Crítica

Dark: um sobrenatural europeu de pavio longo

Nova série de mistério da Netflix provavelmente não é o que você está esperando

Continuando com seus planos de levar grandes sucessos locais para o mercado internacional, a série alemã Dark chegou à Netflix Brasil dividindo opiniões. Alguns acham que a série é péssima, enquanto outros defendem que o programa é inteligente e envolvente.

Até certo ponto, todos têm razão.

Sob qualquer ótica, Dark é um bicho único que enreda sua trama essencialmente simples de ficção-científica em grossas camadas de mistério, drama interpessoal e estética neo-gótica.

É até difícil falar desta primeira temporada sem dar spoilers, mas vamos lá: a trama se passa na pacata cidadezinha de Winden e gira ao redor do desaparecimento do pequeno Mikkel Nielsen, um garoto de 12 anos.

A investigação deste sumiço logo leva o expectador a descobrir que a cidadezinha esconde dezenas de segredos e que todo mundo possui esqueletos no armário. E pior: seus erros e crimes estão ligados a um mal maior que pode alterar toda a História da humanidade.

O bom

A forma mais simples de tentar explicar Dark é por comparações. Se você jogar Stranger ThingsLostMorte SúbitaA Torre Negra no mesmo caldeirão, há uma chance de chegar mais ou menos perto de tudo o que a série tenta conquistar.

O seu miolo é focado em ficção-científica e viagem no tempo, mas a maior parte da série passa seu tempo enredada nos conflitos de seus personagens. E são muitos personagens ligados de várias formas, então se você ficar meio confuso com quem é quem e suas motivações, não precisa se sentir mal.

Há algo de novelesco nisso conforme o drama dessas pessoas parece, em boa parte, assumir a direção de para onde o seriado vai, com o seu enredo central e elementos sobrenaturais em segundo plano.

Há algo constante de LostArquivo X presente conforme você acaba envolvido pela série em busca de respostas. É impossível não tecer suas próprias teorias e soltar um bom “Eu sabia!” ou “Oh, não!” conforme elas se confirmam ou caem por terra ao longo dos dez episódios.

E pode crer que há mistério à rodo e tudo está ligado, então o que não falta são pontos soltos precisando ser amarrados até eles serem finalmente ligados no finale.

Outro fator que ajuda a envolver na série é sua estética. Tanto a sua fotografia quanto sua trilha sonora são adequadamente sombrias, graves e metálicas. Há uma grande quantidade de cenas profundamente claustrofóbicas e outras tantas sem qualquer trilha sonora.

O mais notável, porém, são as diversas cenas absurdamente escuras. Quão escuras? Nível Poderoso Chefão escuras em que se um personagem dá um passo para o lado ele se torna invisível e em que até silhuetas são difíceis de discernir.

O ruim

O maior problema de Dark é seu ritmo. É uma verdadeira luta continuar vendo a série esperando que as peças comecem a se encaixar. É um pavio longuíssimo que queima muito lentamente.

Dos dez episódios, a trama central só começa a ser propriamente desenvolvida e a progredir lá pelas tantas, então é difícil não se pegar pensando “por que estou vendo isso?” nos primeiros episódios, já que o enredo parece ir a lugar nenhum.

E se você não gostou de Lost e de Arquivo X, no final das contas Dark não deve ser pra você. Mesmo quando as respostas são entregues e a trama maior é revelada, ela facilmente pode parecer ridícula ou mesmo absurda, o que será uma prova de fogo para quem não é fã de ficção-científica e fantasia.

Além disso há a disparidade entre o excesso de mistério, a expectativa da audiência por respostas, e a resolução final. Essa quebra de expectativa enterrou as séries de mistério citadas acima para muita gente e com Dark não é diferente.

Por fim, todo o tempo gasto no novelão de Winden pode testar a paciência de muitos e a falta de resolução também. Embora a trama principal ligue praticamente todos os pontos de forma satisfatória, há dezenas de cliffhangers para a segunda temporada além de personagens que permanecem sem qualquer explicação ou motivação clara.

O veredito

Dark é uma série de mistério cujo principal diferencial está em expandir os seus limites dramáticos e por ser muito única em seu estilo e desenvolvimento. Porém, a série não é imune a clichês e armadilhas de roteiro que podem quebrar de forma irreparável a expectativa da audiência.

Se você sente falta de grandes séries de mistério e conspiração, este pode ser um bom programa para você, mas recomendasse entra nesta escuridão com bastante cuidado.