Crítica

GLOW: apesar de divertida, série fica nas cordas

Nova comédia da Netflix demora a se soltar e desperdiça quase todo o potencial da sua premissa

Na última sexta-feira (23), a Netflix estreou sua nova comédia, GLOW, seriado com muito, muito potencial. Os motivos para tanto abundam: Alison Brie, veterana de CommunityMad Men como protagonista; produção de Jenji Kohan, de Orange is the New Black, série que acaba de emplacar a sua quinta temporada; uma premissa assaz interessante de explorar o cenário de pro-wrestling oitentista sob outra ótica.

Receita para o sucesso, não é mesmo? Sim, mas nem tanto. GLOW é uma série divertida, mas não consegue ir além disso e provavelmente vai espantar muita gente ainda nos seus primeiros episódios lentos e mal escritos. O programa se recupera em dados momentos e consegue se redimir em um elenco sólido, mas dificilmente verá uma segunda temporada.

Pra você que chegou agora, GLOW é uma sigla para um novo programa de TV, chamado Gorgeous Women of Wrestling, ou Lindas Mulheres da Luta-Livre. A série se passa em 1985 e acompanha a atriz fracassada Ruth Wilder (Brie) que vê no casting do programa sua última chance de sucesso e de manter suas contas em dia.

O que se segue é uma série de desventuras e também de progressão focadas em Ruth e nas demais 13 lutadoras, no diretor e no produtor desse possível novo programa da TV aberta.

O bom

De longe, a melhor coisa de GLOW é seu elenco. Alison Brie continua sendo uma atriz incrível e ao mesmo tempo mal-aproveitada neste seriado apesar de ser a protagonista. Mas ela não é a única que se destaca.

Assim como Orange is the New Black, as criadoras Liz Flahive e Carly Mensch miraram em uma história carregada pelas personagens. Embora muitas delas não sejam boas, seus intérpretes são excelentes.

Vale destacar com louvor Betty Gilpin. A atriz faz, de certa forma, a outra protagonista e também antagonista do seriado no papel de Debbie, a única atriz com algum reconhecimento entre as personagens e ex-melhor amiga de Ruth. Muito da trama é conduzido pela dinâmica de “melhores piores inimigas” entre as duas personagens.

Gilpin raramente consegue emplacar bons papéis apesar de ser uma ótima atriz e tira vantagem demais de cada segundo em cena. Em vários momentos ela consegue até mesmo ofuscar com facilidade a personagem de Brie, o que é muito interessante de se ver.

Marc Maron como Sam

Também merecem destaque Sydelle Noel, que faz a dublê negra Cherry Bang. A atriz rouba a cena com facilidade e faz com que Cherry se torne rapidamente uma das personagens mais gostáveis do seriado.

Por fim, vale destacar Marc Maron como o diretor fracassado de filmes B Sam Sylvia. Apesar do seu personagem ser caricato ao extremo, Maron domina inteiramente Sam, tornando-o um dos personagens mais corpóreos e bem executados do programa.

Fora o elenco, o que vale destacar da série são algumas boas piadas, boa edição e boa luta-livre: toda a temporada é uma rampa para os embates do season finale que são realmente bem divertidos de se ver.

O mau

Quando soube que era uma série de comédia sobre pro-wrestling, eu fiquei muito empolgado. Caras como Hulk Hogan, Stone Cold Steve Austin, The Undertaker, John Cena e Macho Man Randy podem não ser tão conhecidos do público brasileiro, mas se tornaram ícones das lutas acrobáticas. Alguns desses caras, como The Rock, até saíram do ringue para se tornarem atores de grande sucesso.

Então o mínimo que eu esperava era muita comédia e muita luta-livre e saí da temporada com migalhas das duas coisas. A série tem problemas séries de roteiro, especialmente no que diz respeito a expectativa e ritmo. A temporada parece lenta e mal-realizada. Apesar de ter apenas 10 episódios, alguns deles são completos fillers que nada conquistam para a trama.

Fora isso, as personagens são desperdiçadas. Todas são interessantes de alguma forma, mas acabam mal exploradas ou unidimensionais. Há muito a ser explorado em cada uma delas, mas isso não acontece. A profundidade e o desenvolvimento de personagem presente nas primeiras temporadas de Orange is the New Black, quando você está conhecendo aquelas personagens, é completamente ausente aqui.

Você quer saber mais, você tem curiosidade e perguntas, porque elas são interessantes, mas a série te nega isso e opta por se agarrar a uma trama mais linear e superficial.

O veredito

Com toda a sua premissa, trama e personagens, GLOW tinha tudo para ser uma série divertidíssima, engraçadíssima e ainda explorar profundamente todo um lado sério, criticando ativamente o machismo. Porém, a série nunca decola e todo seu potencial acaba, muitas vezes, desperdiçado.

Ao longo de seus dez episódios é possível vislumbrar tudo o isso e tudo o que o seriado pode alcançar, mas ele nunca emplaca. Tudo acaba muito raso, o que é uma pena: de novo, há muito potencial aqui, mas após uma primeira temporada tão qualquer coisa, dificilmente a Netflix irá se dignar a bancar uma segunda temporada.

A sensação que fica é de uma ideia muito boa que vai morrer na praia. Ou melhor, ir à nocaute no primeiro round.