“Esse festival marcou a gente”, contam Elba Ramalho e Geraldo Azevedo
Cantores fizeram o show de encerramento em noite fria na Cidade de Goiás
Nem todo mundo estava preparado para a queda repentina na temperatura que aconteceu no domingo (21) na Cidade de Goiás, no último dia do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) 2016. O vento gelado não parecia problema para Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, que já chegaram animados, cantando O Princípio do Prazer e mostrando a intimidade construída em décadas de amizade.
Elba foi a primeira a chegar, e correu para o camarim trocar de roupa e fazer a maquiagem. Enquanto se preparava, era possível ouvi-la fazendo os exercícios vocais, e todos os presentes do lado de fora se olhavam boquiabertos com a performance involuntária. A organização do evento tentava abrir cocos para a artista, que precisa da água para beber durante o show.
Já Geraldo estava pronto, com tempo para abraçar e beijar todos que encontrou pela frente, além de dar um pulo no camarim da amiga para cumprimentá-la.
“A gente já se conhecia, assim, de falar. Eu já tinha gravado um disco e fui convidado para fazer a direção musical de uma peça. Elba era atriz, viu? Ela virou cantora comigo [risos]. Mas claro que ela sempre cantou”, explica ele.
Elba interrompe: “Ele me motivou muito”.
“Mas fui fazer a direção musical de uma peça chamada A Chegada de Lampião no Inferno, que tinha personagens incríveis, e atores incríveis também, porque tinha Tonico Ferreira, Madame Satã, Tânia Alves, e tinha Elba. E quando eu descobri Elba, digo ‘vou fazer uma música para ela cantar, especial para ela’. E virou ali uma amizade muito grande, e a gente ficou tão ligado que depois foi morar junto por três anos”, conta o cantor.
“Ele separou no casamento e nós fomos dividir um apartamento como amigos, tá, gente? [risos]”, Elba explica apressada. “Em Ipanema. E eu mergulhei na música, por Geraldo. A gente tocava muito, passava noites. A casa era cheia de música, era um revezamento de artistas, melodias”.
“Na mesma época, ela fazia a peça do Chico Buarque, Ópera do Malandro, e até o Chico ia lá em casa muitas vezes”, diz Geraldo. Ela resume: “Depois a amizade continuou, e a gente caiu junto no Grande Encontro, para selar esse compromisso, continua na estrada e acho que vai continuar ainda por muitos anos”.
Os dois deram entrevista juntos, demonstrando uma sintonia impressionante. Suas falas, sempre complementares, poderiam ter sido ensaiadas. Eles relembraram a última vez que estiveram na cidade:
“Eu me lembro que foi lindo, tinha milhares de pessoas, estava uma festa muito bonita, e o lugar é lindo. Eu voltei aqui no casamento do Murilo Rosa. Estou feliz em voltar com meu grande e eterno parceiro, amigo e cantor preferido Geraldo Azevedo”, conta Elba.
Geraldo diz que “é um prazer imenso”, porque “a primeira vez que a gente veio é uma coisa que a gente nunca vai esquecer. Esse festival aqui marcou a gente. Inclusive tem uma coisa que foi importante, que foi a gente fazer o projeto chamado Grande Encontro, e aquele show foi o encerramento. Agora estamos voltando com o Encontro inesquecível, que é eu e Elba Ramalho”.
“Estamos na estrada com ele, é uma versão compacta do Grande Encontro”, Elba esclarece. “Eu e Geraldo temos afinidades enormes, musicalmente falando”.
“É a maior intérprete das minhas músicas. Aliás, tem música que deixou de ser minha, é dela. Ela tomou, prefiro com ela do que comigo”.
“E essa intimidade faz com que o espetáculo flua, tem canções bonitas. Eu acho que, musicalmente, é sempre surpreendente quando dois artistas se juntam”, diz ela.
“E a gente tem afinidade em todos os sentidos”, acrescenta o cantor. “Musical, emocional, de alma, a gente fica muito feliz de estar junto. É um encontro da gente não só no palco, a gente tem uma ligação muito grande e consegue passar isso com toda energia para as pessoas”.
Para Geraldo, o festival tem grande importância, e encontra a campanha que ele faz a favor do meio ambiente: “O último trabalho que eu lancei, o Salve São Francisco, é fundamentado na ideia de que a água é uma coisa muito importante que está faltando no planeta. O próprio rio São Francisco é um rio que está em agonia. A exploração é muito grande, porque o ser humano não sabe cuidar das águas. Em todos os meus shows falo dessa questão, desde a década de 90”.
“O homem está colhendo o fruto que ele plantou, essa agonia da mãe natureza. O fruto do descaso, da irresponsabilidade, da inconsequência, então o planeta Terra vai passar por esse sufoco, já está passando. Mas a gente aplaude, eu particularmente aplaudo vocês por essa preocupação ecológica. Acho que devia existir mais conscientização, mais eventos que conscientizassem o jovem, principalmente, para que ele tenha mais responsabilidade em suas ações e com o planeta”, completa Elba.