Famosos apoiam Anitta, após cantora rebater racismo religioso mais uma vez
Ataques veio após lançamento do clipe de “Aceita”
Depois de lançar o clipe “Aceita”, em que mescla imagens do Candomblé, com ritos de outras crenças, como o catolicismo, o cristianismo evangélico e o judaísmo, Anitta voltou a rebater comentários de racismo religioso nas redes sociais. A cantora disse ainda que recebeu ligações de amigos dizendo ter receio de assumir publicamente que também seguem o Candomblé, por medo de ataques.
“Compartilhar desinformação, piadas e histórias fictícias sobre a santeria é racismo religioso. O yorubá, os orixás, seus ensinamentos e seu povo merecem respeito como qualquer outra religião, assim como todas as outras que estão presentes em meu vídeo. Quantos amigos me ligaram em particular quando eu postei meu vídeo para dizer que essa é a sua fé, mas não têm coragem de ensinar sua religião porque as pessoas inventam. E eu não entendi até agora que vejo o nível de preconceito de muitas pessoas”, disse Anitta.
A cantora aproveitou a postagem ainda para explicar melhor do que se trata um dos pilares de sua religião.
“O yorubá vem da cultura africana e sua característica principal é exaltar a natureza (e não ‘fazer rituais para amarrar seu namorado’). Uma busca no Google sem preguiça e eles descobrirão isso bem. No Brasil, no século passado, essas pessoas que foram levadas à força como escravos para fora de seu país eram mortas e torturadas por expressar sua fé. (Quer dizer… matar e torturar pode… rezar aos orixás não). Hoje em dia menos, mas ainda sofrem ataques a seus templos e ofensas na rua. Eu acredito em Deus, Jesus, orixás e outros. E em minha vida pratico seus ensinamentos muito mais do que as pessoas que humilham os outros nas redes sociais”.
Famosos se solidarizaram com a artista.
“Ter que explicar o óbvio ululante é chato”, comentou Leo Jaime. “Importante e maravilhosa”, diz Johnny Hooker. “Te amo”, escreveu Maria Gadu. “Axé”, comentou Tico Santa Cruz. “Estou contigo, amiga”, disse Gretchen.
O clipe de Anitta
‘É que eu vou morrer assim, nunca vou mudar. Não é tão difícil de aceitar”, canta Anitta num trecho da música “Aceita”, que teve seu videoclipe lançado ontem, mais cedo do que o previsto. Um dia antes, a cantora enfrentou ataques de intolerância religiosa e perdeu mais de 200 mil seguidores ao divulgar nas redes sociais fotos do trabalho, que retrata sua religião, o candomblé. O clipe, filmado todo em preto e branco e que integra o álbum “Funk generation”, lançado pela artista em 26 de abril, mergulha na espiritualidade da cantora, mostrando a crença de Anitta, que muita gente ainda desconhecia. A cantora, que também é diretora criativa do projeto, é vista num terreiro, e o vídeo retrata rituais, sons, símbolos e costumes de sua religião, além de destacar imagens de outras crenças , como o catolicismo, o cristianismo evangélico e o judaísmo.
“Eu já falei da minha religião inúmeras vezes, mas parece que deixar um trabalho artístico pra sempre no meu catálogo foi demais para quem não aceita que o outro pense diferente. Eu acredito que as religiões são rios que desembocam num mesmo lugar: Deus, a inteligência suprema. Acredito que todos nós temos o poder de manifestar em nós o divino e o diabólico. Quando recebo mensagens de intolerância religiosa, não sinto energia divina sendo emanada em minha direção, sinto a energia contrária. Eu tenho fé, não tenho medo”, registrou Anitta no Instagram.
Apesar das críticas, o clipe recebeu um apoio maciço de fãs. Ele era o mais visto ontem no Brasil no YouTube, e a hashtag “Aceita Anitta” também foi parar no topo no dia em que o vídeo foi anunciado. Artistas e personalidades públicas expressaram seu apoio a ela, como Pabllo Vittar e Duda Beat, entre outros. Colunista do EXTRA, o babalorixá Pai Paulo de Oxalá destaca a importância de figuras como Anitta endossando o combate à intolerância religiosa.
— É muito bom quando personalidades como Anitta assumem a sua fé, porque fortalecem a luta contra a intolerância que sofremos diariamente. Numa reportagem hoje, denunciaram que o caminhão de coleta em São Gonçalo não pega o lixo do terreiro. Se até nosso lixo é discriminado, imagine nós? Então termos Anitta com essa ousadia e uma carreira de sucesso nacional e internacional falando disso é muito importante — afirma ele.
Ekedi Larissa é mãe no terreiro
No palco, Anitta é uma popstar, mas dentro do terreiro de pai Sergio Pina de Oxóssi, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ela é a ekedi Larissa, responsável pelas comidas e cuidados dos orixás na hora dos rituais e das danças.
— A ekedi ajuda a paramentar os orixás, seca o rosto deles, toma conta das roupas e do santo quando ele dança. A ekedi Larissa é uma mãe dentro da roça do candomblé — explica Pai Paulo de Oxalá.
O orixá de Anitta é Logun Edé, enredo que a escola de samba Unidos da Tijuca vai levar para a Sapucaí no próximo ano, como citado por Anitta. Na crença do candomblé, ele é um jovem caçador, filho de Oxóssi e Oxum.
“Ele é um orixá complexo. Sensível e bravo, inteligente e esperto, carinhoso e pragmático… Essa música (“Aceita”) traduz essas características pro meu universo, na minha história”, disse Anitta.
A artista conheceu o terreiro que frequenta por causa do pai, Mauro, e do irmão, Renan, que já iam ao local. Já a mãe, Miriam, é católica fervorosa. Desde que ganhou projeção nacional, a funkeira faz visitas esporádicas ao terreiro. A ida ao local jamais é anunciada, para evitar curiosos. Uma vez por lá, ela é tratada como qualquer outro frequentador. Nada de fotos ou alarde.
No videoclipe, Anitta fez questão de mostrar diversas referências à sua religião mostrando um ogã, homem responsável pelo toque do atabaque; o baralho cigano, jogado por muitas pessoas do candomblé. Já ela aparece nua tomando um banho de ervas e também vestida com roupas que parecem com as vestes do orixá Obaluaê, também conhecido como Omolu.
Via Extra