Faz Rs: autora goiana lança livro ilustrado com páginas destacáveis
Larissa Mundim lança seu quarto livro em Goiânia com o objetivo de compartilhar o texto usando as páginas como presentes
A jornalista Larissa Mundim embarcou no mundo da Literatura há apenas cinco anos com o projeto experimental Sem Palavras, romance que só ganhou forma física após um ano de intervenções artísticas, oficinas e uma rica e ampla agenda artística que mais tarde foi propriamente documentada em outro livro da autora: Operação Kamikaze.
Agora, ela lança seu quarto livro, o quarto em quatro anos, sem contar toda a sua agenda e movimentação por trás da Nega Lilu Editora com o objetivo de mapear e expandir as fronteiras literárias goianas, há muito estagnadas apesar de dezenas de autores talentosos.
Neste sábado (03), Larissa lança Faz Rs em evento no Hostel 7 no Setor Bueno. Ao contrário do calhamaço de 320 páginas e capa dura que foi Sem Palavras, o novo livro traz apenas 80 páginas ilustradas e acompanhadas por narrativas curtíssimas formadas por uma ou duas frases cada uma.
“É um exercício racional que eu tenho feito como autora de esgotamento”, conta Larissa, “Acho que algo que pode colaborar muito para minha performance com autora é sair de um texto volumoso chegando neste momento no Faz Rs que é de síntese máxima pra mim. São textos condensados, mas muito cheios de significado”.
Ela destaca que não são frases soltas: as páginas exploram a interpretação já que não existe contexto: “Eles contêm textos integrais que não tem para o leitor pistas do que acontece antes ou depois. Eles não são frases, são curtíssimas narrativas ou textos reflexivos que se fecham em si”.
Minimalista, o livro é retangular, pois todas as suas páginas possuem uma metade destacável e ilustrações que variam: ora são espelhadas, ora são ligeiramente diferentes, hora são únicas e grandes, ocupando toda uma metade da página ou ela inteira. “O meio é a mensagem aqui. A gente nitidamente percebe que existe aqui uma priorização da forma também, não em detrimento do conteúdo, a estética é conteúdo”, conta Larissa.
Os textos são todos posts dela feitos ao longo de dois anos. Começou a publicar em 2013 como resultado de um laboratório literário. A ideia eram ser textos celulares desenvolvendo as personagens de Agora eu te amo, seu segundo romance. Só as pessoas começaram a elogiar e a repercutir: “Percebi que tinha ali um volume grande de material e as pessoas continuavam citando e se apropriando”.
Daí veio a ideia de encorajar o compartilhamento do livro, de presentear. “Eu queria um livro que as pessoas tivessem o ímpeto de tirar a página e dar para outra pessoa. O leitor brasileiro tem um apego pelo livro e se gostar, ele não vai querer rasgar o livro. Então precisávamos de uma forma para que a pessoa pudesse cumprir o ideal do livro, que é compartilhar, mas ainda assim manter sua parte do livro”.
Foram três meses de debate com toda a equipe artística e criativa pensando em design, formatação, etc. Assim nasceu o picote. “Para que o livro seja um presente de cabo a rabo. Todas as 80 páginas são destacáveis, assim como também as orelhas e a capa são destacáveis. O livro todo prevê um material para presentear”, conta a autora.
Já as páginas com um desenho só ou que são partidas ao meio de destacadas, Larissa disse que são pequenas provocações: “É um exercício de desapego mesmo; você vai ficar sem alguma coisa. Existem narrativas dentro de narrativas, é um livro metalinguístico”.
Além disso há como colar as frases de uma página nas outras, formando histórias. Larissa exemplificando lendo as páginas iniciais em sequência: “Você é meu olho d’água. Vem ficar antissocial comigo. Dentro de você é um lugar lindo. Arrumo a casa para te esperar. Caso e não caso, faço o que for preciso. Você mexeu com o meu Saci”. Ou seja, há formas diferentes de se ler este livro.
Uma destas formas é através das ilustrações de Sophia Pinheiro: “Há um trabalho de apropriação do texto e desenvolvimento de uma narrativa paralela por parte do trabalho da Sophia”, conta. Um exemplo está logo no começo: “A primeira página é um exemplo máximo disso: ‘Você é meu olho d’água’ para a autora é uma relação que é sempre renovável. Já na leitura da Sophia, o olho d’água é o choro. Então há essa outra narrativa que pode influenciar ou não o leitor”.
Larissa conta que sempre quis que o livro fosse ilustrado, mas não tinha um ilustrador em mente, apenas uma ideia. Chegou a contatar alguns designers e artistas em busca do traço ideal até esbarrar por acaso em uma ilustração de Sophia no Facebook. Ela mostrou a imagem para a curadora do livro, Isabela Preto Junqueira, ambas gostaram e entraram em contado com a ilustradora, que embarcou no projeto.
Em tempo: o livro possui curadoria. Depois de dois anos de publicação no Facebook, Larissa enfrentou a dificuldade de escolher quais textos publicar. Aí entrou Isabela: “A curadora entrou com todo o poder de curador. Cheguei a 320 textos e tinha relações afetivas com todos, não conseguia me desvencilhar de nenhum. Então chamei a Isabela Preto Junqueira pra me ajudar a cortar”.
E sobre explorar outros formatos? Seria hora de Larissa experimentar, por exemplo, uma história em quadrinhos? Ela acha que não: “A narrativa sequenciada é muitíssimo atrativa, mas eu precisaria ter… precisaria me preparar muito para produzir HQ. Se eu algum dia achar que meu desenho que é tosco e fofo possa servir como forma de expressão, talvez seja possível”.
Além disso, Larissa acha que já está realizada como autora e agora pensa em se dedicar a ser editora para novos escritores: “Eu não tenho mais nenhuma linha escrita. Tudo o que eu gostaria de compartilhar com meu leitor e minha leitora já está publicado. Se eu sinceramente não tiver nada muito melhor do que eu publiquei até agora, não publicarei mais. Agora eu tenho encontrado sentido no trabalho do outro, estou curtindo muito fazer livros, conhecer muitos novos autores, recebendo muitas propostas de publicação de livros”.
Serviço:
Lançamento do livro faz rs, de Larissa Mundim. Editora: Nega Lilu
Preço de capa: R$ 30
Data: 3 de dezembro 2016 (sábado), 16h às 22h, na feira e-cêntrica de publicações independentes, durante o Sun7 Cultural
Local: Hostel 7 (Av. T2, Qd. 107, Lt. 4, Setor Bueno)
Entrada franca, com doação de brinquedo ou alimento não perecível