pouco inspirados em visual e narrativa. Já outros projetos da casa conseguem fugir um pouco da caixinha e trabalhar a fórmula de tal maneira que resultam em um material surpreendente, como, por exemplo: “Capitão América – O Soldado Invernal”, “Guardiões da Galáxia” e “Thor Ragnarok”.

Em meio a isso, temos alguns filmes da Marvel que são um híbrido das duas características citadas acima: conseguem trazer certa criatividade em sua execução, como “Doutor Estranho” que possui um visual transcendental belíssimo e cenas de ação que utilizam estes poderes com inventividade, e agora este “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, que é eficiente ao trabalhar as artes marciais dentro da fórmula Marvel, com cenas de ação excelentes e algumas memoráveis, mas ao mesmo tempo o filme se rende aos habituais problemas da fórmula de apostar ao colocar comédia em momentos desnecessários, que quebram a emoção e seriedade da cena, e também em uma fotografia que pouco se distingue do padrão criado pelo estúdio.

Mas “Shang-Chi” entrega um resultado muito melhor do que o esperado. Existe preocupação em aumentar cada vez mais o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), mas o enredo possui equilíbrio, e sensibilidade, ao desenvolver os conflitos principais entre o herói e seu pai, o vilão Xu Wenwu (interpretado pelo excelente Tony Chiu-Wai Leung). Além do filme prestar  homenagens deliciosas ao cinema de artes marciais – e ele o faz com respeito e eficiência.

Meu maior medo com “Shang-Chi” era com as cenas de ação, já que Hollywood não possui histórico muito bom quando decide emular a cultura oriental (recentemente tivemos o péssimo “Mulan”, lembra?). Mas aqui, o diretor Destin Daniel Cretton não somente mostra conhecer bem este cinema, como se mostra um fã ardente do mesmo. As cenas de ação de “Shang-Chi” são empolgantes, filmadas com ritmo, e estilo, e Cretton não abusa dos cortes rápidos a todo momento, mas deixa a ação fluir e a câmera se deliciar com a situação (a sequência dentro de um ônibus é maravilhosa!). Temos aqui um pouco do estilo dos filmes de Bruce Lee, um pouco de Jackie Chan e muito do clássico cinema oriental de artes marciais, como, claro, “O Tigre e o Dragão” e “O Clã das Adagas Voadoras”, para dizer alguns.

“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” é um filme perfeito? Não. É um desses projetos nível “Homem de Ferro” ou “O Soldado Invernal”? Não. Mas é uma obra que apresenta muito bem um personagem totalmente desconhecido do grande público, e consegue trabalhar com a cultura oriental dentro de uma produção norte-americana sem ser ofensivo ou caricatural. É um filme da Marvel Studios, sem dúvida, mas com ótimas cenas de ação e atores com excelente química que ajudam bastante no engajamento.

Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings/EUA – 2021

Dirigido por: Destin Daniel Cretton

Com: Simu Liu, Awkwafina, Tony Chiu-Wai Leung, Michelle Yeoh…

Sinopse: Em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, acompanhamos a história de Shang-Chi (Simu Liu), um jovem chinês que foi criado por seu pai em reclusão para que pudesse focar totalmente em ser um mestre de artes marciais. Entretanto, quando ele tem a chance de entrar em contato com o resto do mundo pela primeira vez, logo percebe que seu pai não é o humanitário que dizia ser, vendo-se obrigado a se rebelar e traçar o seu próprio caminho.

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