Efeito Tiago: Médicos relatam crescimento na busca por aumento peniano
Para especialistas, ganho nem sempre satisfaz: 'Não é mágica'
A cirurgia de aumento peniano virou assunto em sites e revistas brasileiras nos últimos meses, após o sertanejo Tiago, 37 —que faz dupla com Hugo, 39– anunciar que se submeteria ao procedimento, chamado faloplastia. De acordo com o cantor, a principal razão para divulgar algo tão íntimo era ajudar outros homens que também tinham interesse em fazê-lo.
“Desde quando realizei a operação, pensei em levar informações, na melhor intenção, e quebrar, um pouquinho ao menos, desse tabu que disfarça muito preconceito”, disse o artista, salientando que gostou do resultado do procedimento realizado em uma clínica de Santa Catarina.
Se muitos acusaram o cantor de querer aparecer expondo algo de foro íntimo, outros tantos admiraram a coragem dele e até procuraram clínicas especializadas em aumento peniano para se inteirar sobre o assunto. Claudio Eduardo Pereira de Souza, que foi responsável pela operação do artista, conta que a busca pelo procedimento foi grande depois do anúncio de Tiago.
“Achei muito legal ele ter exposto a cirurgia, porque deu voz a muitos homens que ficavam ali no limbo, à margem, àquelas pessoas que desejavam ser submetidas ao procedimento e não sabiam que isso era possível”, elogia Souza.
Ele pontua que, ao contrário do que ocorre com qualquer pessoa que busque uma cirurgia estética, o paciente que deseje realizar a faloplastia não encontra com facilidade um profissional confiável, já que quem se submete ao procedimento guarda segredo sobre o assunto.
“O paciente do aumento peniano não tem quem procurar, porque quem faz a cirurgia não conta para ninguém e por parte do médico também é um sigilo total. O fato de o Tiago ter exposto isso na grande mídia realmente deu uma resposta gigantesca”, admite. “Sabia que haveria um aumento da demanda, mas me surpreendeu”.
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DENTRO DO PADRÃO
O cirurgião vascular Márcio Dantas de Menezes acredita que o aumento na procura de informações sobre a faloplastia na clínica em que atua em São Paulo, esteja mais relacionada à curiosidade do que a novos procedimentos. O médico, que atua na área da sexualidade há 34 anos, foi categórico em afirmar que a operação deve ser feita para um segmento de público bastante específico.
“É importante que as pessoas tenham muito claro que não é só chegar e operar. Não é mágica! É um processo cirúrgico que tem como objetivo o aumento do pênis, que não será igual para todos os pacientes”, pontua Menezes, explicando que o tamanho do órgão genital masculino pode variar de acordo com a raça e a etnia do homem, por exemplo.
Ele diz que um brasileiro adulto, a partir de 19 anos, que tenha um pênis que meça entre 13 e 15 centímetros, flácido, esticado em noventa graus e cuja circunferência em ereção esteja entre 10 e 12,5 centímetros, pode ser considerado dentro do padrão. Ele emenda que antes de fazer a cirurgia é necessária uma conversa honesta para entender as expectativas do paciente.
“Às vezes o homem chega achando que vai ganhar cinco ou seis centímetros e isso não é possível. Tem que haver uma adequação e uma responsabilidade médica no sentido dos ganhos para que essa pessoa tenha um amadurecimento das possibilidades”, afirma, destacando que os critérios variam, e que ele nota uma diferença interessante entre o que é considerado normal pela medicina e as visões masculina, feminina e homoafetiva.
O médico acrescenta que considera alguns fatores para decidir se deve seguir com o procedimento ou se é necessário que, antes de tudo, o paciente procure por orientação psicológica e psiquiátrica. “Avalio, com certeza, o tamanho do pênis, a condição emocional desse indivíduo, o raciocínio lógico e a real necessidade médica, funcional e estética”, pondera. “Temos que deixar claro que há um limite de ganho, que nem sempre será o que ele gostaria”.
A faloplastia é um procedimento considerado simples, que dura cerca de duas horas e do qual o paciente recebe alta menos de 24 horas após a operação. De acordo com dados do Boletim de Informações Urológicas, publicação da Sociedade Brasileira de Urologia, apenas 3% dos homens têm um pênis considerado fora dos padrões, para mais ou para menos.
ARREPENDIDOS APÓS CIRURGIA
Souza conta que nos dez anos em que faz cirurgias de aumento peniano nunca teve um paciente que se arrependeu do procedimento. Ele afirma que muitos dos homens que o procuram já chegam convictos do que querem e muito bem informados, mas destaca que não seria possível reverter a operação no que diz respeito ao comprimento do órgão genital.
“Como ganhou espessura depositando gordura superficialmente no corpo peniano, poderia, na teoria, com uma pequena lipoaspiração fazer sucção do excesso e diminuir o diâmetro”, esclarece. Diferentemente do colega, Menezes conta já ter passado por situações em que o paciente voltou ao consultório pedindo modificações e que isso não é incomum, citando, inclusive o fim da relação de Tiago com a cantora Tânia Mara, 38, que era contra o sertanejo fazer a faloplastia.
“Já tive paciente que voltou no outro dia porque a mulher pediu para retirar o produto colocado, alegando que estava satisfeita com o formato anterior”, relembra, emendando que muitos homens fazem o procedimento escondidos da esposa ou do marido. “O mais adequado é quando existe um acordo com o parceiro, porque o resultado vai além do fisiológico e estético, é comemorativo do casal”, defende.
QUESTÃO DE SAÚDE
O Conselho Regional de Medicina proíbe que médicos de qualquer especialidade falem de custos das cirurgias ou que façam propaganda de procedimentos, com fotos expondo como a pessoa era antes de uma cirurgia e como ficou depois dela, por exemplo. Dessa forma, os entrevistados não falaram quanto cobram para realizar a faloplastia. Porém, a reportagem apurou que o procedimento custa em média R$ 25 mil.
As cirurgias corretivas do pênis encontram preconceito não só de leigos no assunto, mas também dentro da área médica. Menezes conta que há apenas cerca de cinco anos, os especialistas da área conseguem debater em congressos assuntos relacionados não só a cirurgias estéticas, mas questões referentes a saúde do órgão genital masculino, como traumas, amputações ou câncer, situações que levam ao encurtamento do pênis e necessitam de tratamento.
“Nós vemos que o caminho que iniciamos lá atrás está continuando e os mais jovens já conquistam novas fronteiras”, comemora Menezes. “Antes de mim já existiram outros profissionais fazendo isso no Brasil. Não sou o primeiro, o único e nem o último. Estou muito feliz que muitos médicos tenham me procurado para desenvolver o mesmo trabalho que eu”, encerra.