Crítica

Everything Sucks! não é bem o que você espera

Nova dramédia da Netflix subverte a própria fórmula do serviço de streaming

A Netflix estreou na semana passada a primeira temporada de Everything Sucks!. À primeira vista, o seriado parece apenas ser mais uma comédia relativamente inocente e genérica situada em 1996 para continuar apelando para a nostalgia do público.

Na realidade, o que a primeira temporada entrega são vários pequenos arcos muito mais sérios do que o esperado e uma trama 100% focada em seus personagens, sem dar lá muita moral para um enredo maior.

A série acompanha principalmente o jovem Luke (Jahi Di’Allo Winston) e suas desventuras no Ensino Médio. Além de seus dois amigos inseparáveis, Luke precisa lidar com sua primeira paixonite, a tímida Kate (Peyton Kennedy) e a infernização do casal de veteranos Oliver (Elijah Stevenson) e Emaline (Sydney Sweeney).

Mas o que tinha tudo para ser apenas mais um seriado adolescente não o é.

O bom

A força de Everything Sucks! não está na nostalgia – de fato, os anos 1990 quase não passam de cenário – e sim nos arcos de seus protagonistas. Assim como Freaks & Geeks e mesmo a recente comédia proibidona Big Mouth, o enredo é movido pelos medos, erros e anseios adolescentes de seus protagonistas.

O resultado é que a série é muito humana e empática: é fácil se reconhecer naquelas situações, ficar pistola com os erros dos personagens e ao mesmo tempo saber que, naquele idade, você provavelmente não teria feito diferente. É quase catártico perceber como a idade nos muda.

Luke e Kate (Divulgação)

O seriado pega pesado no drama, especialmente ao redor de Luke, Emaline e Kate. O jovem lida com um pai ausente e uma dor que ele não quer admitir que tem. Ao mesmo tempo, Kate enfrenta uma grande dúvida e uma das maiores barras da adolescência e Emaline, mesmo sendo a garota mais atraente do colégio, lida com doses incapacitantes de segurança.

Além do arco dos adolescentes, dois adultos possuem sua própria saga: Sherry (Claudine Mboligikpelani Nako), mãe de Luke, e Ken (Patch Darragh), pai de Kate. Dois pais solteiros sofrendo com a solidão, eles precisam lidar com a atração que sentem um pelo outro e, da mesma forma, com o impacto que isso pode ter em seus filhos e vidas.

O ruim

Embora a série possua bons personagens e temas fortes, ela às vezes se perde ao longo dos seus dez episódios. A falta de uma trama maior é sentida e por vezes o seriado deixa o seu lado comédia de lado para entrar com os dois pés no bote do melodrama.

O resultado é que de vez em quando o seriado parece abrupto e seus vários laços mal-amarrados, o que pode te fazer questionar o motivo para assisti-lo.

Emaline e Oliver

O veredito

Everything Sucks! é uma boa série e que consegue ser até mesmo ser surpreendente em certos pontos. Ela foge do clichê de seriado adolescente padrão ao mesmo tempo em que não consegue se destacar como algo verdadeiramente único ou especial no gigantesco catálogo Netflix.

Se você quer se envolver com uma temporada curta e bons personagens sem ter que esquentar a cabeça, essa é uma boa pedida. É legal, mas sem a força necessária para competir com as principais comédias do canal e muito menos com os principais dramas.