Leilão que promete mais um recorde para Tarsila pode ser barrado pela Justiça
Pintura é alvo de uma disputa judicial entre Carlos Eduardo Schahin e 12 bancos credores
Marcado para o próximo dia 17, o leilão da tela “A Caipirinha”, de Tarsila do Amaral, com preço inicial de R$ 47 milhões, promete levar a artista a quebrar mais um recorde, de obra mais cara de um artista brasileiro numa venda pública.
Até hoje, os detentores desse título eram Alberto da Veiga Guignard e Lygia Clark. O primeiro alcançou R$ 5,7 milhões com “Vaso de Flores”, em 2015. A segunda teve sua “Superfície Modulada Nº 4” arrematada por R$ 5,3 milhões em 2013. Os valores não foram corrigidos pela inflação.
Mas o leilão pode ser barrado pela Justiça. Isso porque a pintura é alvo de uma disputa judicial entre Carlos Eduardo Schahin, filho do empresário Salim Taufic Schahin, envolvido no escândalo da Lava-Jato, e os 12 bancos credores a quem seu pai deve mais de R$ 2 bilhões.
A venda do quadro seria uma forma de ajudar a sanar essa dívida. Mas Carlos Eduardo afirma que a obra foi vendido a ele pelo pai em 2012, por R$ 240 mil. Enquanto isso, os credores questionam a legitimidade da operação, dizendo que a obra nunca chegou a sair das mãos do Schahin pai.
Segundo um galerista que preferiu não se identificar, uma obra como esta custaria em torno de R$ 7 milhões naquele período.
Márcio Casado, advogado de Carlos Eduardo, afirma que entrará nesta quarta (9) com uma medida cautelar para impedir o leilão.
Ele diz que o recurso em que argumenta que a propriedade de “A Caipirinha” pertence a Carlos Eduardo, e não a Salim, foi admitido para ser enviado ao Supremo Tribunal de Justiça, o STJ, na semana passada. “Meu recurso nunca esteve tão vivo quanto agora”, afirma.
O escritório que representa os bancos credores, Gustavo Tepedino Advogados, declara, em nota, que ao menos duas decisões anteriores do Tribunal de Justiça de São Paulo autorizam o leilão.
Esta seria a segunda vez em que o leilão seria impedido. Em agosto, um recurso impetrado por Casado afirmava que o perito tinha cometido erros técnicos na avaliação da obra fez com que o evento fosse suspenso. O recurso foi negado no mês passado.
Pintado em 1923, quando Tarsila vivia com Oswald de Andrade em Paris, “A Caipirinha” é considerada “a primeira obra realmente moderna” do país, segundo o diretor da Bolsa de Arte, Jones Bergamin.
Por isso, e apesar de o valor inicial de R$ 47 milhões ser um recorde por si só, o montante é considerado baixo para a artista.
No ano passado, “A Lua”, de sua autoria, foi vendida para o MoMA por em torno de US$ 20 milhões, ou quase R$ 75 milhões –os valores são estimados pelo mercado, já que a transação não foi divulgada oficialmente.
Mais recentemente, uma tela menos conhecida da artista, também do seu período áureo, foi posta à venda por US$ 7 milhões ou cerca de R$ 36 milhões numa feira online.
Além disso, é raro aparecer uma obra dessas no mercado, segundo Bergamin. “Seria a cereja no bolo de uma coleção”, diz o marchand.