MEXE COM A MINHA CABEÇA

‘É o Amor’: 30 anos do maior sucesso de Zezé di Camargo e Luciano

É o Amor faz jus ao pé da letra como manda a composição: mexe com…

É o Amor faz jus ao pé da letra como manda a composição: mexe com a nossa cabeça. Composta por Zezé di Camargo e interpretada por ele junto com o irmão, Luciano, a faixa completa 30 anos nesta segunda-feira (19). A canção conseguiu feitos maravilhosos com o seu desenvolvimento, sendo o principal deles levar a dupla goiana para reconhecimento nacional.

Prova disso são os números que entornam à faixa: mais de 1 bilhão de execuções pelo mundo, segundo dados do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD). O sucesso foi tamanho que a música foi regravada mais de 70 vezes e em vários estilos musicais. Bruno e Marrone, Fábio Júnior, João Neto e Frederico, Leandro e Leonardo, Léo Magalhães, Maria Bethânia, Mastruz com Leite, Gusttavo Lima, Wanessa Camargo, Wando, Hebe Camargo e Raça Negra são alguns nomes que emprestaram a suas vozes para a canção.

Em entrevista ao Mais Goiás, Zezé di Camargo e Luciano contaram um pouco sobre o pupilo da carreira deles. Zezé, que é o autor da canção, relembra como que foi o processo criativo, que acabou tendo, indiretamente, dedo de Maria Bethânia.

[olho author=””]”Antes de escrever É o amor, eu estava andando na rua e pensava na música Negue, de Maria Bethânia, e justamente naquela parte: ‘Negue o seu amor e o seu carinho. Diga que você já me esqueceu’.. Quando cheguei em casa, sentei no chão, peguei o violão e saiu assim: ‘Eu não vou negar que sou louco por você, tô maluco pra te ver, eu não vou negar’“, conta Zezé.[/olho]

“A música e letra fluíram juntas. Aí foi quando naquela noite, às 05 da madrugada, eu terminei de compor e decidir gravar voz e violão mesmo para que entrasse no disco como a décima terceira faixa. Era época de vinil e não existia disco com 13 músicas, mas nós conseguimos. É o amorrrrr”, afirma ao entoar o início do refrão da música.

Para Luciano, a música foi importante porque foi “o começo de tudo” na carreira da dupla. “Quando se fala de música romântica, as coisas não mudam, o tema é o mesmo. Falar de amor sempre teve o mesmo sentido. É claro que você usa palavras diferentes, vocabulário diferente, mas a temática é sempre a mesma, falar de amor”, destaca. Zezé completa a fala do irmão dizendo que, mesmo após três décadas, a música continua sendo atual. “Porque falar de amor tem essa magia, amar se conjuga em todos os tempos.”

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Sucesso

É inegável falar da dupla e não associá-la a um dos principais nomes da música sertaneja. Zezé di Camargo e Luciano saíram do status de cantores para se tornarem referência musical. Ao todo, a dupla já vendeu mais de 40 milhões de cópias entre 27 CDs, um EP e seis DVDs. Zezé e Luciano também ostentam seis indicações ao Grammy Latino, sendo vencedores em cinco delas.

O número de venda dos álbuns gravados pelos irmãos culminou em 20 discos de Platina, 15 de Platina Dupla, 27 de Ouro, 27 de Prata e 27 de diamante. A dupla também conseguiu estar por três anos consecutivos – entre 2016 a 2019 – no topo da lista de artistas que mais fizeram campanhas publicitárias no país devido à forte identidade com o público.

Os sertanejos também emplacaram 20 músicas em trilhas sonoras em novelas da Rede Globo e, em algumas, fizeram até participações especiais. Os dois detêm o recorde de 500 mil pessoas em um único show realizado em Salvador (BA) e Zezé foi eleito pela revista Veja como um dos maiores artistas do século 20, além de configurar entre os dez compositores que mais arrecadam por direitos autorais no Brasil.

Mas em que momento da carreira que eles perceberam que estavam fazendo sucesso? Uma memória afetiva ajuda a responder essa pergunta. “Estávamos reunidos na casa que os nossos pais moravam em Goiânia, quando a música tocou a primeira vez na rádio. Foi emocionante. Eu e ele já tínhamos levado a fita na rádio Terra. Depois que tocou a música pela primeira vez, o nosso pai começou a missão com as fichas e os seus colegas de obra, em que ele apostou todas as fichas (literalmente) em nós e no nosso sonho (que era dele também). Foi um dia de muita emoção. A sensação de ouvir na rádio a primeira vez, a segunda, a décima…e por aí vai”, afirma Zezé.

É o Amor de Seu Francisco

É impossível escrever sobre a dupla e não destacar sobre o principal incentivador da carreira deles: Francisco Camargo, que morreu em novembro do ano passado, aos 83 anos.

