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Crítica: ‘Siberia’ com Willem Dafoe

Tenho preguiça com alguns filmes, e alguns cineastas soberbos que se acham superiores ao público…

Tenho preguiça com alguns filmes, e alguns cineastas soberbos que se acham superiores ao público e criam filmes difíceis mas não como algo agregador à experiência, mas difíceis por serem bagunçados, mal estruturados e cujo significado da narrativa só existe na cabeça de quem escreveu e dirigiu. “Siberia”, dirigido por Abel Ferrara e estrelado por Willem Dafoe, é um desses casos.

Em uma ambição de emular a claustrofobia e desespero de “O Farol”, aqui acompanhamos um homem solitário recluso em uma região cercada por montanhas e neve, e cujo passar dos dias naquele lugar lhe faz viver experiências que irão trazer seu passado à tona e lhe fazer encarar sentimentos profundos que lhe acusam constantemente. É uma mistura de sonhos e realidade, e tudo se converge em um resultado cheio de “ambições”, mas pessimamente desenvolvido.

Não há problema algum em obras que pedem uma atenção maior do público, ou que entregam poucas respostas para o expectador – o já citado “O Farol” é assim e alcança um resultado muitíssimo superior por existir ali uma intenção clara de objetivo e de desenvolvimento de personagens. Em “Siberia” não temos isso. Aqui, é um diretor querendo causar criando uma trama sem pé nem cabeça simplesmente por ser. Um diretor que deseja fazer o público se sentir burro por não entender os significados emocionais de seu filme, mas que na realidade, não existem nenhum. São reflexões óbvias sobre perda e relacionamento, mas maquiadas com cenas que não se conectam em nenhum momento da narrativa. É difícil por ser bagunçado, é difícil de entender pois não tem sentido algum mesmo, e é só uma intenção esnobe para ser um cineasta “autoral”. Ferrara tem muito disso na carreira, e às vezes é desnecessário e só prejudica a eficácia de uma boa história.

Willem Dafoe é uma excelente ator, sem dúvida, e aqui se esforça para entregar um personagem convincente diante das ambições soberbas de seu diretor. Mas o filme, me desculpe os fãs fervorosos de Ferrara, é insuportável.

Siberia/ITÁLIA, ALEMANHA, MÉXICO, GRÉCIA, REINO UNIDO – 2020

Dirigido por: Abel Ferrara

Com: Willem Dafoe, Dounia Sichov, Simon McBurney…

Sinopse: Em uma cabana no meio do nada, o solitário Clint (Willem Dafoe) começa a atravessar a linha entre sonho e realidade neste lugar peculiar. Ao ser provocado pelo seu psicológico e subconsciente, ele viaja por mundo de sonhos e pesadelos a fim de se encontrar.