Fran Drescher, ex-The Nanny, volta em filme de Natal com temática gay
Quem acompanha séries desde os anos 1990, provavelmente já ouviu a voz esganiçada de Fran…
Quem acompanha séries desde os anos 1990, provavelmente já ouviu a voz esganiçada de Fran Drescher, 64, que de 1993 a 1999 deu vida à espalhafatosa protagonista da sitcom “The Nanny“. A atriz, que na verdade tem um tom de voz bem menos agudo, está de volta com o filme natalino “Encontro de Natal“, que tem exibição nesta terça-feira (21) às 19h20 no canal pago Lifetime.
Na trama, ela dá vida a Kate, a mãe casamenteira do advogado Hugo (Ben Lewis). Solteiro e morador de Nova York, ele retorna à cidade natal para passar as festas com a família. Lá, vai reencontrar sua primeira paixão adolescente, Patrick (Blake Lee), trazendo à tona sentimentos que ele achava ter superado.
Drescher, que é judia, garante que apesar de não ser uma tradição de sua religião, ela costuma comemorar o Natal e também adora os filmes com essa temática. “Eu celebro qualquer coisa que traga felicidade e una as pessoas ao redor de uma mesa”, diz em bate-papo com jornalistas da América Latina, do qual o F5 participou.
A atriz avalia que o filme traz um novo aspecto às produções do gênero. “Não é sobre um personagem gay saindo do armário ou sobre pais que não aceitam isso”, comenta. “A personagem tem um filho gay e um filho heterssexual e quer que ambos encontrem o amor e estejam em relações que os preencham. Eu gostei muito dessa perspectiva, é uma comédia romântica muito alegre na qual o par principal por acaso é do mesmo sexo.”
O filme foi dirigido (Pat Mills), roteirizado (Michael J. Murray) e produzido (Shane Boucher) por gays. Além disso, a atriz conta que os dois protagonistas também são casados na vida real. Ela diz ter ficado muito próxima de toda a equipe.
“O ator que interpreta meu filho faz aniversário no mesmo dia que eu, então comemoramos juntos no Canadá [onde o filme foi rodado]”, conta. “Nós viramos uma pequena família durante as gravações, não queríamos sair da bolha que criamos para ninguém se contaminar e termos que parar a produção.”
Ela diz que esse foi o primeiro trabalho que ela aceitou depois que a pandemia de coronavírus surgiu. Ela precisou fazer duas semanas de quarentena -que ela passou na casa do amigo Dan Aykroyd e da mulher dele, Donna Dixon- até poder começar a rodar.
Sobre por que a indústria do entretenimento demorou tanto a apostar em filmes natalinos com temática gay -além de “Encontro de Amor”, a Netflix lançou também neste ano o filme “Um Crush para o Natal”-, ela compara com outras evoluções da sociedade que também demoraram a ser mostradas na tela.
“Quando eu estava escrevendo o piloto de ‘The Nanny’, a emissora perguntou se eu podia fazer a personagem ser italiana, em vez de judia, porque era uma preocupação que uma atriz judia interpretando uma personagem judia não fosse tão bem recebida em certas partes dos Estados Unidos”, revela. A atriz diz que negou o pedido.
“Fico feliz de estarmos em uma época em que celebramos todos os relacionamentos diferentes, e isso inclui os casais do mesmo sexo”, afirma. “Acho que o último governo dos Estados Unidos era muito conservador e, por causa disso, muitos grupos foram às ruas gritar alto e com orgulho que têm o direito de estar aqui, isso inclui imigrantes, mulheres, estudantes, gays, transexuais… Todos os diferentes elementos que compõem a experiência humana devem ser celebrados.”
Aliás, a relação de Fran Drecher com a comunidade LGBTQIA+ vem de longa data. Além da própria personagem Fran Fine ser um ícone por suas roupas extravagantes e jeito afetado, a atriz foi casada com o roteirista Peter Marc Jacobson, co-criador de “The Nanny”, por mais de 21 anos -até ele se assumir gay. O divórcio foi muito respeitoso e ambos permanecem amigos até hoje.
