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Filme sobre Britney Spears choca ao mostrar sua sexualização precoce

Documentário feito pelo jornal The New York Times está disponível agora no Globoplay

(Foto: Divulgação)

Não é preciso acreditar no movimento #FreeBritney, que pede que o pai de Britney Spears não seja mais o tutor da cantora, para tirar proveito do documentário “Framing Britney Spears: A Vida de Uma Estrela”.

O filme, feito pelo jornal The New York Times e disponível agora no Globoplay, compra teorias com cara de conspiratórias, mas também joga luz sobre os processos que levaram uma das maiores celebridades do planeta a ser considerada incapaz pela Justiça americana.

Desde quando despontou, ainda criança, cantando em programas de auditório, Britney Spears foi tratada com um machismo nada velado. O documentário mostra a cantora em diversos programas de TV, tendo de responder perguntas constrangedoras sobre seus seios ou sua virgindade.

A cena mais chocante talvez seja quando um apresentador pergunta a Britney, então uma pré-adolescente, se ela tinha namoradinhos, depois de dizer que ela tinha olhos lindos. “Garotos são maldosos”, ela responde, em 1992. “Eu não sou maldoso. O que acha de mim?”, ele retruca, deixando a garota sem graça.

Mais do que o diálogo impróprio, a cena revela como, desde muito cedo, ela esteve exposta a esse tipo de situação. Antes mesmo de ser conhecida como uma artista talentosa, Britney já era tratada como uma mulher atraente e rapidamente se tornaria um símbolo sexual.

Na virada de 1999 para 2000, ela era uma das maiores artistas do mundo, num cenário recheado de boy bands, como Backstreet Boys e N’Sync. A estrela desse segundo grupo, Justin Timberlake, formou com Britney Spears o casal mais falado dos Estados Unidos, mas o relacionamento durou pouco tempo.

Timberlake saiu com a imagem de que foi a parte injustiçada, assumindo o controle da narrativa e dando a entender que ela o teria traído. “Cry Me a River”, talvez o maior hit da carreira do cantor até hoje, é uma provocação direta a Britney, ainda que ele recentemente tenha pedido desculpas à ex.

Musicalmente, ela estava na linha de frente do pop, experimentando com o Auto-Tune e desenvolvendo uma estética que hoje ainda ecoa nos mais diversos artistas –Britney é influência inegável no hyperpop da britânica Charli XCX, no pop millennial da japonesa Rina Sawayama ou no brega-pop de Pabllo Vittar.

Na vida pessoal, ela estava no olho do furacão. Além das imagens impressionantes de fotógrafos se empurrando para conseguir um clique da cantora nas mais banais das atividades, “Framing Britney” traz uma entrevista reveladora com um paparazzo, que viveu esse auge do jornalismo de celebridades.

“Trabalhamos com ela durante anos. Ela nunca deu a impressão ou deu a entender que não gostava da gente e queria ficar em casa. Às vezes ela pedia para ficar em paz por um dia, mas nunca era para ficar em paz para sempre”, ele diz.

Britney Spears já havia encerrado o casamento relâmpago com Kevin Federline e brigava na Justiça pela guarda dos dois filhos. Foi quando os sorrisos simpáticos nas entrevistas desconfortáveis se transformaram no semblante marcante da cantora com a cabeça raspada, uma recusa da exploração de sua imagem que marcou seu apogeu e sua ruína.

O filme relembra o momento em que Britney, depois de tentar fazer uma visita proibida aos filhos na casa de Federline, parou num posto de gasolina. Ela foi encontrada pelos fotógrafos e, depois de implorar para que parassem, pegou o guarda-chuva e bateu no carro deles.

A partir dali, por volta de 2007, Britney passou a ser sinônimo de loucura e descontrole. Foi quando ela perdeu de vez a guarda dos filhos e acabou internada numa clínica de reabilitação até ser declarada incapaz pela Justiça.

Todo o processo de construção dessa Britney histérica e desgovernada é tão interessante quanto a história que vem a seguir. Jamie Spears, que era ausente e provocou a falência da própria empresa durante a infância da filha, assume o controle da vida pessoal, profissional e financeira de Britney.

Isso significa que, até hoje, ele controla o que e quando ela vai gravar ou quando vai fazer shows, para onde viaja ou o que compra, por exemplo. Britney Spears foi declarada incapaz até de escolher o próprio advogado. Ela voltou a trabalhar e a render lucros milionários, muito graças às intermináveis temporadas de shows em Las Vegas.

Desde o começo do processo, o documentário dá a entender que a cantora só aceitou essas condições para poder continuar com os filhos. E ela nunca quis que o pai fosse seu tutor, mas sim uma empresa independente.

A teoria que roda a internet, e que batizou a campanha #FreeBritney, é de que a cantora está presa nas garras do pai há 12 anos. E que ela manda mensagens secretas para denunciar a situação, seja em músicas demo que vazaram na internet, seja em postagens no Instagram.

Mesmo fazendo um esforço notável para reunir os personagens mais variados para contar a história da cantora, o filme ignora um nome essencial no drama, a mãe de Britney. Além disso, não é capaz de provar a teoria que levanta, de que nos últimos anos a artista não passa de uma marca, uma empresa tão grande que é explorada como uma máquina de fazer dinheiro.

“Framing Britney” vale por levantar a discussão sobre os impactos de uma mídia machista e obsessiva e de uma indústria parasita na carreira de uma estrela como Britney Spears.

É impossível dizer se ela –que hoje tem uma vida pessoal extremamente controlada- é realmente uma pessoa impossibilitada de tomar conta da própria vida. A sensação, ao fim do documentário, é a de que, se Britney realmente perdeu o controle sobre si mesma, ela tinha motivos para isso.

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