Crítica

Liga da Justiça: juntos chegaremos lá?

Em 2012, após quatro anos da estreia de Homem de Ferro, a Marvel apostou todas as…

Em 2012, após quatro anos da estreia de Homem de Ferro, a Marvel apostou todas as suas cartas em Os Vingadores. E valeu a pena. Agora, quase 10 anos depois, a DC Comics e a Warner correm atrás do prejuízo com Liga da Justiça e com uma estrada bem mais pedreira.

Após duas bombas seguidas: Esquadrão SuicidaBatman v. Superman, os fãs da DC estavam, digamos assim, DCéticos: será que o prometido universo cinematográfico tinha salvação? Veio então Mulher-Maravilha, facilmente um dos melhores filmes de super do ano e a esperança voltou.

Valeu esperar? Bom, depende de quem você é.

É um filme adequado, padrão, cheio de ação e algumas piadas bacanas, mas não vai muito além disso nem desbrava nenhum terreno novo. Tudo o que o filme faz, a Marvel já fez, o que não significa que não é divertido.

A maior parte dos DCnautas com quem conversei amou o filme, afinal, esperam para ver a Liga junta na tela desde sempre, então ser fã provavelmente vai te ajudar e muito a digerir este longa.

Liga da Justiça é dirigido por Zack Snyder, mas passou por extensas regravações com Joss Whedon, diretor dos dois filmes d’Os Vingadores. Com menos de duas horas de duração, a trama tem como vilão central o Lobo da Estepe, um ser cósmico super-poderoso e emissário de Darkseid que veio destruir a Terra.

Cabe ao Batman (Ben Affleck), à Mulher-Maravilha (Gal Gadot), ao Flash (Ezra Miller), ao Aquaman (Jason Momoa) e ao Ciborgue (Ray Fisher) salvarem o dia em pouco mais de 90 minutos. Será que eles conseguem?

O bom

A primeira diferença em relação aos últimos filmes da DC (com exceção de Mulher-Maravilha) é o tom. Sim, o mundo está prestes a acabar, mas Liga da Justiça é leve, tão leve que beira o matinal Super-Amigos. Depois de três horas de escuridão em Batman v. Superman, isto é um alívio.

E é difícil não mencionar BvS: a sombra dos erros daquele filme estão por toda parte aqui, tornando Liga quase um retcon suave e se sai bem nesse sentido a maior parte do tempo.

Individualmente, Ben Affleck continua impressionante como o Batman e como Bruce Wayne, encarnando de verdade o personagem e Gal Gadot entrega a mesma Mulher-Maravilha que vimos no primeiro semestre. Ezra Miller não ficou muito atrás com o Flash. Embora seu personagem seja o alívio cômico (às vezes até na marra), dá pra ver que a Warner investiu na pegada do “Aranha da DC” e de modo geral deu certo, resultando em um personagem divertido e uma atuação no ponto.

Ray Fisher também impressiona como Ciborgue. O personagem é facilmente o menos conhecido desta formação da Liga e o filme consegue colocá-lo no centro. O que ajuda muito nisso é que Fisher entrega uma atuação e tanto, emulando um pouco a Criatura de Frankenstein. Foi uma bela estreia e espero ver mais do ator e do personagem no futuro.

A presença de Joss Whedon, mesmo não creditado, se faz sentir. Existem várias piadas em Liga da Justiça com a assinatura do diretor por toda parte. Às vezes elas não encaixam, mas em muitas cenas elas salvam o tom leve do longa.

Liga da Justiça tem como seu principal trunfo ser divertido. Embora algumas cenas não encaixem, há pelo menos duas grandes cenas de ação que são incríveis e bem montadas com momentos que ficarão gravados na memória.

A mais marcante pra mim é quando todos os cinco precisam enfrentar outro super-herói fora de controle. É a cena que vale o ingresso, fácil. Outra coisinha legal são as referências espalhadas pelo filme. Por exemplo, a música do Batman de Tim Burton (1989) e do Superman – O Filme (1978) tocam rapidamente em alguns momentos-chave e em outro momento uma certa tropa que usa anéis de poder faz uma rápida aparição. Pra quem é fã, são momentos excelentes.