É o Amor, segundo Luciano, foi o caminho para que eles e principalmente o pai – que era quem mais acreditava no talento dos filhos, – realizassem o sonho de viver da música. A canção, inclusive, foi cantada no velório dele, no Cemitério Jardim das Palmeiras. em Goiânia.

[olho author=””]”É o que meu pai mais gostava: música. Sua despedida não poderia ser de outro jeito… Foi o jeito que Deus me tocou para me despedir do meu velho Chico com a mesma forma que ele me recebeu no mundo, com música. Eu me emocionei muito… Ele cantava e eu me lembro também que, quando eu era pequeno,  ficávamos juntos ouvindo as modas de viola nas rádios em Sitio Novo, onde eu nasci”, completa Zezé.[/olho]

Zezé afirma que está morando na fazenda em Goiás e que tem como companhia a mãe, dona Helena. “Estou num momento de muita paz. tive o privilégio de viver ao lado dele [pai] nos últimos meses de vida. A vida nos prega peças e a gente tem que tá preparado. Já são cinco meses sem meu pai e parece que foi ontem. A ferida não cicatrizou e nunca vai cicatrizar. A gente se conforma com a vida sem ele, mas, em compensação, a saudade aumenta.”

O primogênito ainda revela que não consegue ter contato com coisas que o faz lembrar do patriarca. “Tem muita coisa na fazenda que foi ele quem fez. Eu vejo ele em todos os lugares. Por isso que eu fiz questão de trazer a minha mãe para cá a partir do momento que ela ficou sozinha. Para não ficar na mesma casa com as recordações sempre presentes. É uma sensação muito doída. Eu não consigo olhar nada dele, coisa na internet eu pulo, não consigo olhar para publicações minhas com ele, para as árvores que ele plantou, porque dói muito. Eu já me peguei várias vezes acordando na madrugada falando que ele não está mais aqui comigo. Eu senti a mesma coisa quando eu perdi meu irmão Emival. O que me conforta é saber que fui um filho que honrou meu pai e minha mãe.”

Zezé, Dona Helena, Seu Francisco e Luciano (Foto: divulgação/Assessoria)

Toda a perseverança de Seu Francisco para que os filhos chegassem à fama ganhou notoriedade em dois momentos: o primeiro foi no longa que foi batizado com seu nome: Dois Filhos de FranciscoO filme que conta a história da família Camargo fez muito sucesso com o público e também foi muito bem avaliado pela crítica especializada.

“Nunca imaginávamos a proporção que ganharia o filme. Minha maior contribuição foi incentivar o [diretor] Breno Silveira a fazer o filme. O filme recebeu mais de 10 indicações ao Prêmio de Cinema Brasileiro e levou a melhor em quatro categorias. Além de um sucesso de critica, foi um sucesso de bilheteria: quase 6 milhões de pessoas assistiram no cinema.  Foi um dos maiores sucessos de cinema nacional e, mesmo depois de 15 anos, ocupa a 11º posição no ranking histórico. Foi um presente. Inclusive, o dia que meu pai faleceu, eu não pude ir estava com a Covid-19 e neste dia ver a Rede Globo mudando sua programação para exibir o filme foi um conforto enorme. Depois do filme meu pai se tornou um parente de todos os brasileiros”, reforça Luciano.

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O segundo foi na homenagem que a Imperatriz Leopoldinense fez à família por um todo no carnaval de 2016. O enredo, claro, foi baseado no verso da principal música deles. “É o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim”. “Foi uma emoção tão grande que não tem palavras, a nossa história ali na maior passarela do Planeta, sendo transmitida para quase 200 países e com um enredo, com o sonho do nosso Chico em fantasias, alegorias, no samba, na tradição e cultura que tanto representam o nosso país”, sublinha Zezé.
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Terra natal

Com tantos números sólidos, é claro que Zezé di Camargo e Luciano já rodaram todo o Brasil e boa parte do mundo levando às suas canções, mas qual foi lugar nesse planeta em que a dupla mais gostou de tocar? “Eu sou suspeito pra falar, por que sou um amante do nosso Brasil. Amo o nosso estado. Tocar em casa é diferente. Além de ter toda nossa família bem perto”, expõe Zezé, ao revelar que a dupla tem vontade de gravar um DVD em Goiânia, terra do sertanejo.

Paralelo a isso, a dupla conta com alguns projetos profissionais e pessoais. Um deles é a gravação da série É o Amor, que trará a relação sobre os laços familiares de Zezé di Camargo com a filha Wanessa. A produção, que será exibida pela Netflix, teve que ser interrompida por causa da pandemia, mas algumas partes já haviam sido gravadas, como a participação de Ivete Sangalo, Marília Mendonça, Luan Santana, Alexandre Pires, Thiaguinho e outros.

