Crítica: Titane (2021)
*ATENÇÃO! SPOILERS!* A diretora francesa Julia Ducournau mais uma vez sacudiu o Festival de Cannes…
*ATENÇÃO! SPOILERS!*
A diretora francesa Julia Ducournau mais uma vez sacudiu o Festival de Cannes ano passado quando lançou “Titane”, um thriller provocador que constrói um manifesto de emancipação feminina carregado de simbolismos estranhos, e polêmicos, que ressaltam novamente o cinema de terror fantástico da cineasta, mesclado com sua pulsante busca de explorar a liberdade da mulher diante do novo. A obra levou a Palma de Ouro de Melhor Filme no festival, sendo o primeiro filme dirigido por uma mulher a ganha solo o prêmio.
Seu filme anterior, “Grave” (Raw), lançado em 2016, lida com uma protagonista adolescente que entra na faculdade e vai adquirir um desejo cada vez mais intenso por carne, depois de um trote realizado pelos veteranos. O medo do novo, e a intensidade deste desabrochar, é marcado por cenas perturbadoras, grotescas, mas carregadas de sentido que ressaltam a entrada da mulher na fase adulta. Aqui em “Titane”, Ducournau também trabalha a emancipação feminina, e utiliza um carro (o marco da masculinidade) para reforçar a constante obsessão de alguns homens por objetos, e como estes enxergam muitas mulheres.
O papel da paternidade também é fundamental para a conturbada construção da protagonista, assim como o forte retrato do peso angustiante da gestação, e como esta transforma radicalmente, tanto física quanto psicologicamente, o corpo feminino – algo reforçado na impactante cena final do parto.
Mas como experiência pessoal, “Titane” é um filme ambicioso em seus simbolismos e cenas chocantes, mas falta-lhe foco e clareza no desenvolvimento de suas intenções. A parte fantástica com o carro, e as consequências disto, são originais dentro da ideia da narrativa, mas soam como um elemento à parte e não integrado ao todo – ainda que carregue alusões pertinentes. Assim como a revelação da protagonista como uma serial killer, uma ação que nunca é desenvolvida pelo roteiro e é simplesmente jogada na história. E depois entramos em um drama familiar entre pai e filha – algo que se torna outra dinâmica diferente do filme.
Estranho, perturbador, provocador e filmado com uma intensidade visceral, “Titane” tem tudo para se tornar um queridinho cult do cinema moderno. Em minha opinião, é uma obra que apesar do ótimo elenco (destaque para a revelação Agathe Rousselle e o excelente Vincent Lindon), carece de foco e objetividade. É pertinente e cheio de observações poderosas, mas alegórico demais para o meu gosto.
Titane/FRANÇA, BÉLGICA – 2021
Dirigido por: Julia Ducournau
Com: Agathe Rousselle, Vincent Lindon, Garance Marillier…
Sinopse: Em Titane, um violento acidente de carro deixou longos e duradouros efeitos colaterais: Uma criança carrega uma placa de titânio em seu crânio; uma modelo de showroom de carros começa a ter atração sexual por seus produtos; depois de um tempo uma gravidez inesperada se transforma em um massacre aterrorizante; e um bombeiro se reencontra com um homem brutalmente queimado que diz ser seu filho perdido.