Em São Paulo, Lily Allen faz show com músicas novas e protesto contra Bolsonaro
“Faz 10 anos, Brasil!”, foi uma das primeiras frases que a britânica Lily Allen disse…
“Faz 10 anos, Brasil!”, foi uma das primeiras frases que a britânica Lily Allen disse ao subir no palco do Cultura Inglesa Festival neste domingo (9), em São Paulo. A apresentação é parte da turnê que divulga o novo disco da artista, No Shame, por isso teve poucas músicas dos trabalhos mais antigos da cantora.
Apesar do tom melancólico das músicas novas – que na maioria das vezes a coloca como uma mãe ausente e uma péssima esposa – com carisma e bom humor Lily Allen fez o público vibrar em uma hora e meia de show. Mesmo que, em muitos destes minutos, os presentes não sabiam a letra das canções.
Antes de começarmos a falar da apresentação de Lily Allen, é bom contextualizar algumas coisas. Primeiro: o acerto em colocar a nova princesinha da sofrência, Duda Beat, como número de abertura. A brasileira fez um show vibrante e divertido e, assim como Lily, fez o público dançar enquanto cantava frases como “todo carinho do mundo pra mim é pouco”.
Segundo: Lily Allen passou por muita coisa até chegar no disco No Shame, o quarto de sua carreira. Quando surgiu, em meados de 2006 com Smile, a britânica tinha como marca registrada uma acidez ímpar ao cantar sobre fatos que aconteciam em sua vida pessoal.
De lá para cá, ela se casou, teve dois filhos – isso antes de perder um no meio da gestação – lidou com um pesado vício em drogas e se divorciou. Estes dois últimos temas foram as principais inspirações para o último disco de Allen e, por isso, esperava-se que o show tivesse um clima pesado. (tanto que músicas sobre fases felizes do matrimônio foram totalmente banidas da setlist)
Carismática, sarcástica e talentosa
Quando subiu no palco cantando Come On Then, Lily ainda estava tímida. Ela só se soltou após a quarta música, LDN, um hit antigo cantado em alto e bom som pelos presentes. Emocionada, Allen até chorou algumas vezes ao ver a recepção da plateia.
Após isso, a cantora brincou, dançou, pulou, rodopiou e até fez piada com a roupa íntima que estava usando.
Mesmo em momentos mais delicados e suaves – nas faixas Apples e Everything To Feel Something, por exemplo – a cantora manteve o bom humor que a acompanha desde 2006. Antes de cantar Family Man, por exemplo, uma das canções mais íntimas e tocantes do último disco, ela fez piada: “esta música é sobre a deteriorização do meu casamento”.
É nestes momentos de músicas mais íntimas que Lily mostra o talento vocal que tem. Um destaque especial para a faixa Higher, cantada inteiramente em falsete. Efeitos eletrônicos de correção de voz em algumas faixas – usados apenas como recurso estilístico – pesaram em certos momentos, mas nada que atrapalhasse o brilho de Allen como vocalista.
Saudosistas
Apesar de os brasileiros terem mostrado uma boa recepção à nova fase da cantora, não teve como: os pontos altos foram quando ela cantou hits antigos. Smile, The Fear e Not Fair foram os destaques dentre as mais dançantes. Nesta última, o público pulou incansavelmente e cantou o refrão mais que a própria artista.
Vale aqui ressaltar quando Lily cantou Who’d Have Known, um hit do segundo disco da artista. Durante a faixa, fãs levantaram as lanternas dos celulares, formando um mar de pequenos pontinhos brancos, balançando na melodia da canção.
Ávidos por músicas de trabalhos anteriores, os presentes pediram diversas vezes que Lily cantasse 22. Brincalhona, primeiro ela disse que não. Depois, mudou para um “talvez”. Mas, no fim, não cantou.
A surpresa de muitos foi a cantora incluir Knock ‘Em Out na setlist. A canção não é exatamente um single, mas fez barulho, entrou na trilha-sonora da série Grey’s Anatomy e tornou-se uma das favoritas dos fãs.
“Talvez eu seja presa” – Lily Allen
O show terminou com a canção Fuck You. “Escrevi essa música pensando em George W. Bush, presidente dos EUA à época. Recentemente, tenho dedicado a faixa a Donald Trump, mas como estamos no Brasil – e no mês do Orgulho LGBTQ – pensei em dedicar ao presidente de vocês”, disse antes de cantar.
“F*da-se, Bolsonaro“, bradou, exaltada pelo público. “Depois disso, talvez eu seja presa e talvez eu nunca mais volte ao Brasil”, brincou.
Nas redes sociais, falando sério, ela é bem clara quanto ao que quer: “Brasil, não vamos demorar mais 10 anos para nos vermos novamente”.