Celebridades

Diego Hypólito sobre sexualidade: “sou gay e que eu não tenho vergonha disso”

Em carta em primeira pessoa, atleta conta como assumiu homossexualidade e lidou com a negação: "Na minha cabeça, ser gay era ser um demônio"

Em uma longa carta publicada no UOL Esporte, o ginasta e medalhista olímpico Diego Hypólito abriu o jogo sobre sua sexualidade. “Quero que as pessoas saibam que eu sou gay e que eu não tenho vergonha disso”, escreveu ele. E primeira pessoa, ele contou como assumiu a homossexualidade e ligou com a própria descoberta.

“Eu tinha vergonha, porque, na minha cabeça, ser gay era ser um demônio”, escreveu o atleta. Segundo ele, à medida que foi crescendo e entendendo a sexualidade, um dos maiores desafios foi contar para a família. Conforme narrou, contou à mãe, por mensagem de texto.

“Disse que a amava muito, que esperava que isso não fosse mudar a nossa relação, porque eu continuaria a amando da mesma maneira”, lê-se. Houve uma demora na resposta, que, em palavras dele, não foi muito gentil.

“Me afastei deles (a família) por quase um ano, cheguei a perder um natal por causa desse clima ruim. Meu pai reagiu melhor  e a Daniele (Hypólito, também ginasta) me apoiou incondicionalmente”, escreveu. Segundo ele, a irmã sempre soube, mesmo sem ele nunca ter dito uma palavra sequer sobre o assunto.

“Depois do estranhamento inicial, minha mãe me aceita como eu sou. Minha mãe me ama”, afirmou o atleta. “Não escolhi ser gay, porque ser gay não é uma escolha. É simplesmente o que eu sou, e isso não vai mudar os valores que tenho e que construí junto da minha família”, completou.

(Foto: Reprodução/Instagram)

“Fui (à balada gay) todo disfarçado: boné, óculos escuros e capuz”

Na carta, Diego conta ainda que sempre tentou esconder a sexualidade da vida pública. Evitava perguntas de jornalistas sobre o tema (chegou a pedir ao assessor de imprensa que vetasse a pauta com repórteres previamente) e, quando saía, era escondido e disfarçado.

No primeiro parágrafo, Hypólito diz que a primeira pessoa a quem contou sobre a sexualidade foi o também ginasta – à época, abertamente gay – Michel Conceição, quando tinha 19 anos. Na mesma noite, foram a uma “balada gay, mesmo sendo proibido sair à noite na seleção”. “Eu fui todo disfarçado: boné, óculos escuros, capuz. Isso se repetiria nos anos seguintes, era ridículo. […] Sempre morri de medo de me descobrirem”, lê-se.

Segundo o atleta, somente há alguns anos, agora com 32, ele foi a uma festa para o público LGBT de cara limpa: “sem ter vergonha de quem sou, de viver o que quero viver”.

“Sei que vir a público e falar sobre isso pode irritar algumas pessoas. Ninguém é obrigado a entender nada, mas é obrigado a respeitar”, sublinhou Hypólito.

(Foto: Reprodução/Redes Sociais)

“Já me fizeram segurar uma pilha com o ânus”, revelou Diego Hypólito

No fim da carta, Diego Hypólito diz que ainda tinha um último fantasma que precisava espantar. No ano passado, o atleta expôs uma série de abusos que sofreu quando era mais jovem em trotes entre a equipe de ginástica olímpica.

“Já me prenderam em um equipamento de treino chamado ‘caixão da morte’; já me fizeram segurar uma pilha com o ânus; e já me deixaram pelado, junto com outros dois atletas, para escrever em nosso peito a frase ‘eu’, ‘sou’, ‘gay’. Uma palavra em cada um para nos humilhar”, relembrou.

Segundo ele, é preciso falar sobre eventos como estes para que eles não se repitam. “Ninguém precisa passar pelo que eu passei para ser campeão. Não existe vitória a qualquer custo”, lê-se.