Fica 2022: diretoras falam sobre importância do festival e o atual cenário do cinema no Brasil
O Fica 2022 (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental) se encerrou neste domingo (5)…
O Fica 2022 (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental) se encerrou neste domingo (5) com o anúncio dos filmes vencedores em cada mostra do evento. Diante de toda celebração, diretores de produções exibidas no festival aproveitaram para refletir sobre o atual cenário do audiovisual e do cinema em Goiás e no Brasil.
A Mestre em Gestão do Patrimônio Cultural da PUC Goiás, Uliana Duarte, diretora do filme ‘Goyania – Outubro Ou Nada‘, afirma que o FICA é fundamental para o desenvolvimento do cenário do audiovisual. Ela cita também o Goiânia Mostra Curtas e o Pirenópolis.doc, como exemplos de eventos importantes na área, que acontecem em Goiás.
“Até por volta de 2018 estávamos numa época de muito fomento nessa indústria. Muitas escolas de audiovisual, muitos festivais de vários formatos, cursos livres. Muita coisa estava acontecendo, mas infelizmente isso foi decaindo de uns anos para cá. Eu temo esse retrocesso”, diz.
Cinema e escola
Uliana aproveita para ressaltar a importância de leis de incentivo nessa área. “Mesmo diante de todas as dificuldades, estamos tentando produzir. Bom lembrar que tivemos um certo alento com a Lei Aldir Blanc. E sem esquecer das escolas de audiovisual, Universidade Estadual de Goiás (UEG) e o Instituto Federal de Goiás (IFG), que fazem muita diferença pra que haja cenário, produção, pesquisa, estudo, crítica e curadoria”, acrescenta a diretora.
A mesma opinião é compartilhada pela cineasta Julia Naidin, diretora do filme ‘Mar Concreto’, também exibido – e premiado – no Fica 2022. Ela destaca que é ideal o envolvimento de instituições de ensino com festivais de cinema.
“Mais do que nunca é primordial a gente pautar a questão ambiental. O cinema é um instrumento muito potente, pois ele é disseminador de ideias e informação. É muito legal ver o trabalho do FICA com as instituições de ensino de Goiás, com produções de altíssima qualidade feitas pelos próprios alunos. Essa relação fortalece a ambos”, diz.
Tem criança na sala
Outro ponto chamou a atenção da diretora durante o festival: a massiva presença das crianças. “Teve uma sessão especial infantil, o que achei maravilhoso, vitalizou muito a sala de cinema e certamente a experiência do cinema para as crianças é transformadora e determinante pra formação de público e formação de profissionais da cultura e arte de modo geral”, acrescenta Naidin.
Uliana Duarte é o próprio exemplo disso. Segundo a diretora, sua história com o audiovisual começou em festivais de cinema quando ela ainda era adolescente. “Foi de fundamental importância para que eu me aproximasse da área”, relembra.
“Esse filme só aconteceu porque tenho outro trabalho”
Para Julia Naidin a produção cinematográfica no Brasil é uma questão “dificílima”. Ela diz que, mesmo com ‘Mar Concreto’ sendo seu primeiro filme, observa o trabalho de outros profissionais da área e sabe da dificuldade que cada um enfrenta.
“Esse filme [Mar Concreto] só pôde acontecer porque eu tenho trabalho em outro campo, de onde eu tirei o dinheiro para a produção. Cinema no Brasil leva muito tempo e existem pouquíssimos editais, que ainda por cima não contemplam todas as pessoas que estão produzindo audiovisual, principalmente os trabalhos mais independentes, que muitas vezes atuam nas pontas que mais precisam desses instrumentos”, explica Naidin.
“O cinema existe muito por causa das colaborações, movimentos coletivos de resistência que levam a experiência do audiovisual em territórios que o cinema não chega. Eu passei o meu filme em territórios que não possuem sala de cinema e isso é muito importante para uma comunidade. Isso pode criar novas perspectivas, novos sonhos e novas relações sociais”, acrescenta.
Resistir e criar
Ainda sobre o audiovisual no Brasil, Uliana Duarte diz que teme pelo futuro. “As pessoas estão com muita dificuldade de concluírem seus projetos. Existem filmes que tiveram a produção iniciada há anos e que, por falta de incentivo e patrocínio, ainda não foram concluídos”, afirma.
“Além do fomento estatal, os festivais são o verdadeiro motor da indústria hoje. Temos que garantir que isso continue acontecendo e que aja mais festivais para a gente frequentar e desenvolver o cinema no Brasil”, conclui Uliana.
Julia Naidin termina celebrando o Fica, que para ela é mais que um festival, é um lugar de encontros e sabedoria. “O festival possibilita encontros para que a gente crie novas articulações e consiga produzir. A situação atual do cinema no Brasil é muito difícil, mas temos um povo que consegue resistir e criar”, finaliza.