Além disso, há previsão para que, em novembro, a dupla saia em um Cruzeiro pelo Oceano Atlântico onde tocará os maiores sucessos, ao lado da dupla Edson e Hudson.

Luciano conta que realizou um sonho ao gravar um projeto com músicas gospel. Além disso, ele destaca que está aproveitando muito a família nesse momento. “Agora, com tempo livre, tenho ajudado ainda mais nos afazeres domésticos. As meninas estão estudando online e eu tenho aproveitado esses momentos para curtir minha casa, minha Fau (esposa) e minhas filhas e cachorros. Aproveitei para fazer uma horta em casa.”

'É o Amor': 30 anos do maior sucesso de Zezé di Camargo e Luciano
Zezé e Luciano em live de comemoração aos Dia dos Pais, feita no ano passado (Foto: divulgação/ assessoria)

Fãs

Luciano revela que a relação com os fãs são de muita proximidade. “Nossos fãs são nossos presentes de vida. Temos uma relação muito bacana com eles. Eu virei bem amigo de alguns e já fui até padrinho de casamento e de filhos. É uma benção essa relação.”

Mais Goiás foi atrás de um que representasse o que é gostar da dupla e encontramos a consultora de vendas Jucilayne Ferreira  de Menezes, 30 anos, que mora em Belo Horizonte (MG). Ela conta que É o Amor é a canção mais especial da vida dela após perder a mãe em 2011. “Ela tinha um amor incondicional pelos dois e adorava essa música. Pouco tempo depois que minha mãe morreu, eu e minhas irmãs decidimos ir a um show pela para espairecer a cabeça, mas a gente não se aguentou quando tocou essa música. Nós choramos muito”, relembra

A mãe de Jucilayne foi vítima da Esclerose Lateral Amiotrófica, mais conhecida como ELA. A doença atinge o sistema nervoso e vai causando uma paralisação motora progressiva e irreversível. A consultora reforça que a dupla foi o alicerce para amenizar a dor que toda a família sente pela perca da matriarca. “Eles passam uma emoção fora do normal. E É o Amor é uma história que pode se encaixar de homem para mulher ou de pai/mãe para filho e vice-versa. O importante é que ela toca muito no íntimo dos nossos sentimentos”, reforça.

Apesar de destacar É o Amor, ela conta que outra música da dupla também a faz lembrar da mãe: No Dia Em Que Saí de Casa. “Minha mãe fez a mesma coisa que a mãe do Zezé fez com ele quando saiu de casa. Ele para cantar e eu para casar. Mãe nunca quer que a gente saía. Ainda mais no meu caso, que sou a caçula da família, que a mãe estava sempre próximo de mim. Eu me vi muito nessa canção”

Foi a mãe, inclusive que repassou para elas todo o amor que sentia pela dupla. “Eu sou a mais nova e lembro que minha mãe nos levava no show deles. Ela pirava quando o Zezé di Camargo e Luciano entravam no palco e sempre intercalava eu e minha irmã nos ombros para que a gente também pudesse ver eles”, conta.

Fã que é fã tem que ter bagagem de loucuras para contar. E Jucilayne não passou batido. Ela conta que inventou que viu um foco de incêndio para poder se aproximar do ídolo. “Nesse dia o Luciano não estava e eu descobri que Zezé iria tocar em uma casa de shows de uma cidade próxima a BH. Eu fui lá e comecei a conversar com o segurança. Eu inventei que vi um incêndio comecei a botar pilha no segurança. A assessora do Zezé foi ver o que estava acontecendo e pediu para que verificasse tudo isso. Nesse momento, ela pediu para ficarmos próximo aonde a Zezé estava. Nossa, eu fiquei louca. Eu conversava com ele e com a Graciele como se nos conhecêssemos há anos. No final, não descobriram incêndio e justificaram que eu poderia ter visto alguma faísca de algum aparelho”, afirma.

'É o Amor': 30 anos do maior sucesso de Zezé di Camargo e Luciano
Jucilayne com Zezé após toda confusão do falso incêndio (Foto: Arquivo Pessoal)

A gerente conta que já foi em mais de 30 shows da dupla, sendo que, sempre que eles iam em Belo Horizonte, ela estava presente. Jucilayne ainda destaca que não é amante de Carnaval, mas que vibrou e acompanhou toda a homenagem feita pela Imperatriz Leopoldinense a eles. “Eu fiquei muito nervosa que eles não ganharam. O desfile estava lindo. Tudo muito bem feito. Fiquei grilado”, reforça.

Jucilayne conta que a humildade da dupla é algo que mais a encanta. “Eu só pode pedir para que eles nunca percam essa essência. Eles são muito gentis com a gente. Conversam, quer saber o que gente acha das canções. Eu não vejo a hora da pandemia acabar para poder ir a um show deles. Tô com muita saudade de cantar umas músicas numa aglomeração”, finaliza.