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Goianos rebatem Ed Motta, que chamou fãs de hip hop de burros: ‘soberba precede a ruína’

Vídeo viralizou nas redes sociais onde o cantor diz que "qualquer um que ouve hip hop é burro"

Na última quarta-feira (12), um vídeo em que o cantor Ed Motta faz comentários polêmicos sobre o hip hop viralizou nas redes sociais. No vídeo, Ed Motta afirma que “qualquer um que ouve hip hop é burro”, o que desencadeou uma série de reações negativas tanto do internautas quanto de artistas ligados ao gênero.

Em entrevista ao Mais Goiás, o rapper Mano Cássio Garcia, a produtora Amábile Cabral e João Carlos Cordeiro, cofundador de um grupo de rap goiano, nomes conhecidos na comunidade hip hop goiana, comentaram as declarações de Ed Motta.

O rapper e compositor Mano Cássio Garcia lamentou as palavras do artista, afirmando que  “O artista em questão tem muito a aprender na vida… mas é difícil encher um copo que já está cheio! Ao longo da história, sempre tiveram pessoas que se sentiram superiores a outras, e infelizmente, esse não será o último caso de comentários discriminatórios e ofensivos que presenciaremos em vida”.

Garcia oferece ainda palavras de encorajamento aos que se sentiram afetados. “Mas se você tiver se sentido ofendido pelos comentários desnecessários do artista, lembre-se: ‘a soberba precede a ruína’. Somos fortes! E a música que amamos é parte de uma linda cultura que agrega muitos valores e continua a mudar o cenário global de maneira única e positiva. Muita paz e respeito a todos!”, conclui o rapper.

Amábile Cabral, produtora do Baile da Codorna, um projeto dedicado à democratização cultural em Goiânia, também se manifestou sobre as falas de Ed Motta, destacando a necessidade de engajamento do cantor e a desqualificação histórica da arte produzida pela periferia e pelo povo preto. 

“Ao ter acesso o infeliz pronunciamento de Ed Motta, senti a necessidade de refletir sobre pontos para além da sua soberba habitual e a sua aparente necessidade por engajamento. A priori, a desqualificação cultural da arte produzida pela periferia e pelo povo preto feita historicamente pela elite, nos gerou uma luta incessante pela democratização da cultura”, começou

Cabral comenta ainda sobre a necessidade de uma reflexão mais profunda acerca do movimento. “É necessário que estudemos os motivos que nos fazem depender da chancela elitista e dos critérios utilizados para definir o que é bom ou não culturalmente. O hip hop se trata de um movimento consolidado mundialmente, com mais de 50 anos de história e muito completo, abarcando em si cinco elementos de manifestação: música, dança, graffiti, DJs e MCs, e o conhecimento. Não se trata de mero estilo musical, mas de uma organização cultural, social e política que transformou e continua transformando vidas, através da propagação de consciência e representatividade. Nestes termos, continuamos nossa luta para difundir conhecimento e arte, no pique trem bala. Ed Motta, respeita a nossa história!”, finaliza.

João Carlos Cordeiro, cofundador do grupo de rap goiano Noiz por Noiz, conhecido como JC na comunidade, foi incisivo em sua crítica às declarações de Motta. “Ignorância pura, puro preconceito”, declarou JC, enfatizando que o hip hop é um movimento cultural munido de informação e que busca empoderar a periferia através da conscientização política e social.

“O hip hop mudou a situação política do mundo. Hoje, a periferia tem uma voz forte na luta pelos seus direitos”, destacou JC, reiterando a importância da cultura hip hop como um veículo de transformação social e resistência.