O ruim

O que acontece quando você precisa fazer cinco personagens que mal se conhecem trabalhem juntos em um filme com menos de 2h? Você faz um filme corrido. Tudo em Liga da Justiça é corrido e, mesmo com o tom leve, isto prejudica seriamente a narrativa. Em uma cena o personagem está hesitante apenas para voltar atrás duas cenas depois, mesmo se o filme estabelece que dias se passaram, isso não afeta a percepção do público.

O diálogo também não é dos melhores e dá pra ver que o roteiro foi escrito e re-escrito várias vezes. Em uma cena o Batman está todo sombrio falando sobre o fim do mundo (bem ao estilo Snyder) para pouco depois ele estar fazendo piadinhas sobre não ter poderes (bem Joss Whedon). É impossível negar a presença dos dois cineastas em tudo do filme, o que lhe dá vários aspectos ambivalentes.

Individualmente, o único membro da Liga que me decepcionou foi Momoa como Aquaman. O ator entrega uma performance travada para o Senhor de Atlântida. Enquanto Ciborgue e até o Flash trazem uma presença de responsabilidade para a mesa, o Arthur de Momoa parece que meio que só está lá. A maior parte do tempo, o ator parece que só existe pra tirar a camisa e não pra entregar falas e emoções.

O que leva a um problema grave: a falta de química. Ben Affleck e Gal Gadot se salvam e o fato de que seus personagens já se conhecem ajuda muito, mas como o filme é corrido, é difícil vender a ideia de que estes personagens se gostam e confiam uns nos outros. O resultado são piadas e cenas de camaradagem que não convencem e algumas interações que beiram o constrangedor.

Mas tudo isto nem é o maior problema do filme. O maior problema tem nome: Lobo da Estepe. O personagem poderia ser facilmente substituído por um recorte de papelão ou um boneco do posto. Além de ser um monstrengo de CGI ruim, Lobo da Estepe tem tanta personalidade quanto uma porta e motivações absurdamente risíveis: ele veio destruir a Terra porque ele destrói mundos, é o que ele faz.

O personagem está, literalmente, batendo ponto. É muito decepcionante, ainda mais se comparado ao Loki em Os Vingadores e mesmo ao insuportável Lex Luthor de Jesse Eisenberg: ele, pelo menos, tinha o traço marcante de ser chato demais.

Combinado a isso temos o excesso de CGI. Este filme é pesado demais em computação gráfica, com direito até mesmo a cenários inteiros feitos de CGI que podiam muito bem terem sido filmados em locação ou estúdio, como Gotham e até a fazenda de Martha Kent, no Kansas. Em vários momentos assim a tela verde é extremamente perceptível.

O que ajuda a estragar o terceiro grande defeito: a batalha final e suas implicações. Você viu quase tudo nos trailers: uma batalha genérica em uma cidade russa genérica contra um exército de CGI genérico. É tudo tão genérico que é impossível superar o clichê e se importar.

Se você quer saber quão ruim é, podemos comparar com um filme ruim da Marvel: Os Vingadores: Guerra de Ultron. Muito desta última parte do filme, incluindo seu vilão-porta, se aproxima demais da chatíssima última hora de Sekóvia.

O veredito

Liga da Justiça é um filme divertido, mas não é muito mais que isso. Ainda impregnado com vários erros repetidos da DC (excesso de CGI, roteiro truncado, filme corrido, vilão ruim), a Warner ainda impede que os maiores heróis da Terra cheguem ao seu devido potencial.

Não é um filme ruim ou péssimo, longe de Esquadrão Suicida ou Batman v. Superman, mas infelizmente é um longa que não passa do adequado ou do assistível, bem abaixo do que deveria. Pelo lado bom a Liga agora está reunida e o universo estabelecido: daqui pra frente a Warner só precisa mandar brasa e, tudo indica, finalmente colocar bons vilões pra jogo e adicionar outros heróis à equipe.

Estamos no aguardo do Shazam, programado pra 2019, e do ainda não anunciado Lanterna Verde porque, convenhamos, já passou da hora. Até lá permanecemos, ainda, DCéticos.