Os dois inclusive voltaram a trabalhar juntos na sitcom “Happily Divorced” (2011-2013), sobre a amizade de um ex-casal cujo marido saiu do armário. “Era sobre a minha relação com o meu ex-marido gay”, conta. “Peter e eu somos melhores amigos, nos amamos, mas ele é gay, então não somos mais casados. Mas a série celebra essa amizade.”
“Eu falo constantemente a favor das liberdades civis para a comunidade gay e outros grupos marginalizados”, afirma. “É muito importante para mim usar meu status de celebridade para falar de assuntos que importam.”
Recentemente, ela foi eleita presidente nacional do SAG-AFTRA (o sindicato dos atores de cinema e televisão, entre outras categorias artísticas). Ela diz que pretende usar o cargo para lutar para tornar a indústria do entretenimento mais ambientalmente sustentável e também pelo fim do assédio sexual.
“Não quero que ninguém seja vítima de abuso sexual, acho que todas as vítimas precisam ser acolhidas e entenderem que, se elas denunciarem um predador sexual, isso não vai ser o fim da carreira delas”, diz. “Eu fui vítima de estupro a mão armada por um homem que estava em liberdade condicional, demora muito tempo para você voltar a se sentir segura depois de uma experiência assim.”
A atriz diz que até hoje não se sente à vontade sozinha, a não ser que esteja com seu cão de guarda. “As pessoas que são vítimas de violência sexual carregam isso por toda a vida, então tenho muito interesse em dar um exemplo de tolerância zero para outras indústrias.”
BROADWAY
Além de todas essas atividades -e de comandar uma organização de conscientização sobre o câncer, uma vez que ela teve câncer de útero–, a atriz também convive constantemente com a lembrança de sua personagem mais conhecida. Longe de querer se desvincular da Fran Fine de “The Nanny”, ela prepara uma adaptação da história para os palcos da Broadway.
“Sou muito orgulhosa e agradecida pelo contínuo sucesso da personagem e pela lealdade dos fãs ao longo dos anos”, afirma. “É algo que eu criei, produzi e estrelei, e que continua gerando acolhimento e amor, então vamos levá-la para a Broadway, trazendo todos aqueles personagens tão queridos de volta à vida.”
Drescher afirma ter aprendido muito com a personagem. “Tenho vivido ‘The Nanny’ há quase 30 anos”, surpreende-se. “Ela mudou a minha vida exponencialmente. Onde quer que eu vá no mundo as pessoas me recebem com afeto e me dão amor. Fran Fine me fez um ícone da moda e um ícone para os gays. Ela se tornou uma parte da minha vida.”
Ela diz que esse carinho dos fãs ainda é sentido por ela. “Ela faz as pessoas rirem, junta as famílias, eu sempre escuto que as pessoas assistem juntas quando alguém ficou doente ou está internado no hospital, para esquecer os problemas”, conta. “Também me falam muito que é o único momento em que toda a família se sentava junta na mesma atividade.”
“Isso faz meu coração transbordar de alegria”, afirma. “Sempre tentei proteger a personagem, não queríamos colocar coisas negativas ou para baixo na série. Ela até se colocava para baixo às vezes, mas nunca fazia isso com outras pessoas.”
A principal mensagem de Fran Fine, para ela, era a de igualdade. “Não importa como você aparenta ou como você soa, o que conta é que há no seu coração”, explica. “Isso é o que sempre fiz questão de colocar em cada episódio como uma mensagem subliminar.”
Para a adaptação para os palcos, ela diz que a maior dificuldade será encontrar uma atriz para o papel principal. “Tem que ser alguém engraçada, que consiga sustentar um guarda-roupa como o meu e que tenha uma excelente voz de canto”, diz. “Tenho certeza de que vamos descobrir alguém que o público vai amar e também que vai tornar a personagem dela.”
Mas isso significa então que Fran Drescher não estará nos palcos? “Estou desenvolvendo a ideia com o Peter e escrevendo o texto com a Rachel Bloom, de ‘Crazy Ex-Girlfriend’. Está ficando maravilhoso, mas não tenho planos de estar na peça”, avisa. “Peter disse que adoraria me ver como Sylvia [mãe de Fran], mas acho que o musical tem que se manter de pé sozinho, até para não atrapalhar quem for fazer a Fran. Então, desta vez, ficarei mais nos bastidores.”